Presidente da Rússia, Vladimir Putin. (Sputnik/Aleksey Nikolskyi/Kremlin/Reuters)
Da redação, com agências
Publicado em 28 de dezembro de 2021 às 12h01.
Em uma área florestal próxima à capital da Ucrânia, Kiev, tropas russas falsas cercam os reservistas do exército ucraniano, com uniformes de camuflagem.
Os aspirantes a soldados, que incluem arquitetos e pesquisadores, respondem aos tiros com réplicas de fuzis Kalashnikov, enquanto granadas de fumaça explodem ao redor.
"Acredito que todos neste país devem saber o que faze... caso o inimigo invada o país", declarou à AFP Daniil Larin, estudante universitário de 19 anos, durante uma pausa no treinamento.
Larin é um dos 50 civis ucranianos que viajaram de Kiev até uma fábrica soviética de cimento abandonada para treinar durante o fim de semana e aprender como defender seu país de uma possível invasão russa.
Dezenas de civis alistaram ao exército de reservistas da Ucrânia nos últimos meses, diante do medo de invasão da Rússia, que Kiev acusa de concentrar 100.000 soldados em suas fronteiras.
Com 215.000 militares, o exército ucraniano enfrenta desde 2014 um conflito com os separatistas pró-Rússia do leste do país, uma guerra que já provocou 13.000 mortes.
Moscou nega qualquer plano de invasão, mas o presidente russo, Vladimir Putin, não descarta uma resposta militar se a Otan, organização que a Ucrânia deseja integrar, persistir com sua expansão para o leste.
O corpo de reservistas ucraniano, que alcançou 100.000 membros, aprende "como usar armas, como deve comportar-se no campo de batalha, como defender cidades", explica Larin à AFP.
Marta Yuzkiv, médica de 51 anos, acredita que o exército russo é "amplamente superior" ao da Ucrânia, mas que o risco de uma escalada militar é "muito alto" e justifica a adesão aos reservistas.
"Só teremos uma chance se estivermos todos preparados para defender nossa terra”, disse.
Desde que se uniu aos reservistas em abril, Yuzkiv treina várias horas a cada domingo: ela fornece assistência médica, atira com os fuzis e cria pontos de controle.
O exército forneceu um uniforme militar, mas ela comprou o capacete, o colete à prova de balas e óculos táticos com o próprio dinheiro.
Seu grupo de aprendizes é parte de um batalhão treinado para defender Kiev em caso de ataque contra a capital da Ucrânia.
Vadym Ozirny, comandante de batalhão, explica que após uma reunião em um ponto de encontro, os reservistas devem trabalhar para proteger edifícios administrativos e infraestruturas críticas, assim como ajudar na retirada dos moradores.
"Com o equipamento, as armas e as ordens de comando, estas pessoas devem ter a capacidade defender sua casa", afirma Ozirny.
Denys Semyrog-Orlyk, um dos reservistas mais experientes, disse que está preparado para enfrentar a uma ofensiva real.
"Há oito anos, estou vivendo com o pensamento de que, até que consigamos dar um bom golpe na cara da Rússia, eles não nos deixarão em paz", disse o arquiteto de 46 anos à AFP.
"Entendo perfeitamente que sou um soldado. Posso ser convocado e tenho atuar como um militar", completou.
As negociações com os Estados Unidos sobre a demanda de Moscou por garantias ocidentais que impeçam a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para a Ucrânia começarão imediatamente após o recesso de ano-novo na Rússia, previsto para terminar em 9 de janeiro.
"É com os EUA que vamos realizar o principal trabalho de negociações, que acontecerá imediatamente após o fim do feriado de ano-novo", disse o chanceler russo, Serguei Lavrov, em entrevista na segunda-feira, 27. O dia 10 de janeiro é o primeiro dia útil do ano na Rússia.
No início deste mês, Moscou apresentou projetos de documentos de segurança exigindo que a Otan negasse a adesão à Ucrânia e a outros países da ex-União Soviética e retrocedesse os posicionamentos militares da aliança na Europa Central e Oriental.
Washington e seus aliados se recusaram a fazer tais promessas, mas disseram que estão prontos para as negociações.
As demandas, contidas em uma proposta de um tratado de segurança entre Rússia e EUA e um acordo de segurança entre Moscou e a Otan, foram redigidas em meio a tensões crescentes sobre o aumento de tropas russas perto da Ucrânia, que alimentou temores de uma possível invasão.
A Rússia negou ter planos de atacar seu vizinho, mas pressionou por garantias legais que descartariam a possibilidade de expansão da Otan e o posicionamento de armas no país.
O presidente Vladimir Putin, na semana passada, em sua entrevista coletiva anual, elogiou o que descreveu como uma resposta "positiva" dos EUA às propostas russas. No domingo, ele disse que iria agir de acordo com as recomendações de seus especialistas militares se as negociações com os EUA e a Otan fracassarem.
Lavrov disse na semana passada que, além das negociações com os EUA, Moscou iniciará conversações separadas com a Otan sobre o assunto, bem como com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
"É importante que nossas propostas não acabem em discussões intermináveis, pelas quais o Ocidente é famoso e sabe fazer, que haja um resultado de todos esses esforços diplomáticos", afirmou Lavrov na segunda-feira.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, decidiu convocar uma reunião do Conselho Otan-Rússia em 12 de janeiro, disse um oficial da Otan no sábado, acrescentando que o bloco estava em contato com a Rússia sobre a reunião.
O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, confirmou na segunda-feira que a reunião ocorrerá, classificando as negociações com a Otan como "importantes", mas disse que os detalhes da reunião estão "em andamento" e a data ainda não foi confirmada.
(Com AFP e Estadão Conteúdo)