Tunísia: protestos degeneraram em distúrbios na segunda-feira à noite, especialmente em Túnis e Teburba, a oeste da capital (Zoubeir Souissi/Reuters)
AFP
Publicado em 11 de janeiro de 2018 às 10h09.
Mais de 300 pessoas foram detidas nas últimas 24 horas na capital da Tunísia, Túnis, onde novos distúrbios foram registrados entre manifestantes e policiais, no terceiro dia de protestos provocados por medidas de austeridade adotadas pelo governo.
Manifestações pacíficas e esporádicas haviam começado na semana passada contra o aumento dos preços e medidas de austeridade em vigor desde o dia 1º e que incluem um aumento dos impostos.
Os protestos degeneraram em distúrbios na segunda-feira à noite, especialmente em Túnis e Teburba, a oeste da capital.
Na quarta-feira, 328 pessoas foram detidas por roubos, saques, incêndios criminosos ou bloqueio de estradas, segundo indicou à AFP o porta-voz do ministério do Interior, Khalifa Chibani, que assegura que a "intensidade dos distúrbios diminuiu em relação aos dias anteriores".
Na terça-feira, outras 237 pessoas já haviam sido presas.
Na madrugada de quarta-feira, em Siliana, no noroeste do país, jovens lançaram pedras e coquetéis molotov contra agentes de segurança e tentaram invadir um tribunal no centro desta cidade. A polícia reagiu com bombas de gás lacrimogêneo, constatou a AFP.
Em Kasserin, no centro desfavorecido do país, jovens de 20 anos tentaram bloquear estradas queimando pneus e atirando pedras contra a polícia, segundo o correspondente da AFP.
Dezenas de manifestantes ocuparam ainda as ruas em Teburba, 30 km a oeste da capital, onde na terça-feira foi enterrado o homem que morreu nos confrontos de segunda-feira. A polícia reagiu lançando bombas de gás lacrimogêneo.
De acordo com a imprensa local, também ocorreram confrontos em bairros nos subúrbios da capital.
Os distúrbios atuais acontecem em um contexto de reivindicações sociais contra as medidas de austeridade previstas pelo governo, principalmente a alta de um imposto, o IVA.
Sete anos após uma revolução que exigia trabalho e dignidade e derrubou o ditador Zine el Abidine Ben Ali, na semana passada explodiram manifestações em Túnis.
A Tunísia, único país que sobreviveu à Primavera Árabe, até o momento conseguiu avançar em sua transição democrática, apesar da estagnação econômica e social.
A inflação ultrapassou 6% no final de 2017, enquanto a dívida pública e o déficit comercial atingiram níveis preocupantes.
Os ativistas da campanha "Fech Nestannew" ("O que estamos esperando"), lançada no início do ano contra o aumento dos preços, convocaram uma manifestação em massa na sexta-feira.
O mês de janeiro é tradicionalmente marcado por protestos na Tunísia desde a revolução de 2011. O contexto é especialmente tenso este ano, em vista da celebração em maio das primeiras eleições municipais desde a Primavera Árabe.