Turquia: Erdogan sustenta que pode ser necessário retomar a pena de morte, citando os clamores das multidões presentes em manifestações (REUTERS/Huseyin Aldemir)
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2016 às 11h52.
Ancara - A Turquia rebateu a União Europeia nesta sexta-feira a respeito da possível volta da pena de morte, e o presidente turco, Tayyip Erdogan, prometeu reformular as Forças Armadas e lhes dar "sangue novo", assinalando a extensão das mudanças que ainda virão durante o estado de emergência decretado pelo governo.
Existe uma preocupação crescente no Ocidente a respeito da repressão cada vez maior na Turquia a milhares de integrantes das forças de segurança, do Judiciário, do funcionalismo público e das universidades na esteira do golpe militar fracassado da semana passada.
Na quarta-feira, Erdogan anunciou um estado de emergência, medida que, segundo ele, permitirá que o governo aja rapidamente contra os golpistas.
A possibilidade de a Turquia retomar a pena capital para os conspiradores do golpe malsucedido, que deixou 246 mortos e mais de 2.100 feridos, aumentou a tensão no relacionamento de Ancara com a UE, à qual deseja se filiar.
A Turquia descartou a pena de morte em 2004, parte de sua iniciativa para se juntar ao bloco, e autoridades europeias têm dito que voltar atrás no uso da punição exemplar irá, na prática, pôr fim ao processo de filiação do país à UE.
Erdogan sustenta que pode ser necessário retomar a pena de morte, citando os clamores das multidões presentes em manifestações pela volta da medida.
"As pessoas exigem a pena de morte, e essa exigência com certeza será avaliada. Temos que avaliar essa exigência do ponto de vista da lei, e não de acordo com o que a UE diz", afirmou o ministro turco da Justiça, Bekir Bozdag, à rede de televisão CNN Turquia.
Seus comentários devem criar mais desassossego no Ocidente, onde só aumentam os temores a respeito da instabilidade e dos direitos humanos no país de 80 milhões de habitantes, que desempenha um papel importante na luta dos Estados Unidos contra o Estado Islâmico e nos esforços da UE para deter o fluxo de refugiados da Síria.
O presidente turco acusa Fethullah Gulen, clérigo muçulmano carismático residente nos EUA, de ser o mentor do complô que tentou derrubá-lo e que fracassou no início do sábado.
Como forma de reprimir os supostos seguidores de Gulen, mais de 60 mil soldados, policiais, juízes, servidores públicos e professores foram suspensos, detidos ou postos sob investigação.
Segundo Bozdag, apoiadores armados de Gulen se infiltraram no Judiciário, nas universidades e na mídia, assim como nas Forças Armadas. No final de quinta-feira, Erdogan disse à Reuters que irá reestruturar os militares e lhes dar "sangue novo", mencionando a ameaça do movimento de Gulen, que ele assemelhou a um câncer.
Gulen nega qualquer papel na tentativa de golpe e acusou Erdogan de orquestrar a ação.