Soldados da Coreia do Norte vigiam os vizinhos do Sul: os sul-coreanos, onipresentes em toda a área fronteiriça, mostravam uma atitude relaxada (WIKIMEDIA COMMONS)
Da Redação
Publicado em 21 de dezembro de 2011 às 10h30.
Dorasan - A morte de Kim Jong-il não interrompeu o fluxo de viagens turísticas à zona desmilitarizada (DMZ) entre as duas Coreias, a qual é visitada por centenas de curiosos na busca de uma fotografia do país mais isolado do mundo.
Desde a primeira hora desta quarta-feira, os ônibus circulavam pelos espaços mais emblemáticos da DMZ, uma faixa que simboliza o confronto entre dois países que ainda se encontram tecnicamente em guerra, já que a Guerra da Coreia (1950-53) terminou sem a assinatura de um acordo de paz (armistício).
'Tratem de não chegar até Coreia do Norte', brincava Kim Moon-young, uma das guias que a cada dia conduz os turistas através do 'terceiro túnel de infiltração', escavado pelo Exército norte-coreano nos anos 70 com o frustrado objetivo de alcançar Seul por via subterrânea.
Apesar do nevoeiro, os visitantes ampliavam ao máximo o 'zoom' de suas câmaras no fronteiriço observatório de Dorasan para conseguir capturar uma imagem distante do outro lado da fronteira, isso em uma semana que poderá mudar o rumo da história da Península Coreana.
'Tinha a passagem reservada desde a última semana e pensei que com a morte de Kim Jong-il teria que suspender a viagem. Mas, no final, está valendo muito mais a pena ter vindo', comentou à Agência Efe a americana Cindy Dorsey, que visita Coreia do Sul com seu marido.
Os soldados sul-coreanos, onipresentes em toda a área fronteiriça, também mostravam uma atitude relaxada, apesar de que o Estado-Maior Conjunto decretou estado de emergência na última segunda.
Na localidade de Imjingak, onde começam os passeios pela fronteira, um grupo de ativistas a favor dos direitos humanos aproveitou que o vento soprava em direção ao Norte e lançou ao ar panfletos contra a família Kim, o qual tinha objetivo de despertar vozes críticas no país vizinho.
Esta atividade, realizada habitualmente por diversas ONGs sul-coreanas e que desperta a ira do regime comunista, gerou certa inquietação ao realizada em um momento tão delicado.
No entanto, as elites da Coreia do Norte, preocupadas em firmar a posse de Kim Jong-un, filho do falecido Kim Jong-il, pareceram ignorar o gesto dos ativistas.
Segundo a televisão estatal norte-coreana, Kim Jong-un aparece como o 'grande sucessor' de Jong-il, o qual terá de dar continuidade à dinastia iniciada por seu avô Kim Il-sung, fundador da República Popular Democrática da Coreia, em 1948.
Apesar do ambiente de relativa normalidade que se respira na região, Seul limitou as autorizações para atravessar a fronteira da DMZ, uma das mais vigiadas e restringidas do mundo. A passagem é liberada apenas pelos trabalhadores sulinos de Kaesong, um projeto industrial conjunto que fica situado na Coreia do Norte.
Entre os poucos que poderão atravessar de forma excepcional estarão, previsivelmente, a ex-primeira-dama Lee Hee-ho, viúva do ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz sul-coreano Kim Dae-jung, e a presidente do grupo Hyundai, Hyun Jeong-eun, as quais devem apresentar suas condolências pela morte do líder comunista.
Seul autorizou essas viagens ao Norte como uma forma de resposta, já que Pyongyang enviou delegações quando faleceram Kim Dae-jung e o ex-presidente da Hyundai, Chung Mong-hun.
O progressista Kim Dae-jung foi o artífice da política conciliadora dos 'raios de sol' que no ano 2000 se traduziu na histórica cúpula entre os líderes das duas Coreias, enquanto o Grupo Hyundai apostou forte na reconciliação através do projeto turístico intercoreano do monte Kumgang, o qual está paralisado atualmente.