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Ucrânia fica mais aproxima do Ocidente

Negociado junto ao acordo de associação, o tratado de livre-comércio entre a Ucrânia e a UE deverá, por sua vez, entrar em vigor apenas no final de 2015

O presidente ucraniano Petro Poroshenko (e) recebe José Manuel Barroso, da Comissão Europeia em Kiev (Sergei Supinsky/AFP)

O presidente ucraniano Petro Poroshenko (e) recebe José Manuel Barroso, da Comissão Europeia em Kiev (Sergei Supinsky/AFP)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2014 às 15h10.

Kiev - Kiev anunciou nesta sexta-feira a entrada em vigor muito em breve do acordo de associação com a <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/uniao-europeia">União Europeia</a></strong> (UE), no momento em que novas sanções ocidentais atingem a <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/russia">Rússia</a></strong> e Moscou denuncia uma instrumentalização do conflito no leste da <strong><a href="https://exame.com.br/topicos/ucrania">Ucrânia</a></strong>.</p>

Negociado junto ao acordo de associação, o tratado de livre-comércio entre a Ucrânia e a UE deverá, por sua vez, entrar em vigor apenas no final de 2015, segundo a Comissão Europeia, em uma decisão que visa a dar chances às negociações de paz no leste ucraniano.

A zona de livre-comércio é a principal medida econômica prevista no acordo de associação. "Nós vamos adiar o acordo de livre-comércio para 31 de dezembro do próximo ano", declarou o comissário europeu do Comércio, Karel De Gucht, após uma reunião com os ministros ucraniano das Relações Exteriores, Pavlo Klimkine, e russo da Economia, Alexeï Uliukaev.

Mais cedo, concretizando o distanciamento da Ucrânia da Rússia, o presidente Petro Poroshenko anunciou que o acordo de associação entre Kiev e a União Europeia entrará em vigor em 1º de novembro depois de sua ratificação simultânea na próxima terça-feira pelos parlamentos ucraniano e europeu em Estrasbrugo (França).

A primeira reunião do conselho de associação acontecerá em 17 de novembro.

Este acordo engloba um componente político e um comercial. Ele provocou a ira de Moscou, que considera que a Ucrânia não pode dispor de laços comerciais privilegiados com a Rússia e a UE.

"Isso nos dá 15 meses para continuar as discussões (....) Nós concordamos em estender as medidas comerciais provisórias" que reduzam as tarifas sobre alguns produtos da Ucrânia para o mercado europeu "durante o mesmo período", explicou Karel De Gucht, durante uma coletiva de imprensa.

Novas sanções em vigor

Neste contexto de tensão, os Estados Unidos acrescentaram várias empresas russas em sua lista negra nesta sexta-feira, incluindo o principal banco do país, Sberbank, seguindo os passos da UE, cujas sanções acabam de entrar em vigor.

Em um contexto de desescalada do conflito no terreno, o homem forte do Kremlin, Vladimir Putin, considerou que a situação na Ucrânia está sendo utilizada para "reviver a Otan como um dos elementos da política externa dos Estados Unidos" e afirmou as sanções ineficazes.

Reiterando as motivações ocidentais para endurecer o tom contra Moscou, o chefe da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, denunciou o comportamento inaceitável da Rússia e considerou que o cessar-fogo vigente na Ucrânia é insuficiente para garantir a paz em longo prazo.

"A situação na Ucrânia continua muito sensível", ressaltou Barroso durante uma coletiva de imprensa em Kiev, em que defendeu uma solução política "baseada no princípio de soberania da Ucrânia".

O Ocidente acusa Moscou de armar os rebeldes pró-russos e de mobilizar tropas no leste da Ucrânia. A Rússia nega qualquer envolvimento no conflito nesta ex-república soviética.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reagiu às sanções ocidentais dizendo que violam o processo de paz na Ucrânia, enquanto Putin considerou que "as sanções como instrumento de política externa (são) pouco eficazes e não trazem os resultados esperados".

Estatuto especial

O presidente ucraniano, eleito em maio com a promessa de se aproximar do Ocidente, também disse que espera um "estatuto especial" de aliado dos Estados Unidos, como não-membro da Otan durante uma visita a Washington em 18 de setembro.

Este estatuto, beneficiado por Austrália, Israel, Egito e Coreia do Sul, prevê a entrega de certos tipos de armas.

As sanções da UE contra Moscou, que incluem a limitação do financiamento da economia russa, à beira da recessão, entraram em vigor nesta sexta-feira com sua publicação no Jornal Oficial da UE.

Também são afetadas nove empresas que produzem bens de uso civil e militar, com as quais as companhias europeias não poderão comercializar, e 24 personalidades russas e ucranianas.

Após decretar um embargado no início de agosto à maioria dos alimentos europeus e americanos, em resposta à rodada anterior de sanções ocidentais, Moscou analisa outras medidas de represália, de acordo com Vladimir Putin.

No entanto, os ocidentais garantiram que poderiam retirar as sanções, caso "a Rússia cumpra integralmente os seus compromissos" na Ucrânia, nas palavras do presidente Barack Obama.

Após vários dias de hesitação em meio a preocupações europeias sobre o impacto em sua própria economia, as sanções foram anunciadas após as autoridades ucranianas reconhecerem na quinta-feira que os rebeldes tinham estendido seu controle sobre a fronteira leste com a Rússia até o Mar de Azov.

Esse controle se estende por cerca de 300 km, de acordo com cálculos baseados no mapa do Conselho de Segurança da Ucrânia.

Além disso, a Otan anunciou que cerca de mil soldados russos permanecem no leste ucraniano, enquanto 20.000 outros estavam a postos ao longo da fronteira.

Virando definitivamente as costas à Rússia, Poroshenko considerou nesta sexta-feira que a ratificação do acordo político e comercial de associação com a UE seria "um momento histórico" para o país.

"O povo ucraniano enfrentam um dos testes mais difíceis para o direito de ser europeu", garantiu Poroshenko, referindo-se ao conflito que já dura cinco meses e que deixou mais de 2.700 mortos e meio milhão de deslocados e refugiados.

Ele também assegurou que a península da Crimeia, anexada por Moscou em março, voltaria à Ucrânia, "não necessariamente por meios militares".

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