Donald Trump e Elon Musk, que trabalharão juntos no governo dos EUA (Chris Unger/Reprodução)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 19 de janeiro de 2025 às 10h00.
A relação com o Congresso será primordial para o sucesso das promessas de Donald Trump. O presidente eleito tem maioria, mas são margens estreitas: 52 a 47 no Senado e 219 a 215 na Câmara. Assim, caso alguns poucos parlamentares não votem com o governo, as propostas podem ser barradas.
Para complicar, o Partido Republicano vive um racha interno nos últimos anos, especialmente na Câmara. No começo de 2023, o partido precisou de 15 rodadas de votação no Plenário para escolher o presidente da Câmara, mesmo tendo a maioria da Casa. Nove meses depois, o escolhido, Kevin McCarthy, foi derrubado do cargo após um movimento de uma ala mais radical do partido.
Em janeiro deste ano, houve um novo susto: Mike Johnson não teve apoio suficiente na primeira rodada de votação para se reeleger presidente da Casa, mesmo sendo o candidato de Trump. Ele precisou convencer alguns colegas a mudarem seus votos, após eles terem sido proferidos, e evitou uma derrota no último minuto.
Para Maurício Moura, professor da Universidade George Washington, o primeiro embate do novo presidente com o Congresso se centrará em uma das promessas de campanha: os cortes de impostos. Nesse tema, será preciso decidir quem terá abatimentos e quem não — e lidar com as insatisfações que virão.
Ao formar o governo, Trump escolheu praticamente apenas aliados próximos, o que gerou incômodo. "Já vemos uma parte do Partido Republicano descontente com algumas indicações. Ele vai ter problemas por não ter acomodado nenhuma corrente política. Ele escolheu gente muito próxima dele, mas que não dialoga com a representação republicana no Congresso", afirma Moura.
Outra promessa de Trump que deverá enfrentar resistência no Legislativo é o plano de enxugar o governo, ao eliminar agências, gastos públicos e regulações. Foi criado um Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, no inglês), chefiado pelos empresários Elon Musk e Vivek Ramaswamy.
Oficialmente, o órgão não faz parte do governo, mas dará sugestões de como cortar gastos. Porém, a maior parte dos dispêndios do governo federal envolvem despesas obrigatórias, como o programa Social Security, que auxilia americanos na velhice, as despesas militares e os juros de dívida.
Mexer em gastos implicará em comprar brigas com o Congresso, que dá a palavra final sobre o Orçamento federal a cada ano. "Trump vai ter grau de manobra neste primeiro semestre e vai tentar empurrar a questão rápido, mas cada gasto tem seu dono, o que gera dúvidas sobre a capacidade de se conseguir fazer cortes", diz Christopher Garman, diretor para as Américas na consultoria Eurasia.
Além de cargos e gastos, Trump promete desburocratizar a vida das empresas. Embora o tema também dependa de aval do Congresso, a possibilidade animou os investidores e tem valorizado companhias americanas. "Haverá políticas mais amigáveis ao setor privado, e isso está refletindo na valorização da bolsa americana. Os mercados estão alinhados com essa visão", diz Garman.