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Turquia e Síria: equipes resgatam 9 crianças com vida; terremoto já matou 22 mil

Entre os sobreviventes está um recém-nascido de apenas 10 dias

Agachados sob lajes de concreto e sussurrando "inshallah" (Graças a Deus, em árabe), os socorristas cuidadosamente enfiaram a mão nos escombros e passaram pela o bebê (Mehmet Kacmaz/Getty Images)

Agachados sob lajes de concreto e sussurrando "inshallah" (Graças a Deus, em árabe), os socorristas cuidadosamente enfiaram a mão nos escombros e passaram pela o bebê (Mehmet Kacmaz/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de fevereiro de 2023 às 17h48.

Cinco dias depois do terremoto de magnitude 7,8 que arrasou o sul da Turquia e o norte da Síria, equipes de resgate cada vez mais céticas em encontrar sobreviventes da tragédia encontraram nesta sexta-feira, 10, ao menos nove crianças com vida em escombros de prédios destruídos pelo tremor em várias cidades dos dois países. Até agora, mais de 22 mil pessoas morreram em razão dos abalos sísmicos na região, que entraram na lista dos cinco mais letais deste século.

Entre os sobreviventes está um recém-nascido de apenas 10 dias. Agachados sob lajes de concreto e sussurrando "inshallah" (Graças a Deus, em árabe), os socorristas cuidadosamente enfiaram a mão nos escombros e passaram pela o bebê. Com os olhos bem abertos, a criança, chamada Yagiz Ulas, foi envolta em um cobertor térmico brilhante e levado para um centro médico de campo em Samandag, província de Hatay.

Equipes de emergência também carregaram sua mãe, atordoada e pálida, mas consciente, em uma maca, mostraram imagens de vídeo da agência de desastres da Turquia. O resgate de crianças pequenas melhorou o ânimo de equipes cansadas em busca de sobreviventes.

Na cidade turca de Kahramanmaras, 200 km ao norte de Samandag, equipes de resgate entraram com grande dificuldade em uma bolsa de ar embaixo de um prédio caído para encontrar uma criança chorando enquanto a poeira caía em seus olhos.

Mais a leste, em Dyarbakir, no Curdistão turco, outro resgate emocionante: o rosto amedrontado de outro menino observava o ambiente a seu redor enquanto destroços eram derrubados para retirá-lo do que sobrou de um prédio de apartamentos. Depois de abrir um buraco maior, os trabalhadores colocaram uma máscara de oxigênio em seu rosto e o carregaram para um local seguro. Como o bebê Yagiz, ele foi seguido por sua mãe

Em Nurdagi, perto de Iskenderun, um socorrista espanhol conseguiu retirar um menino de dois anos que choramingava de um prédio desabado. Uma corrente humana de soldados da Unidade Militar de Emergências Espanhola (UME) transferiu o menino, Muslim Saleh, para uma tenda aquecida, e minutos depois retirou sua irmã de seis anos, Elif, e depois sua mãe, todos vivos e bem do local.

"Eles não precisavam de muito tratamento, apenas amor, calor, água e um pouco de fruta", disse Aurelio Soto, porta-voz dos rescatistas espanhóis.

Resgate emocionante na Síria

Do outro lado da fronteira, na Síria, equipes de resgate do grupo Capacetes Brancos cavaram com as próprias mãos o gesso e o cimento, o ar nublado com poeira espessa, até chegar ao pé descalço de uma jovem vestindo um pijama rosa, agora encardido por dias presa, mas viva e finalmente livre.

Um dia antes, na cidade síria de Azaz, Jomaa Biazid se reencontrou com seu filho de 18 meses, Ibrahim, que ele não via desde que o terremoto destruiu a casa da família, matando sua esposa e filha. As equipes de resgate encontraram o menino nos escombros e o levaram ao hospital, onde um casal postou imagens dele nas redes sociais na esperança de rastrear algum parente.

Parado em prantos com cicatrizes e manchas de sangue no rosto, Biazid parecia atordoado quando seu filho o chamou de "Baba" ("Pai, em árabe"). Ele então correu para dar um beijo no menino. Biazid disse que ainda estava procurando por seu outro filho, Mustafa.

Órfã ganha uma nova família

Em outra história comovente, uma bebê encontrada sob os escombros de uma construção na Síria ainda ligada pelo cordão umbilical à mãe morta durante o terremoto, ganhou uma nova família.

A bebê foi batizada pela equipe médica do Hospital Cihan, para onde foi socorrida logo após ser resgatada na segunda-feira, 6, como Aya - que significa "sinal de Deus", em árabe. De acordo com o médico Hani Maarouf, que vem cuidando da menina desde o resgate, ela recebeu o nome "para que pudéssemos parar de chamá-la de bebê recém-nascido", disse.

A condição de Aya está melhorando a cada dia, de acordo com os médicos. O principal temor, de que ela tivesse sofrido algum dano na coluna, não se confirmou. Assim que for liberada, ela será cuidada pelo tio de seu pai, Salah al-Badran.

Equipes de resgate na cidade de Jenderis descobriram Aya sob os escombros na tarde de segunda, mais de 10 horas após o terremoto. Eles cavavam os destroços do prédio de cinco andares onde seus pais moravam com o resto da família. Os pais e quatro irmãos de Aya morreram no local.

Corrida contra o tempo

O frio, a fome e o passar do tempo dificultam a luta para encontrar sobreviventes do terremoto. As autoridades temem um aumento dramático do número de vítimas devido ao elevado número de pessoas que, calculam, continuam presas nos escombros.

O inverno mais rigoroso do que o habitual no Hemisfério Norte e os danos às estradas e aeroportos dificultaram a resposta na Turquia e na Síria. Alguns na Turquia reclamaram que a resposta foi muito lenta - uma percepção que pode prejudicar Erdogan em um momento em que ele enfrenta uma dura batalha pela reeleição em maio.

As estradas danificadas tornaram mais difícil o transporte até regiões isoladas do país, que também sofreram com o abalo sísmico. Nessas áreas rurais, muitos sobreviventes ficaram sem abrigo e precisaram dormir ao relento, segundo a BBC.

Na cidade de Gaziantep, que ficou conhecida nos últimos dias após imagens do desabamento de um castelo milenar começarem a circular nas redes, há relatos de sobreviventes passando a noite em abrigos improvisados, segundo a Al Jazeera. No clima frio, os turcos montaram tendas improvisadas na rua ou em bancos de parques. Alguns poucos conseguiram ainda um espaço nas raras lojas abertas em meio ao caos do pós-terremoto. Outros deixaram a cidade em ônibus e carros, já que o aeroporto encontra-se fechado.

O governo turco está lutando para abrigar as pessoas forçadas a ir para a rua depois que suas casas desabaram ou ofereciam muitos riscos para permanecer por causa dos tremores secundários.

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