Pelo menos 20 mil bebês nasceram no enclave palestino desde o início do conflito entre Israel e Hama (Ashraf Amra/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 15h08.
A cada dez minutos, um bebê nasce na Faixa de Gaza, informou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), nesta sexta-feira, 19.
A agência denunciou que essas crianças têm vindo ao mundo em meio a condições "inconcebíveis" no enclave palestino, palco da guerra entre Israel e Hamas, iniciada no dia 7 de outubro. Desde então, em pouco mais de 100 dias de conflito, quase 20 mil crianças nasceram.
— Virar mãe deveria ser um momento de celebração. Em Gaza, é uma nova criança nascendo no inferno — afirmou a porta-voz da agência, Tess Ingram, aos jornalistas, em Genebra, por videoconferência. — Ver recém-nascidos sofrendo, enquanto algumas mães sangram, deveria tirar nosso sono.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas após o ataque do grupo terrorista contra seu território, em outubro. A agressão deixou 1,2 mil pessoas mortas, a maioria civis, e outras 250 foram levadas como reféns para Gaza, segundo as autoridades israelenses. Em resposta, o Estado judeu tem orquestrado uma ofensiva aérea e terrestre, que matou mais de 24 mil palestinos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas desde 2007.
A pasta afirma que mais da metade (70%) das vítimas são mulheres, crianças e adolescentes. A taxa de mortalidade infantil no enclave palestino no momento é desconhecida, observou a funcionária, acrescentando contudo que “é seguro dizer que as crianças estão morrendo agora por causa da crise humanitária no local, bem como por causa das bombas e balas."
Ingram, que falava do Omã e teria realizado uma recente visita à Faixa de Gaza, também descreveu encontros "desoladores" com mulheres presas no caos. Uma delas é Mashael, que estava grávida quando sua casa foi atingida por um bombardeio. Seu marido ficou soterrado nos escombros por dias e seu bebê parou de se mexer.
— Ela diz que agora, um mês depois, tem certeza de que o bebê está morto, [mas] continua aguardando atendimento médico — explicou Ingram, lembrando que Mashael teria dito que é melhor "um bebê não nascer neste pesadelo".
A porta-voz também contou a história de uma enfermeira chamada Webda, que disse ter feito cesarianas de emergência em seis mulheres mortas nas últimas oito semanas.
— As mães enfrentam desafios inimagináveis para acessar atendimento médico, nutrição e proteção adequados antes, durante e após o parto — denunciou, acrescentando: — A situação das grávidas e dos recém-nascidos na Faixa de Gaza é inconcebível e exige ações mais intensas e imediatas.
Em meio aos bombardeios e o "cerco total", implementado dois dias após o ataque terrorista, Gaza vive uma crise na saúde, com unidades suspendendo boa parte de suas atividades, além da falta de medicamento, água e eletricidade. Metade dos hospitais estão fora de serviço. Ingram disse que o hospital dos Emirados Árabes Unidos, em Rafah, cidade no sul do enclave palestino, agora atende a grande maioria das grávidas de Gaza.
— A equipe, em condições saturadas e com recursos limitados, é obrigada a dar alta às mães três horas após uma cesariana. Essas condições colocam as mães em risco de abortos, natimortos, partos prematuros, mortalidade materna e trauma emocional — explicou.
A agente também denunciou que mulheres grávidas, lactantes e crianças vivem em "condições desumanas, até mesmo em abrigos improvisados, com nutrição deficiente e água insalubre", e que as condições críticas colocam "cerca de 135 mil crianças menores de dois anos em risco de desnutrição grave". Concluiu pedindo uma trégua no conflito:
— A humanidade não pode permitir que esta versão distorcida da normalidade persista por mais tempo. Mães e recém-nascidos precisam de um cessar-fogo humanitário.
Na madrugada desta quinta-feira, uma remessa com 61 toneladas de ajuda humanitária entrou em Gaza, após a implementação de um acordo mediado por Catar e França, que permite enviar medicamentos aos reféns do Hamas, em troca de ajuda para os habitantes do território palestino. A ONU estima que 80% dos 2,4 habitantes do enclave palestino estão deslocados e enfrentam uma crise humanitária.