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Trump se prepara para anunciar mudanças nas relações com Cuba

Entre as medidas de Trump pode estar a proibição de transações entre empresas e instituições americanas a entidades vinculadas às Forças Armadas cubanas

Cuba e EUA: até o momento, a Casa Branca se limitou a informar que Trump visitará Miami, onde mora a maior comunidade cubana em solo americano (Foto/Getty Images)

Cuba e EUA: até o momento, a Casa Branca se limitou a informar que Trump visitará Miami, onde mora a maior comunidade cubana em solo americano (Foto/Getty Images)

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AFP

Publicado em 16 de junho de 2017 às 06h38.

O presidente americano, Donald Trump, se prepara para anunciar mudanças na reaproximação iniciada com Cuba no final de 2014, entre as quais pode estar a proibição de transações entre empresas e instituições americanas a entidades vinculadas às Forças Armadas cubanas, que controlam o turismo na ilha.

Segundo informações divulgadas nesta quinta-feira por um alto funcionário americano que pediu para ter sua identidade preservada, esta é apenas uma das medidas que Trump pretende anunciar e que seriam adotadas em um prazo ainda indeterminado.

Até o momento, a Casa Branca se limitou a informar que Trump visitará Miami, onde mora a maior comunidade cubana em solo americano, na sexta-feira para fazer o anúncio, mas manteve um silêncio hermético sobre as medidas projetadas.

O presidente anunciará a proibição de qualquer transação financeira com o Grupo de Administração de Empresas (GAESA), uma holding estatal que, segundo Washington, beneficia diretamente altos oficiais das Forças Armadas.

Além disso, Washington restabelecerá um grupo de doze categorias em que os americanos interessados em viajar a Cuba terão que se encaixar para poder receber suas licenças de viagem, explicou o funcionário.

Em Washington especula-se que Trump poderia anunciar restrições aos investimentos americanos em empresas cubanas que tenham relação com as forças armadas da ilha, por exemplo.

Também se espera uma redução no número autorizado de viagens de cidadãos americanos como turistas a Cuba, talvez só uma viagem ao ano.

Desde que Barack Obama e Raúl Castro surpreenderam o mundo em 17 de dezembro de 2014, ao anunciar uma nova fase nas relações bilaterais, Washington tentou avançar no desmonte de algumas medidas administrativas de restrição ao comércio e às viagens.

No entanto, desde a campanha eleitoral de 2016, Trump comprometeu-se a rever a política de Washington com relação a Havana, e deve anunciar na sexta-feira, em Miami, um pacote de mudanças.

Pressões divergentes

Esta iniciativa deve ser vista em um contexto de contrastes marcantes.

De um lado, diversas pesquisas mostram que no geral a maioria da população de origem cubana que mora nos Estados Unidos defende melhores relações com Cuba, inclusive a enorme comunidade cubana radicada no estado da Flórida.

Ao mesmo tempo, essa comunidade cubana foi um elemento fundamental na campanha eleitoral: esse grupo apoiou Trump maciçamente, permitindo-lhe vencer na Flórida, um passo essencial para que chegasse à Casa Branca.

Da mesma forma, o lento processo de reaproximação entre os Estados Unidos e Havana teve desde o primeiro dia o apoio entusiasmado de diversos setores empresariais, especialmente os ligados à agricultura, ao turismo e às telecomunicações.

A política americana anterior com relação a Cuba impediu empresas locais atuarem na ilha, e isto permitiu que muitas empresas europeias conseguissem acordos vantajosos.

A partir de 2015, empresas americanas prepararam investimentos para apoiar sua atuação em Cuba, e a Casa Branca certamente encontrará dificuldades em adotar estas iniciativas.

Para o advogado Pedro Freyre, o cenário criado pelo restabelecimento de relações diplomáticas não deverá sofrer mudanças fundamentais.

Trump possivelmente lançará "uma política mais restritiva ou mais rígida, mas dentro da perspectiva de manter o processo de comunicação aberto", disse Freyre à AFP.

"Os dois países continuam tendo grandes diferenças no campo político, nos direitos humanos e também nos negócios, mas não houve uma ação dramática que possa justificar uma ruptura", destacou Freyre, que é considerado uma referência nas relações comerciais com Cuba.

Retrocesso arriscado

Há uma semana, cerca de 50 mulheres cubanas que querem iniciar suas empresas enviaram uma carta pessoal para a filha do presidente, Ivanka Trump, para convidá-la a visitar a ilha e testemunhar o impacto positivo que a reaproximação teve.

Segundo esta carta, "milhões de cubanos" se beneficiaram desta reaproximação pelo crescimento nos setores de hotelaria, restaurantes e até desenvolvimento de software.

De forma simétrica, segundo o grupo de análise Engage Cuba, a interrupção do processo de aproximação com a ilha colocaria em risco nada menos que dez mil empregos nos Estados Unidos, só no setor dos transportes.

Para Jason Marzak, do grupo de análise Atlantic Council, empresas como "Airbnb, Google e dezenas de outras investiram milhões" para se beneficiar da reaproximação.

"Estes investimentos não podem ser postos em risco por políticas obsoletas que já provaram que não funcionam", destacou.

Além disso, destacou, "Cuba tem colaborado com a ONU em desafios compartilhados, como o tráfico de drogas, ajuda em casos de desastres ou prevenção de doenças. Deveríamos buscar novas formas de agir juntos".

Mais de 250 mil americanos visitaram Cuba nos primeiros cinco meses de 2017, o que representou um crescimento de 145% com relação ao mesmo período de 2016, reportou na quarta-feira um portal cubano, citando fontes oficiais.

"Ao fim de maio, segundo informação do Escritório Nacional de Estatísticas e Informação, visitaram Cuba 284.565 americanos, uma cifra que quase iguala a quantidade de visitantes do país do norte que vieram durante todo [o ano de] 2016", indicou o portal governista Cubadebate.

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