Prisioneiros ucranianos posam após troca com a Rússia, a maior desde o início da guerra, iniciada em 2022 ( AFP Photo / Ukrainian Presidential)
Agência de notícias
Publicado em 23 de maio de 2025 às 12h58.
Última atualização em 23 de maio de 2025 às 12h59.
O início da maior troca de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia desde o início da guerra, há mais de três anos, teve início nesta sexta-feira, 23, segundo autoridades de ambos os países. O movimento ocorreu dias após uma rara rodada de negociações diretas entre representantes de ambas as nações em Istambul, que, apesar de não terem avançado nos esforços para produzir um cessar-fogo, renderam um acordo para a libertação de mil detidos de cada lado.
Nas redes sociais, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a primeira fase da troca resultou na libertação de 390 cidadãos ucranianos, com novas rodadas previstas para os próximos dias. “É muito importante trazer todos de volta para casa”, escreveu ele no Telegram, agradecendo aos envolvidos na negociação e prometendo manter os esforços para trocas futuras.
Pouco depois, o Ministério da Defesa da Rússia informou que cada país libertou 270 militares e 120 civis, reforçando que o processo deve prosseguir no fim de semana. O anúncio oficial das trocas foi antecipado nas redes sociais pelo presidente americano, Donald Trump, que tem buscado atuar como um dos principais incentivadores do diálogo entre Moscou e Kiev, embora sem avanços significativos até agora.
O acordo de troca de prisioneiros foi o único resultado prático da reunião de Istambul, a primeira entre as partes desde o início da invasão em larga escala pela Rússia, em fevereiro de 2022. A cúpula, proposta pelo líder russo, Vladimir Putin, foi uma resposta a pressões europeias por um cessar-fogo. O encontro, porém, durou apenas duas horas e terminou sem avanços nos esforços para encerrar os combates.
Trocas de prisioneiros têm sido frequentes desde o início da guerra. Antes da ação desta sexta-feira, de acordo com o Quartel-General de Coordenação para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra da Ucrânia, a mais recente havia ocorrido em 7 de maio e trouxe de volta mais de 200 militares ucranianos. Foi a quinta operação do tipo em 2025 e a 64ª desde o início da ofensiva russa. No total, mais de 4,7 mil cidadãos ucranianos foram libertados desde fevereiro de 2022.
As trocas mais recentes ocorreram na fronteira com Belarus, no norte da Ucrânia, segundo relato de um funcionário ucraniano à Associated Press. Os russos libertados foram levados à região para tratamento médico, segundo o Ministério da Defesa da Rússia.
As negociações sobre a troca atual foram precedidas por uma grande troca de corpos de soldados mortos na semana passada, servindo como um lembrete sombrio do custo humano da guerra. No total, a Ucrânia já repatriou quase 10 mil corpos de soldados mortos em territórios atualmente sob controle da Rússia, segundo dados do quartel-general. Somado a isso, nesta sexta-feira Kiev acusou o Exército russo de ter executado 270 prisioneiros de guerra ucranianos desde 2022.
Segundo a Procuradoria ucraniana, essas execuções foram realizadas por “ordem” de autoridades políticas e militares russas. O órgão afirmou que, desde 2024, as execuções de soldados ucranianos pelas forças russas aumentaram drasticamente. Ao todo, disse, foram registrados 57 casos em 2022, 11 em 2023, 149 em 2024 e 51 desde o início de 2025. Do lado ucraniano, a missão de monitoramento da ONU documentou a execução de um soldado russo ferido, incapaz de se defender, por tropas de Kiev.
Após as conversas de 16 de maio, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, chamou a troca de prisioneiros de uma “medida de construção de confiança” e disse que as partes haviam concordado, em princípio, em se reunir novamente. Mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que ainda não há acordo sobre o local da próxima rodada de negociações, enquanto continuam as manobras diplomáticas.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, apoiou a sugestão de Trump de que o Vaticano poderia sediar as reuniões, mas o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta sexta que essa “não é uma opção muito realista”. O chanceler russo voltou a reproduzir uma alegação infundada de que Zelensky não seria um líder legítimo — alegação sem respaldo internacional — e sugeriu que novas eleições deveriam ser realizadas antes da assinatura de um possível acordo.
— A tarefa principal agora é preparar um acordo de paz que seja confiável e forneça uma paz duradoura, estável e justa, sem ameaças à segurança de ninguém. No nosso caso, estamos preocupados com a Rússia — disse.
Após uma ligação telefônica com Putin, Trump afirmou no início da semana que Moscou e Kiev começariam “imediatamente” a negociar um cessar-fogo e o fim da guerra. Desde então, Zelensky acusou seu homólogo russo de “tentar ganhar tempo” para continuar a guerra. O Kremlin tem resistido a uma paralisação temporária das hostilidades, e Putin afirmou que qualquer trégua deveria vir acompanhada da suspensão do envio de armas ocidentais à Ucrânia.
Putin há muito exige, como condição-chave para um acordo de paz, que a Ucrânia retire suas tropas das quatro regiões que a Rússia anexou em setembro de 2022, mas que nunca controlou totalmente. Zelensky, por outro lado, alertou que, se a Rússia continuar rejeitando um cessar-fogo e apresentando o que chamou de “exigências irreais”, isso sinalizará uma tentativa deliberada de prolongar a guerra — algo que, segundo ele, deveria levar a sanções internacionais mais severas.
Enquanto o embate continua, a Rússia lançou nesta sexta-feira dois mísseis balísticos contra infraestrutura no porto ucraniano de Odessa, no sul do país, matando um trabalhador e ferindo outros oito, sendo quatro deles em estado crítico. Os combates ocorrem ao longo da linha de frente de aproximadamente mil quilômetros, onde dezenas de milhares de soldados já foram mortos, e nenhum dos dois países recuou.
O Ministério da Defesa russo afirmou ter abatido 788 drones ucranianos fora da linha de frente entre 20 e 23 de maio. A força aérea da Ucrânia informou que a Rússia lançou 175 drones Shahed, além de drones de engodo e um míssil balístico, desde a noite de quinta-feira.