Mundo

Ucrânia apaga marcas de passado soviético das ruas

Prestes a completar 100 anos da revolução russa, a Ucrânia se vangloria de ter mudado os nomes de mais de 52 mil ruas relacionadas com o período soviético

URSS: A revolução russa completará em breve 100 anos (Getty/Getty Images)

URSS: A revolução russa completará em breve 100 anos (Getty/Getty Images)

E

EFE

Publicado em 11 de outubro de 2017 às 06h41.

Kiev - Sob uma política chamada de "descomunização", a Ucrânia apagou a marca de seu passado soviético ao renomear milhares de ruas, bairros e cidades, além de retirar do espaço público milhares de monumentos de figuras socialistas, como Lenin.

Prestes a completar 100 anos da revolução bolchevique que levou à instauração do comunismo, o governo da Ucrânia se vangloria de ter mudado os nomes de mais de 52 mil ruas, 32 cidades e 25 regiões relacionadas com o período da União Soviética.

Além disso, nos últimos três anos foram apagados do mapa 2.500 monumentos em homenagem a líderes soviéticos, incluindo 1.300 estátuas de Vladimir Lenin, o que faz parte dos esforços para construir uma nova identidade nacional.

Em entrevista à Agência Efe, o historiador ucraniano Bogdan Korolenko disse que a política ajudou o país não só a se desfazer dos símbolos do "regime comunista totalitário", mas também a se afastar ideologicamente da Rússia e lutar contra a propaganda no contexto atual de conflito entre os dois países.

"Há uma parte da população cuja mentalidade ainda está ligada à União Soviética (...) e a Rússia se apoia na existência desses símbolos para colocá-los do seu lado na guerra contra a Ucrânia", disse Korolenko, chefe do Departamento de Análise Regional do Instituto para a Memória Nacional da Ucrânia.

Em abril de 2015, o parlamento da Ucrânia adotou um conjunto de leis que regulam o processo de "descomunização" e condenam o regime socialista que governou o país entre 1917 e 1991, o nazismo, a negação pública do caráter criminoso dos dois sistemas e o uso de seus símbolos.

Em virtude dessa legislação, o próprio Instituto para a Memória Nacional pediu à promotoria que abra um procedimento penal contra as autoridades da cidade de Odessa, no sul do país, por ter restaurado monumentos de Lenin e do líder soviético Mikhail Kalinin.

"Todas as medidas que derivam da lei de 'descomunização' constituem uma questão de segurança nacional. Com isso, a Ucrânia procura defender sua soberania e se defender também da Rússia", argumentou o historiador.

Para Korolenko, existe uma espécie de "fronteira mental" construída a partir de elemento do passado. Ela é utilizada para semear a discórdia entre a população e propagar a ideia de que a Ucrânia, como a antiga república soviética, e a Rússia são uma mesma nação. Por isso, compartilham da mesma história, símbolos e heróis.

"A Crimeia e os territórios de Donetsk e Lugansk estão ocupados por grupos terroristas que não reconhecem a soberania ucraniana nem a Ucrânia como um Estado independente", acusou Korolenko.

O historiador avalia que, em alguma medida, essa mentalidade teve um papel importante no desencadeamento do conflito que atinge o leste do país. As manifestações que foram realizadas em várias cidades da região separatista durante a chamada "revolução de Maidan" giravam em torno do patrimônio ideológico russo.

"Muitos desses encontros aconteceram em praças e parques que homenageiam personagens comunistas como Lenin. Nesses territórios, esses monumentos e símbolos continuam lá", explicou.

A "descomunização" não é uma iniciativa do governo atual. O processo começou no início de 1990, pouco depois da desintegração da União Soviética, e foi uma política adotada nos governos de Leonid Kuchma (1994-2005) e Viktor Yushchenoko (2005-2010).

O Instituto para a Memória Nacional, por exemplo, foi fundado em 2006, durante a administração de Yushchenko, que tornou a "descomunização" uma prática institucional.

Entre outras coisas, ele ordenou a eliminação de todo símbolo comemorativo de pessoas envolvidas no "Holodomor", o chamado "Holocausto ucraniano", como ficou conhecida a fome que matou milhões de pessoas na década de 1930 pela coletivização forçada promovida por Josef Stalin.

Atualmente, a "descomunização" segue gerando controvérsia, com posições distintas entre aqueles que defendem o direito à liberdade de expressão para falar de diferentes pontos de vista sobre eventos históricos e os que defendem romper defitivamente com os vestígios de um passado soviético que consideram como danoso.

Acompanhe tudo sobre:ComunismoRússiaUcrânia

Mais de Mundo

Presidente do México diz que “não haverá guerra tarifária” com EUA por causa de Trump

Austrália proíbe acesso de menores de 16 anos às redes sociais

Putin ameaça usar míssil balístico de capacidade nuclear para bombardear Ucrânia

Governo espanhol avisa que aplicará mandado de prisão se Netanyahu visitar o país