Volodymyr Zelensky: presidente da Ucrânia detalhou a conversa com Donald Trump sobre as negociações de paz com a Rússia (Spencer Platt /Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 20 de abril de 2025 às 09h33.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de continuar os bombardeios na linha de frente, violando o breve cessar-fogo prometido pelo presidente russo, Vladimir Putin, para este Domingo de Páscoa. A trégua de 30 horas, que começou no sábado, teria sido a pausa mais significativa nos combates em mais de três anos de conflito — mas tanto a Ucrânia quanto a Rússia trocam acusações de ataques.
Desde o início da trégua, Zelensky acusou a Rússia de continuar os ataques. Segundo ele, “ao longo de várias direções da linha de frente, houve 59 casos de bombardeios russos e cinco ataques de unidades russas”. O líder ucraniano acrescentou que, nas primeiras seis horas da trégua, a Rússia realizou “387 bombardeios e 19 ataques das forças russas”.
Tropas russas dispararam quase 450 tiros de artilharia entre as 18h de sábado, quando o cessar-fogo deveria ter começado, e as 6h de domingo, de acordo com Zelensky. Ele também afirmou que os russos lançaram 24 ataques e usaram drones mais de 300 vezes.
“Na manhã de Páscoa, podemos dizer que os militares russos estão tentando criar a impressão de um cessar-fogo, enquanto em algumas áreas continuam as tentativas isoladas de avançar e causar baixas na Ucrânia”, escreveu Zelensky nas redes sociais.
— Hoje, essas palavras ressoam nos corações de todos os ucranianos. E elas fortalecem nossa fé que, apesar de tudo, não vacilou durante 1.152 dias de guerra — disse.
Outras tentativas de estabelecer uma trégua em datas importantes do calendário cristão, como a Páscoa de 2022 e o Natal ortodoxo de 2023, também fracassaram.
O cessar-fogo foi anunciado por Putin no sábado, durante uma reunião televisionada com o chefe do Estado-Maior russo, Valeri Gerasimov. Segundo o presidente, a suspensão temporária das hostilidades teria “razões humanitárias”.
A decisão veio após meses de tentativas frustradas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de mediar uma trégua entre Moscou e Kiev. Washington, por sua vez, alertou na última sexta-feira que poderá se retirar das negociações se não houver avanço no processo de paz.
Zelensky, no entanto, respondeu com ceticismo ao gesto de Putin. “Se a Rússia estiver subitamente pronta para realmente se envolver, a Ucrânia agirá de acordo, espelhando as ações russas”, escreveu o presidente ucraniano na plataforma X. Ele ressaltou, porém, que não confia nas intenções de Moscou, lembrando que o Kremlin rejeitou no início de março uma proposta de cessar-fogo total e incondicional por 30 dias. “Não podemos confiar na Rússia”, afirmou.
Segundo Zelensky, se a Rússia permanecesse em silêncio, as tropas ucranianas parariam de lutar. Mas se as tropas russas atacassem, os ucranianos também o fariam. Ele repetiu isso na manhã deste domingo.
— Nossos soldados estão respondendo em todos os lugares como o inimigo merece. A Ucrânia continuará a agir de forma semelhante — garantiu.
Nas ruas de Kiev, o clima de desconfiança era evidente neste Domingo de Páscoa. Muitos moradores expressaram dúvidas de que a Rússia respeitaria a trégua.
— Eles já renegaram sua promessa. Infelizmente, não podemos confiar na Rússia hoje — disse a lojista Olga Grachova, de 38 anos.
A médica Natalia, de 41 anos, lamentou o fato de as ofertas da Ucrânia não serem correspondidas.
— Ninguém responde — disse ela.
Em Moscou, a visão era oposta. Yevgeny Pavlov, de 58 anos, disse que não acredita que a Rússia deva dar um tempo à Ucrânia.
— Não há necessidade de dar um tempo para eles. Se pressionarmos, significa que devemos ir até o fim — afirmou Pavlov.