Mundo

Trump retira projeto de reforma da saúde por falta de apoio

O presidente americano retirou o polêmico projeto de reforma do sistema público de saúde, ao constatar que não teria os votos necessários para aprovação

O Presidente americano Donald Trump (Carlos Barria/Reuters)

O Presidente americano Donald Trump (Carlos Barria/Reuters)

A

AFP

Publicado em 25 de março de 2017 às 10h18.

Em uma dura derrota política para seu início de governo, o presidente americano, Donald Trump, retirou nesta sexta-feira o polêmico projeto de reforma do sistema público de saúde, ao constatar que não teria os votos necessários para a sua aprovação.

Em discurso à nação do Salão Oval da Casa Branca, Trump disse ter ficado "desapontado" e um "pouco surpreso" com o revés. O presidente previu que o modelo atual "explodirá" e disse que agora vai se concentrar em reformar o sistema fiscal.

"Provavelmente vamos nos mover de imediato para a reforma fiscal", disse o presidente no Salão Oval da Casa Branca. "Estivemos muito perto" de aprovar a polêmica reforma do modelo de saúde pública, "nos faltou talvez 10 a 15 votos".

"Mas aprendemos muito com isto, foi uma experiência muito interessante", acrescentou Trump.

Em coletiva de imprensa, o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, afirmou ter falado comTrump para lhe dizer que "o melhor a fazer era retirar este projeto de lei, e ele concordou".

Sem esconder sua frustração, Ryan disse que o atual sistema de seguros saúde "é a lei".

"Não temos os votos suficientes para substituir esta lei. De forma que sim, teremos que conviver com o Obamacare por enquanto", expressou.

Os republicanos ocupam 237 cadeiras do total de 435 da Câmara de Representantes, e Trump precisava de 216 votos para aprovar sua proposta e sepultar o atual modelo do sistema público de saúde, conhecido como Obamacare.

Mas a posição ultraconservadora da bancada republicana ficou irredutível, e os visíveis esforços da Casa Branca em busca de um acordo fracassaram.

Uma hora antes do horário previsto para a votação do projeto de lei, Ryan foi à Casa Branca informar Trump que o texto não seria aprovado "e o presidente lhe pediu que retirasse o projeto de lei", disse à AFP um auxiliar do influente legislador.

O projeto de lei devia ter sido votado na tarde desta quinta-feira, mas diante do evidente racha interno no Partido Republicano, a decisão acabou sendo adiada para esta sexta.

O presidente, que tinha feito da reforma do Obamacare uma de suas mais importantes promessas de campanha, empreendeu esforços de última hora para conseguir unidade partidária e garantir a aprovação do projeto de reforma.

Neste esforço, Trump pôs em jogo sua fama de negociador nato, mas ele fracassou em convencer a ala ultraconservadora republicana a apoiar o projeto.

Trata-se de um grave tropeço político para Trump neste início de mandato, que arranha sua reputação e afeta sua capacidade de negociação com o Congresso.

Promessa de campanha

A substituição do Obamacare foi uma das principais promessas de campanha de Trump, que sempre qualificou o sistema de "verdadeiro desastre".

Mas após sua posse, Trump e os legisladores do Partido Republicano perceberam que era preciso propor uma legislação alternativa, o que acabou por minar a unidade por trás do presidente.

O projeto de lei de Trump buscava recompor parte do sistema que vigorava antes do Obamacare (com seguros de saúde basicamente sem regulamentação), mas conservava alguns elementos da lei de Barack Obama, como a cobertura de doenças pré-existentes na contratação de novas coberturas.

Ainda assim, a comissão do Congresso encarregada de estatísticas concluiu que o projeto apresentado por Trump deixaria 14 milhões de pessoas sem cobertura a curto prazo, cifra que poderia chegar a 20 milhões em alguns anos.

Após a amarga derrota política desta sexta-feira, Trump reafirmou que mantém sua confiança em Ryan e destacou que tem "amigos" no bloco de legisladores que se negaram a apoiar sua proposta de reforma, condenando-a ao fracasso.

Hollywood festeja fracasso

As estrelas de Hollywood comemoraram nesta sexta-feira o fracasso de Trump em sua tentativa de abolir o Obamacare.

"Foi demais para a Arte da Negociação", tuitou o documentarista Michael Moore em alusão ao livro do republicano "A arte da negociação", escrito quando estava no mercado imobiliário.

Moore, ferrenho opositor de Trump, ainda usou a hashtag #Loser (#Perdedor), adjetivo comumente empregado pelo presidente para se referir a seus adversários.

"O chefe da Câmara de Representantes, Paul Ryan, se desculpa por não ter destruído a vida de 26 milhões de americanos", acrescentou o diretor de "Massacre em Columbine".

O gabinete de orçamento do Congresso estimou que esse seria o número de pessoas que perderiam a cobertura de saúde se o projeto de Trump fosse implementado.

A cantora e atriz Bette Midler publicou uma foto de uma luva hospitalar fazendo um gesto obsceno com a legenda: "encontrei isto fora da Trump Tower".

John Legend, também músico e ator, comemorou a "vitória real" de hoje. É o que acontece "quando seu sonho, seu objetivo, é aprovar uma lei que acabará com a cobertura de saúde de 24 milhões. Miserável", acrescentou.

O ator Mark Ruffalo comemorou a "resistência por sua vitória". "A decência ganhou", declarou.

"Obrigado presidente @BarackObama por sua compaixão e serviço. Sem ela, os republicanos não estariam sequer pensando em fornecer uma política de saúde", escreveu Bryan Cranston, estrela da série "Breaking Bad".

Rosie Pérez, atriz e ativista, escreveu que "não era hora de se regojizar, mas de agradecer aos legisladores eleitos que não votaram 'sim' pelo Trumpcare". "É tempo de agir sem partidos e melhorar, não revogar o Obamacare".

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)Saúde

Mais de Mundo

Otan afirma que uso de míssil experimental russo não vai dissuadir apoio à Ucrânia

Líder da Coreia do Norte diz que diálogo anterior com EUA apenas confirmou hostilidade entre países

Maduro afirma que começa nova etapa na 'poderosa aliança' da Venezuela com Irã

Presidente da Colômbia alega ter discutido com Milei na cúpula do G20