Agência de Notícias
Publicado em 5 de março de 2025 às 06h53.
Última atualização em 5 de março de 2025 às 08h28.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu aos Estados Unidos, em seu discurso à nação na noite desta terça-feira, que esclareçam oficialmente se decidiram parar de enviar armas para a Ucrânia. Os EUA têm sido o maior fornecedor de ajuda militar à Ucrânia desde o início da invasão da Rússia e, até o momento, destinaram US$ 65,9 bilhões em apoio militar.
"As pessoas não deveriam ter que fazer suposições. Ucrânia e Estados Unidos merecem um diálogo respeitoso e uma posição clara entre si, especialmente quando se trata de proteger vidas durante uma guerra em grande escala", disse Zelensky, 24 horas após fontes oficiais dos EUA terem dito a vários meios de comunicação que o governo do presidente Donald Trump decidiu interromper os envios de armas para a Ucrânia que já haviam sido aprovados.
O mandatário ucraniano disse que instruiu seu ministro da Defesa, diplomatas e chefes de inteligência entrem em contato com seus colegas americanos para "obter informações oficiais".
Zelensky acrescentou que a Ucrânia recebeu "vários sinais" nas últimas semanas que apontam para uma interrupção no fluxo de armas por parte dos EUA. O presidente ucraniano lembrou que Washington já parou de enviar para a Ucrânia ajuda humanitária e energética.
"Também houve uma pausa na ajuda militar no final de janeiro, mas ela foi rapidamente restabelecida naquela época", explicou sem dar mais detalhes sobre o que aconteceu após a chegada de Trump à Casa Branca.
Zelensky explicou que a Ucrânia está trabalhando para encontrar alternativas caso seja confirmada a suspensão do fornecimento de armas por parte dos EUA. "Não estamos mais em 2022. Nossa resiliência está mais forte agora", disse o presidente ucraniano, que acrescentou, no entanto, que "manter relações normais" e cooperação com os EUA é "essencial" para que o país consiga alcançar uma paz com garantias.
O mandatário ucraniano gravou sua mensagem do lado de fora do palácio presidencial em Kiev, como havia feito no início da guerra com membros do governo para mostrar que ainda estava na capital ucraniana, apesar da proximidade das tropas russas.
Zelensky advertiu que a Rússia exigiria em qualquer negociação que a Ucrânia reduzisse seu exército e desistisse de seu território. "Mas devo dizer que, de fato, enquanto todos nós na Ucrânia permanecermos juntos e fortes, enquanto estivermos aqui, ninguém conseguirá isso. Será uma paz digna", disse.
O presidente ucraniano fez essa declaração logo após entrar em contato com Trump para retomar as relações e assinar o acordo econômico proposto pelos EUA, em uma mensagem publicada na rede social X na qual lamentou o bate-boca que teve na última sexta-feira com seu homólogo americano no Salão Oval.
O incidente frustrou a assinatura do acordo e levantou temores na Ucrânia de uma possível retaliação de Trump com decisões como a suspensão da ajuda militar.
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender a ajuda militar à Ucrânia paralisou imediatamente o fornecimento de armas e munições avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, que em alguns casos já estavam prontas para serem enviadas para a Ucrânia de países como a Polônia.
A informação foi confirmada à Agência EFE por um ex-funcionário americano que trabalhou no envio de armas à Ucrânia durante o governo de Joe Biden e Mark Cancian, especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), que acompanhou de perto o fornecimento de material militar para Kiev.
De acordo com essas fontes, o bloqueio poderia afetar alguns dos mais recentes sistemas de armas fornecidos por Washington, como drones e munição para o High Mobility Artillery Rocket Systems (HIMARS), um lançador múltiplo de foguetes leves montado em um caminhão militar.
A Casa Branca não forneceu detalhes públicos sobre a suspensão do envio de armas. No entanto, uma autoridade de alto escalão americana confirmou à EFE que Trump ordenou a suspensão para garantir que os parceiros dos EUA estejam interessados em “alcançar a paz” e que os esforços de Washington contribuam para esse objetivo.
Além do US$ 1 bilhão bloqueado imediatamente, o valor pode aumentar se a suspensão for prolongada.
Se o bloqueio continuar até o final do ano, disse Cancian, o valor do material militar retido subiria para US$ 11 bilhões, o que corresponde aos fundos já aprovados pelo Congresso e encomendados aos fabricantes de armas dos EUA.
Uma interrupção prolongada no fornecimento de armas poderia afetar seriamente as operações das forças ucranianas no terreno, enquanto elas lutam para repelir a invasão da Rússia que começou em fevereiro de 2022.
Nessa situação, a Ucrânia está procurando seus parceiros europeus em busca de alternativas para compensar a ajuda militar americana, cuja suspensão foi saudada pelo Kremlin como um passo positivo para forçar Kiev a aceitar um processo de paz.