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Ucranianos protestam ante o Parlamento

O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, pediu perdão pela repressão policial e disse que "o presidente e o governo lamentam profundamente"


	Manifestante em confronto: Casa Branca considerou que se tratava de manifestações pacíficas duramente reprimidas
 (AFP)

Manifestante em confronto: Casa Branca considerou que se tratava de manifestações pacíficas duramente reprimidas (AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2013 às 15h06.

Kiev- Milhares de ucranianos protestaram nesta terça-feira ante o Parlamento, em Kiev, pedindo a renúncia do governo, encurralado por uma mobilização popular que não cede desde que o mesmo rejeitou se associar à União Europeia (UE).

"Vergonha!", gritavam os presentes, que seguravam bandeiras ucranianas ante a Rada (Parlamento), protegida por um cordão de centenas de agentes das forças de segurança.

Após uma manifestação que reuniu 100.000 pessoas no domingo, a oposição pediu a saída do Governo, que desistiu de assinar um acordo de associação com a UE em uma cúpula em Vilnius na semana passada e optou por uma aproximação com a Rússia.

O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, pediu nesta terça-feira perdão pela repressão policial e disse que "o presidente e o governo lamentam profundamente".

Em outro gesto conciliador, o presidente do Parlamento, Volodymir Rybak, anunciou que incluiria na ordem do dia desta terça-feira a moção de censura ao governo, como exigia a oposição.

Mas a moção, apresentada por três grupos da oposição, foi rejeitada na votação.

O grupo majoritário na assembleia é o Partido das Regiões, do presidente Viktor Yanukovich, que não participou na votação.

"O que exigimos é, primeiro, votar um texto sobre a saída do governo e posteriormente submeter à votação a libertação (da ex-primeira-ministra Yulia) Timoshenko e de três militantes detidos ilegalmente", declarou na segunda-feira um dos líderes da oposição, Arseni Yatseniuk, próximo a Timoshenko, que cumpre uma condenação de sete anos de prisão por abuso de poder.

"Vamos votar a saída deste governo de bandidos", advertiu o ultranacionalista Oleg Tiagnibok durante um comício na noite de segunda-feira.


"Ficaremos até a vitória"

Mais de mil pessoas passaram a madrugada desta terça-feira na praça da Independência, comprovaram jornalistas da AFP. A maioria delas se concentrou na manhã desta terça-feira em torno do Parlamento, junto a milhares de manifestantes.

"Estamos aqui para fazer a revolução. Ficaremos até a vitória, não temos medo de nada", afirmou à AFP Anatoli Krilushin, de 65 anos, que chegou há três dias de Berdychiv (oeste) e acusa o governo de ter traído o povo.

"Nos manifestamos pela democracia", explicou Mata Mikitich, uma jovem de 21 anos que viajou de Lviv (oeste) até a capital ucraniana.

A oposição se mobilizou após a decisão do Governo de não assinar um acordo de associação com a UE que estava sendo preparado durante meses, para tomar uma posição mais favorável à Rússia.

Trata-se de uma mobilização sem precedentes desde a Revolução Laranja de 2004, que derrubou o governo e levou ao poder políticos pró-ocidentais nesta ex-república soviética.

"O que ocorre apresenta todos os sinais de um golpe de Estado", denunciou na segunda-feira o primeiro-ministro Azarov, declarando também que estava sendo preparado um ataque ao Parlamento, sem fornecer mais detalhes.

O presidente russo, Vladimir Putin, que desempenhou um papel decisivo para dissuadir Kiev de assinar o acordo com a UE, afirmou que os protestos foram preparados a partir do exterior e sustentou que "parecem mais um pogrom que uma revolução".

A Casa Branca, pelo contrário, considerou que se tratava de manifestações pacíficas duramente reprimidas.


O presidente Yanukovich reconheceu em uma entrevista a várias televisões ucranianas que as forças de segurança foram muito longe no uso da força contra os manifestantes.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou na segunda-feira "todas as partes a agirem com moderação, a evitar novos episódios de violência e respeitar os princípios de liberdade de expressão e de reunião pacífica", declarou seu porta-voz, Martin Nesirky.

O presidente, que viajará em breve a Moscou para assinar um "mapa do caminho de cooperação", sugeriu que a integração europeia ainda estava sobre a mesa e pediu ao presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que receba uma delegação ucraniana para discutir "certos aspectos do acordo de associação" que Kiev rejeitou assinar na semana passada.

Também nesta terça-feira, um funcionário do Departamento de Estado americano denunciou as pressões da Rússia à Moldávia e à Geórgia, países que assinaram na semana passada acordos de associação com a UE similares ao que a Ucrânia rejeitou assinar.

"Fomos muito claros com os russos: não vemos nenhuma razão para considerar a decisão da Moldávia e da Geórgia de selar acordos preliminares com a UE como um jogo de soma zero. Pensamos inclusive que este tipo de manobra é contraproducente", declarou este diplomata.

"Se os vizinhos da Rússia enriquecem com a liberalização e o aumento dos intercâmbios com a UE, poderão comprar igualmente mais bens da Rússia e formarão uma periferia mais estável", argumentou o funcionário.

O diplomata denunciou as pressões das quais a Moldávia é alvo por parte de seus "grandes vizinhos" desde a assinatura com a UE no dia 29 de novembro dos acordos de associação e de livre comércio, assim como fez a Geórgia.

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