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Ucrânia denuncia ataques russos horas após trégua de três dias decretada por Putin entrar em vigor

Kiev não aceitou a proposta e classificou gesto do Kremlin de farsa

Serviços de emergência da Ucrânia declararam que uma bomba caiu em uma área residencial perto de Bilopillia (YURIY DYACHYSHYN / AFP)

Serviços de emergência da Ucrânia declararam que uma bomba caiu em uma área residencial perto de Bilopillia (YURIY DYACHYSHYN / AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 8 de maio de 2025 às 08h07.

Horas após a trégua de três dias decretada unilateralmente pelo presidente russo, Vladimir Putin, entrar em vigor nesta quinta-feira, 8,  a Ucrânia acusou a Rússia de executar ataques limitados ao nordeste de Sumy. A pausa no conflito proposta por Moscou coincide com as celebrações do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.

Na terça-feira, o Kremlin anunciou que 29 líderes estrangeiros, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo chinês, Xi Jinping, estarão no país para o Desfile da Vitória.

“Até às 8h (2h em Brasília) não foram registrados ataques com mísseis ou com drones no espaço aéreo ucraniano. Durante a noite, no entanto, a aviação tática inimiga lançou bombas guiadas na região de Sumy”, disse a Força Aérea ucraniana. Serviços de emergência da Ucrânia declararam que uma bomba caiu em uma área residencial perto de Bilopillia, cidade localizada próxima à fronteira com a região russa de Kursk.

A administração ucraniana não aceitou a proposta de trégua, classificando a medida como uma “farsa” e pedindo, em vez disso, um cessar-fogo de 30 dias. Kiev, que resiste às tropas russas desde 2022, também não declarou claramente se pretende respeitar a iniciativa, com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmando que a Rússia deveria “se preocupar” com a segurança do desfile. Ainda assim, o comandante ucraniano Andrii Kovalenko, responsável por combater a desinformação, disse que Moscou “violou a trégua ao atacar Sumy”.

Nesta terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que as forças russas responderão “imediatamente e de forma adequada” se a Ucrânia atacar durante a trégua declarada pelo mandatário russo. A declaração foi feita no mesmo dia em que Kiev lançou um ataque massivo com mais de 100 drones contra a Rússia, direcionado principalmente contra Moscou. Não está claro se a ofensiva, que forçou o fechamento de quatro aeroportos na região, afetou o acesso dos líderes mundiais ao evento.

— A iniciativa do presidente Putin para um cessar-fogo temporário [continua em vigor] — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. — Se o regime de Kiev não fizer o mesmo e continuar tentando golpear nossas posições ou instalações, se dará imediatamente uma resposta adequada.

Pouco antes da entrada em vigor da pausa, os dois países trocaram ataques aéreos que deixaram dois mortos na Ucrânia e provocaram o fechamento de aeroportos em Moscou e outras cidades russas devido à aproximação de drones inimigos. O aeroporto de Nizhni Nóvgorod, no oeste da Rússia, permaneceu fechado por uma hora e meia nesta quinta-feira “para garantir a segurança dos aviões civis”, segundo um porta-voz da Agência Federal de Transporte Aéreo.

Por sua vez, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, voltou a lançar em seu discurso vespertino desta quarta sua proposta de um cessar-fogo de 30 dias.

- Não retiramos esta proposta, que poderia dar uma oportunidade à diplomacia. Mas o mundo não vê nenhuma resposta da Rússia - afirmou.

Putin anunciou a trégua no mês passado como um gesto "humanitário", depois de semanas de pressão do presidente americano, Donald Trump, para interromper os mais de três anos de guerra na Ucrânia.

O líder do Kremlin havia rejeitado, em março, uma proposta conjunta de Estados Unidos e Ucrânia para um cessar-fogo incondicional. Desde então, apenas ofereceu pequenas contribuições aos esforços de paz de Trump.

A Ucrânia não confia que a Rússia vai respeitar essa trégua unilateral e acusa Moscou de múltiplas violações durante um cessar de hostilidades de 30 horas decretado por Putin durante a Páscoa.

'Todas as medidas'

As comemorações do 9 de maio são fundamentais para o culto patriótico da vitória de 1945 promovido pelo Kremlin, que afirma que a ofensiva na Ucrânia, que começou em fevereiro de 2022 e deixou milhares de mortos em ambos os lados, é uma extensão da guerra contra Hitler.

O ponto culminante das comemorações é a parada militar, prevista para sexta-feira, na Praça Vermelha, que contará com a presença de quase 30 líderes estrangeiros.

- Nosso Exército e os serviços especiais estão tomando todas as medidas necessárias para assegurar que a celebração da grande vitória ocorra em um ambiente calmo, estável e pacífico - disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Por exemplo, explicou que as autoridades haviam limitado o acesso à internet em Moscou antes da parada para prevenir "o perigo" procedente da Ucrânia, que lançou numerosos drones contra a Rússia nos últimos dias.

- Precisamos levar em conta este perigoso vizinho que temos - afirmou Peskov. - Enquanto nossos convidados estiverem aqui, até 10 de maio, temos que estar preparados para restrições - disse ele aos moscovitas.

Vance pede 'negociações diretas'

O Exército russo lançou cinco mísseis balísticos e 187 drones contra a Ucrânia, informou a Força Aérea ucraniana nesta quarta-feira. Pelo menos dois desses mísseis e 81 drones foram interceptados.

Em Kiev, uma mãe e seu filho morreram e outras sete pessoas ficaram feridas, incluindo quatro crianças.

Segundo Zelensky, os oblasts (regiões administrativas) de Zaporíjia, Donetsk, Zhytomyr, Kherson e Dnipro também foram alvejados.

Após esses ataques, o presidente ucraniano pediu uma "pressão ainda maior e sanções mais severas" contra Moscou, ao considerar que essa é a única maneira de "abrir a via da diplomacia".

O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, pediu "negociações diretas" entre Kiev e Moscou, a única maneira de acabar com o conflito, depois de quase três meses de negociações separadas, impulsionadas por Washington, que não produziram resultados.

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