Salvini e Le Pen: primeiro-ministro italiano e deputada (Alessandro Garofalo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2019 às 06h15.
Última atualização em 20 de maio de 2019 às 06h27.
A ultra-direita europeia suavizou seu discurso e se uniu em uma aliança continental para tentar alterar a Europa por dentro, como deve ficar claro nos próximos dias. Essa semana, de quinta-feira, 23, ao domingo, 26, acontecem as eleições para o Parlamento Europeu. Em primeiro plano, será um embate entre os políticos de direita nacionalistas e os defensores de uma Europa unida; em segundo, há o problema dos britânicos, que participam do pleito três anos depois de terem decidido deixar o bloco.
A votação para o Parlamento é importante pois é a única forma direta de o povo escolher seus representantes na União Europeia. Os parlamentares eleitos são responsáveis por escolher o presidente da Comissão Europeia, que atua como chefe do Executivo, e aprovar as leis que vigorarão para todos os 28 países membros. Hoje, o órgão é composto por 751 assentos, distribuídos pelas nações com base em sua população. Alemanha, com 96 parlamentares, possui a maior bancada, enquanto Malta, Luxemburgo, Estônia e Chipre possuem somente seis lugares na Casa.
Desde 1999, o centro-direitista Partido Popular Europeu possui o maior número de representantes. O objetivo dos aliados de ultra-direita, liderados pelo primeiro-ministro italiano Matteo Salvini, é quebrar com essa dominância e tornar seu grupo um das forças dominantes. No último sábado, 18, em ato em Milão, Salvini rebateu as críticas de que seu o grupo era extremista, racista e fascista e afirmou que “fascistas foram os que governaram a Europa pelos últimos 20 anos em nome da pobreza e da precariedade”.
Além de Salvini, compareceram ao comício Marine Le Pen, deputada do Parlamento e líder da Frente Nacional francesa; Geert Wilders, do Partido da Liberdade Holandês; Anders Vistisen, do Partido Popular dinamarquês e Jörg Meuthen, do alemão Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla original). Seus discursos combinam uma retórica de combate à imigração ilegal, com o objetivo de “proteger a civilização europeia”, enquanto atacam os defensores da União Europeia, como o presidente francês Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel e Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia.
As últimas pesquisas de opinião mostram que a aliança de direita pode levar até 180 assentos no Parlamento Europeu, o que dificultará certamente a aprovação de propostas dos políticos de centro-direita e centro-esquerda, que terão sua participação reduzida na Casa. Além disso, o grupo de Salvini terá grande poder de influência na escolha dos sucessores de Juncker, de Donald Tusk, presidente do Conselho e de Mario Draghi, chefe do Banco Central Europeu.
Para o Reino Unido, que, depois de Alemanha, Itália e França, possui o maior número de parlamentares, a eleição é mais um capítulo de surrealismo político. Em 2016, o país aprovou sua saída do bloco, mas a primeira-ministra Theresa May ainda não foi capaz de aprovar um acordo no Parlamento britânico autorizando a retirada. Agora, três anos depois, o povo terá de escolher legisladores que devem deixar o mandato de cinco anos muito antes do final do período. A não ser, claro, que o Brexit continue enrolado até 2024. No atual angu político da Europa, tudo é possível.