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Trump volta a defender que EUA tomem Gaza, mas diz que caberá a Israel retirar palestinos

Proposta do republicano foi rechaçada pela comunidade internacional por ser considerada uma limpeza étnica

Donald Trump, presidente dos EUA (Andrew Harnik/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA (Andrew Harnik/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 09h46.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2025 às 09h56.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender nesta quinta-feira, 6, que o país assuma o controle da Faixa de Gaza, apesar de a medida ter sido duramente criticada pela comunidade internacional.

Trump disse que os EUA receberiam o controle do território já sem os moradores, que seriam removidos por Israel. Cerca de 2 milhões de palestinos vivem em Gaza.

"A Faixa de Gaza será entregue aos Estados Unidos por Israel ao fim dos confrontos. Os palestinos já terão sido realocados em comunidades mais seguras e bonitas, com casas novas e modernas, na região. Eles terão a chance de serem felizes, seguros e livres", publicou Trump, na rede Truth Social, na manhã de quinta.

O presidente disse que a reconstrução da região seria feita com equipes "de todas as partes do mundo" e que soldados dos EUA "não seriam necessários".

Trump apresentou a ideia de que os EUA assumam o controle de Gaza na noite de terça-feira, 4, durante uma visita do premiê israelense Benjamim Netanyahu a Washington. Ele disse que o projeto poderia transformar a região em uma "riviera do Oriente Médio".

A proposta de Trump foi imediatamente rejeitada por países do Oriente Médio e líderes palestinos. Arábia Saudita, Egito, Jordânia, Catar, Emirados Árabes Unidos e a Liga Árabe condenaram a ideia, reforçando o direito dos palestinos à autodeterminação e à criação de um Estado independente.

"Rejeitamos qualquer tentativa de deslocamento forçado da população palestina e reforçamos que qualquer solução para a Faixa de Gaza deve respeitar os direitos legítimos do povo palestino", declarou o governo saudita, que vinha mantendo conversas sobre uma possível normalização das relações com Israel.

Nos Estados Unidos, a proposta também gerou fortes críticas. O senador democrata Chris Van Hollen, membro do Comitê de Relações Exteriores, classificou a ideia de Trump como "limpeza étnica com outro nome" e alertou para os riscos de uma nova escalada de violência no Oriente Médio.

A Autoridade Palestina enfatizou que os palestinos não aceitarão ser expulsos de suas terras e acusou Trump de agir como um "incorporador imobiliário" em vez de um líder global comprometido com a paz. "Gaza não é um pedaço de terra vazio para ser negociado", declarou um porta-voz.

Já Netanyahu aprovou a proposta. "É a primeira boa ideia que eu ouvi. É uma ideia extraordinária que eu acho que deveria ser seguida, examinada e realizada, porque acho que poderia criar um futuro diferente para todos", disse o líder israelense, em uma entrevista à rede americana "Fox.

Trump não detalhou como essa ideia seria executada, nem mencionou prazos. Segundo a imprensa americana, assessores deles foram pegos de surpresa pelo anúncio.

Conflito de décadas

Israelenses e palestinos vivem um conflito de décadas, que se intensificou em 2023, quando terroristas do grupo palestino Hamas invadiram Israel, mataram mais de mil pessoas e fizeram reféns, que foram levados para Gaza.

Em seguida, Israel iniciou uma guerra, que destruiu praticamente toda a Faixa de Gaza. O UNEP (programa ambiental da ONU) estima que 1,9 milhão de pessoas, ou 90% da população de Gaza, foi desalojada. As redes de água e energia estão praticamente todas destruídas e foram geradas mais de 50 milhões de toneladas de entulho. Só para remover essa montanha de detritos poderá levar mais de 20 anos, prevê a entidade.

Países vizinhos, como Egito e Jordânia, se recusaram a receber os palestinos, que disseram querer ficar em seu território, apesar da destruição gerada pela guerra.

Em janeiro, começou um cessar-fogo entre Israel e Hamas, que segue em vigor. Israel suspendeu os ataques em Gaza e vem retirando seus soldados dali, em troca da libertação gradual de reféns.

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