"Seis navios deixaram os portos ucranianos", declarou o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar (AFP/AFP Photo)
AFP
Publicado em 3 de novembro de 2022 às 11h12.
Seis navios carregados de grãos zarparam nesta quinta-feira (3) de portos ucranianos, um dia depois de a Rússia retomar sua participação no acordo que garante o tráfego pelo Mar Negro, embora Moscou tenha deixado em dúvida se prorrogará o pacto vital para a segurança alimentar mundial.
"Seis navios deixaram os portos ucranianos", declarou o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, citado pela agência oficial Anadolu.
No entanto, a Rússia colocou em dúvida o futuro do pacto ao indicar que não decidiu se o prorrogará além de 19 de novembro, data prevista para sua renovação.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que "antes de decidir pela continuidade será necessário fazer uma avaliação".
O acordo para aliviar a insegurança alimentar mundial foi retomado enquanto os ministros das Relações Exteriores do G7 se reuniam na Alemanha para discutir formas de dar mais assistência à Ucrânia.
No sábado, a Rússia se retirou temporariamente do pacto firmado em julho acusando a Ucrânia de utilizar o corredor marítimo para lançar um ataque de drones contra sua frota no Mar Negro.
A Ucrânia negou a acusação e disse que a Rússia utilizou um "falso pretexto" para abandonar o pacto.
A ação de Moscou foi amplamente condenada, e a ONU destacou a importância do acordo para os países em desenvolvimento que dependem da importação de grãos ucranianos.
A Ucrânia é um dos maiores produtores de grãos, mas a invasão russa bloqueou 20 milhões de toneladas destes produtos em seus portos até que a ONU e Turquia negociassem o acordo.
A exportação de grãos ucranianos foi retomada nesta quarta-feira. A Rússia voltou ao acordo após se retirar, alegando que a Ucrânia estava usando o corredor de transporte seguro para lançar um ataque de drones à sua frota do Mar Negro.
O Ministério russo da Defesa disse na quarta-feira que recebeu "garantias suficientes" de Kiev de que não utilizará o corredor para realizar ataques.
Mas o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, expressou nesta quinta que Moscou aguarda "a remoção de qualquer obstáculo à exportação de fertilizantes e grãos russos".
Em Kiev, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Oleg Nikolenko, garantiu que a Ucrânia não ofereceu outras garantias além das que já estão no acordo.
"A Ucrânia nunca colocou a rota de grãos em risco", escreveu no Facebook, acrescentando que Moscou voltou ao acordo graças à "diplomacia ativa" da ONU e Turquia.
"Em coordenação com a Ucrânia, encontraram palavras que (o presidente russo, Vladimir) Putin entende", afirmou.
A delegação da ONU no Centro de Coordenação Conjunto (JCC) em Istambul, que supervisiona o acordo, confirmou nesta quinta a retomada do tráfego e a inspeção de navios.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse na quarta que a retomada do acordo é "um resultado diplomático importante para nosso país e todo o mundo".
O pedido russo de garantas adicionais revela "tanto o fracasso da agressão russa quanto nossa força quando estamos unidos", afirmou Zelensky.
Países receptores de grãos exportados dos portos da Ucrânia entre julho e 31 de outubro, iniciativa apoiada pela ONU para o transporte de cereais pelo mar Negro.
As frentes leste e sul da Ucrânia estiveram praticamente estáveis nos últimos dias, mas os bombardeios russos contra instalações energéticas causaram apagões em grade parte do país que se aproxima do inverno.
Nas partes do sul recentemente retomadas por soldados ucranianos, voluntários disseram que se preocupam com a quantidade de moradores que retornam apesar do perigo.
"Seria muito mais fácil se estas pessoas não estivessem aqui", comentou Yulia Pogrebna, uma voluntária de 32 anos que repartia caixas de alimentos entre aposentados da cidade de Lymany.
"Mas como pedir que alguém de 70 anos vá embora de um lugar que conhece como a palma da mão? Especialmente quando não tem para onde ir", reconheceu.
Para Natalia Panashiy, de 54 anos, líder comunitária, "é muito cedo para retornarem".
"Mas estou feliz porque agora estou menos solitária aqui", acrescentou.
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