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Trump retira EUA de acordo nuclear com Irã e retomará sanções

A renovação das sanções dificultaria muito a venda do petróleo iraniano, assim como o uso do sistema bancário internacional pelo país.

Trump disse em um pronunciamento televisionado a partir da Casa Branca que vai reinstaurar as sanções econômicas ao Irã (Jonathan Ernst/Reuters)

Trump disse em um pronunciamento televisionado a partir da Casa Branca que vai reinstaurar as sanções econômicas ao Irã (Jonathan Ernst/Reuters)

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Reuters

Publicado em 8 de maio de 2018 às 21h17.

Washington - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou nesta terça-feira o país de um acordo nuclear internacional com o Irã, aumentando o risco de conflitos no Oriente Médio, irritando aliados europeus e lançando incerteza sobre o fornecimento mundial de petróleo.

Trump disse em um pronunciamento televisionado a partir da Casa Branca que vai reinstaurar as sanções econômicas ao Irã para minar "um acordo horrível, que só contempla um lado e que não deveria nunca, nunca ter sido feito".

O acordo de 2015, estabelecido por Estados Unidos, cinco outras potências mundiais e o Irã, suspendeu as sanções ao Irã em troca do governo de Teerã limitar seu programa nuclear. O pacto foi desenvolvido para evitar que o Irã obtivesse armas nucleares.

Trump reclama que o acordo, um dos principais feitos na política externa de seu antecessor democrata, Barack Obama, não aborda o programa de mísseis balísticos do Irã, as atividades nucleares do país depois de 2025 ou o seu papel nos conflitos no Iêmen e na Síria.

O Irã tem ampliado sua influência política e militar no Oriente Médio nos últimos anos, preocupando profundamente os principais aliados dos EUA na região: Israel e Arábia Saudita.

Ressaltando as tensões na região, as forças militares israelenses entraram em alerta máximo nesta terça-feira diante de um possível atrito com a vizinha Síria, cujo governo é aliado do Irã.

Um ataque aéreo israelense mirou uma posição do Exército sírio ao sul de Damasco na terça-feira, mas não causou vítimas, disse à Reuters um comandante na aliança regional que apoia o presidente sírio, Bashar al-Assad.

Abandonar o acordo com o Irã foi o mais recente episódio na campanha de Trump "A América Primeiro", que levou os Estados Unidos a anunciar sua retirada do acordo climático de Paris, chegar perto de uma disputa comercial com a China e a saída do Acordo Comercial Ásia-Pacífico.

O presidente iraniano, Hassan Rouhani, disse nesta terça-feira que o país continuaria no acordo mesmo sem Washington.

A televisão estatal iraniana informou que a decisão de Trump é "ilegal, ilegítima e mina acordos internacionais".

A renovação das sanções dificultaria muito a venda do petróleo iraniano, assim como o uso do sistema bancário internacional pelo país.

O Irã é o terceiro maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, com produção de aproximadamente 3,8 milhões de barris por dia, algo em torno de 4 por cento da produção mundial da commodity. China, Índia, Japão e Coreia do Sul são os principais compradores dos 2,5 milhões de barris por dia exportados pelo Irã.

De acordo com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, as sanções relacionadas aos setores energético, automotivo e financeiro do país serão restabelecidas em um período entre três e seis meses.

Os preços do petróleo subiram, recuperando algumas perdas, após o anúncio de Trump, em uma sessão volátil na qual os preços haviam caído até 4 por cento no início do dia.

Acordo "podre"

Trump afirmou que o acordo nuclear não prevenia o Irã de trapacear e continuar sua busca por armas nucleares.

"Está claro para mim que nós não podemos impedir uma bomba nuclear do Irã sob a estrutura podre e decadente do atual acordo", disse. "O acordo com o Irã é falho em seu cerne."

O Irã nega ter tentado fabricar armas atômicas e diz que seu programa nuclear tem objetivos pacíficos. Inspetores da ONU dizem que o Irã não desrespeitou o acordo nuclear e as próprias autoridades norte-americanas já afirmaram diversas vezes que o Irã cumpria tecnicamente o acordo.

Trump disse estar disposto a negociar um novo acordo com o Irã, mas Teerã já descartou essa possibilidade, ameaçando com retaliações não especificadas se Washington se retirasse.

A decisão de Trump desdenha aliados europeus como a França, o Reino Unido e a Alemanha, que também assinaram o documento e se esforçaram para que os Estados Unidos o preservasse. Os europeus devem agora se mexer para encontrar um novo jeito de proceder com Teerã.

A China e a Rússia também são países signatários do mesmo acordo.

Os líderes de Reino Unido, Alemanha e França disseram em um comunicado conjunto que a decisão de Trump era motivo de "pesar e preocupação", exigindo que os Estados Unidos não tomem atitudes que dificultem a vida para outros países que ainda queiram continuar no acordo com o Irã.

Obama descreveu a decisão de Trump de se retirar do acordo, conhecido formalmente como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), como "equivocada".

"Acredito que a decisão de colocar o JCPOA em risco sem nenhuma violação iraniana no acordo é um erro sério", disse Obama em nota.

O poder político e militar crescente do Irã no Iêmen, na Síria, no Líbano e no Iraque preocupa os Estados Unidos, Israel e seus aliados árabes, como a Arábia Saudita.

Israel troca agressões com forças iranianas na Síria desde fevereiro, aumentando as preocupações de que uma escalada no conflito esteja perto.

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