Mundo

Ucrânia ratifica acordo histórico de associação com a UE

Ratificação foi anunciada pouco depois da aprovação em Kiev de leis que garantem maior autonomia às regiões pró-Rússia do leste do país

O presidente Petro Poroshenko agradece aos deputados do Parlamento Europeu após a ratificação do acordo (Genya Savilov/AFP)

O presidente Petro Poroshenko agradece aos deputados do Parlamento Europeu após a ratificação do acordo (Genya Savilov/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2014 às 15h20.

Kiev - A Ucrânia e a União Europeia (UE) ratificaram nesta terça-feira um histórico Acordo de Associação que concretiza o distanciamento da Rússia desta ex-república soviética, que sofre no leste com um forte movimento separatista pró-Rússia.

A ratificação foi anunciada pouco depois da aprovação em Kiev de leis que garantem maior autonomia às regiões pró-Rússia do leste do país e preveem eleições para 7 de dezembro, assim como uma anistia para os soldados e os insurgentes que se enfrentam nesta região há cinco meses.

Um "vice-primeiro-ministro" da autoproclamada República de Donetsk, Andrei Purguine, reiterou que a região industrial de Donbass, reduto dos separatistas, "não tem mais nada a ver com a Ucrânia" e se limitou a dizer à AFP que os líderes rebeldes vão "estudar atentamente" o texto adotado.

"Talvez poderemos iniciar um diálogo (com Kiev) sobre alguns pontos, principalmente econômicos e sócio-culturais", acrescentou.

Nas ruas de Donetsk, os anúncios de Kiev parecem surpreender os habitantes que têm dificuldades de compreender sutilizas semânticas. "O futuro, para nós, é difícil imaginar, nenhuma das partes quer negociar verdadeiramente", lamentava Andri, de 41 anos.

Acordo simbólico

Diante do Parlamento, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, considerou que a adoção do Acordo de Associação, aprovada pelos 355 deputados presentes, significa um primeiro passo para a adesão à União Europeia (UE).

"A votação de hoje é a eleição da civilização da Ucrânia. Ucrânia é Europa", disse o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk.

O Parlamento Europeu reunido em Estrasburgo (leste da França) ratificou este acordo com 535 votos a favor, 127 contra e 35 abstenções.

"Este é um momento histórico", disse o presidente da Eurocâmara, Martin Schulz.

O acordo, que inclui capítulos políticos e econômicos e que foi assinado em junho, continua sendo até o momento meramente simbólico, já que os aspectos comerciais não entrarão em vigor até dezembro de 2015 para ter tempo de discutir com a Rússia, que se opõe aos seus termos.

O adiamento - estabelecido na sexta-feira com um acordo entre Kiev, Bruxelas e Moscou - provocou mal-estar na Ucrânia, onde a concessão ao Kremlin lembra os acontecimentos do fim de 2013, quando, também sob pressão de Moscou, o então presidente Viktor Yanukovytch rejeitou no último minuto assinar este mesmo Acordo de Associação.

O Parlamento ucraniano havia adotado mais cedo nesta terça-feira com 277 votos a favor um projeto de lei sobre um status especial de Donetsk e Lugansk, rejeitado pelos separatistas, e sobre a organização de eleições locais no dia 7 de dezembro.

Estas questões figuravam no protocolo de cessar-fogo assinado no dia 5 de setembro em Misnk.

Kiev prevê estabelecer um governo autônomo provisório de três anos a partir da adoção do texto em nível "de distritos, conselhos municipais, conselhos locais" nas regiões de Donetsk e Lugansk.

Kiev afirma que estas propostas abrem caminho para uma descentralização, garantindo "a soberania, a integridade territorial e a independência" da Ucrânia.

Os deputados ucranianos também adotaram uma lei de anistia para os "participantes nos acontecimentos em Donetsk e Lugansk", incluindo tanto os insurgentes quanto os soldados.

Quase 30 mortos desde 5 de setembro

Embora Poroshenko tenha comemorado na semana passada um relaxamento da tensão em terra, nos últimos dias continuaram sendo ouvidos em Donetsk disparos de artilharia, o que enfraquece ainda mais a trégua para acabar com o conflito que já deixou mais de 2.700 mortos.

A prefeitura de Donetsk anunciou nesta terça-feira que três pessoas morreram na segunda-feira e cinco ficaram feridas nesta cidade, enquanto outra morreu na próxima Makivka. Até o momento não se sabia a origem dos disparos que provocaram estas mortes.

As duas partes beligerantes trocam acusações sobre o rompimento do cessar-fogo.

Segundo contas estabelecidas pela AFP com base em números oficiais do exército ucraniano e autoridades locais, quase 30 pessoas - 16 soldados e 12 civis - morreram em combates desde a entrada em vigor do cessar-fogo.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEuropaRússiaUcrâniaUnião Europeia

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia