Apple: companhia de tecnologia se tornou alvo da guerra comercial entre China e EUA ( Cheng Xin/Getty Images)
Repórter
Publicado em 11 de abril de 2025 às 17h44.
Última atualização em 11 de abril de 2025 às 18h18.
Levar a fabricação do iPhone da China para os Estados Unidos não deve acontecer tão cedo — e a mudança poderia triplicar o preço dos smartphones da Apple. Essa preocupação surge em meio à intensificação da guerra comercial entre os dois países.
Nesta quinta-feira, 10, o presidente Donald Trump anunciou uma tarifa de 145% sobre produtos chineses, atingindo diretamente a China, o principal polo de fabricação dos iPhones. Em resposta, o governo chinês elevou para 125% as tarifas sobre produtos americanos.
A medida faz parte da estratégia de Trump para fortalecer a indústria doméstica, uma das bandeiras centrais de sua gestão. Dentro desse contexto, ele vem pressionando para que a Apple traga a fabricação de seus dispositivos para os EUA. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou nesta semana o plano da empresa de investir US$ 500 bilhões no país até 2028 como sinal de avanço nessa direção.
A Casa Branca afirmou esta semana que o Trump acredita que os EUA têm a força de trabalho e os recursos para fabricar iPhones no país. O CEO da Apple, Tim Cook, e ninguém mais na empresa de tecnologia se manifestou para apoiar essa afirmação, mas analistas que acompanham a Apple dizem que a ideia de um iPhone fabricado nos EUA é, na pior das hipóteses, impossível e, na melhor das hipóteses, muito cara.
Em um comunicado divulgado nesta quinta-feira, o analista do Bank of America, Wamsi Mohan, disse que o iPhone 16 Pro, que atualmente custa US$ 1.199 no país, poderia aumentar 25% apenas com base nos custos de mão de obra. Isso o tornaria um dispositivo de aproximadamente US$ 1.500.
Em entrevista à CNBC, Dan Ives, analista da empresa de investimentos Wedbush Securities, estimou que a Apple precisaria gastar US$ 30 bilhões em três anos para transferir 10% de sua cadeia de suprimentos para os EUA.
Atualmente, a Apple fabrica mais de 80% de seus produtos na China. Esses produtos agora recebem um imposto de 145% quando importados para os EUA, após as tarifas de Trump entrarem em vigor esta semana.
Especialistas afirmam que a produção de iPhones com etiqueta Made in the USA (“Feito nos EUA”, numa tradução livre) enfrentaria sérios desafios, que vão desde encontrar e pagar uma mão de obra americana até os custos tarifários que a Apple incorreria ao importar peças para os EUA para a montagem final.
Há amplo consenso entre analistas e observadores do setor de que isso é improvável. “Simplesmente não é uma realidade que, dentro do prazo de imposição de tarifas, isso vá mudar a produção aqui. É uma utopia”, disse Jeff Fieldhack, diretor de pesquisa da Counterpoint Research, em entrevista à CNBC.
A Apple faz os projetos de seus produtos na sede em Cupertino, na Califórnia, mas eles são produzidos por fabricantes terceirizados, como a Foxconn, a principal fornecedora da empresa.
Mesmo que a Apple investisse pesado para que a Foxconn ou outro parceiro concordasse em fabricar alguns iPhones nos EUA, levaria anos para construir as fábricas e instalar o maquinário, e não há garantia de que a política comercial dos EUA não mude novamente de forma a tornar a fábrica menos útil.
Os EUA não têm a mesma força de trabalho que a China, embora o enorme número de trabalhadores necessários para fabricar iPhones seja um dos atrativos para o governo Trump.
A Foxconn fabrica iPhones e outros produtos da Apple em enormes locações que incluem dormitórios. Os trabalhadores costumam viajar de regiões próximas para trabalhar na fábrica por curtos períodos, e o emprego aumenta sazonalmente no verão, antes do lançamento dos novos iPhones no outono. O sistema bem estruturado ajuda a Apple a produzir mais de 200 milhões de celulares por ano.
Além disso, ao longo dos anos, a Foxconn tem sido alvo de inúmeras críticas devido às condições de trabalho, inclusive em 2011, quando a empresa instalou redes ao redor de alguns de seus prédios após uma onda de suicídios de trabalhadores. Grupos de supervisão afirmam que o trabalho da Foxconn é extenuante e que os trabalhadores são pressionados a fazer horas extras.
Apesar das condições de trabalho, a multinacional taiwanesa contratou 50 mil trabalhadores adicionais em sua maior fábrica em Henan, na China, para fabricar iPhones suficientes antes do lançamento dos modelos mais recentes em setembro, informou a mídia chinesa no outono passado.
Mas os trabalhadores chineses recebem muito menos do que os trabalhadores americanos. O salário-hora durante o lançamento do iPhone 16 era de 26 yuans, ou US$ 3,63, com um bônus de contratação de 7,5 mil yuans, ou cerca de US$ 1 mil, de acordo com o site South China Morning Post. Para efeito de comparação, o salário mínimo na Califórnia é de US$ 16,50 por hora.
Segundo o Bank of America, o custo da mão de obra para montar e testar um iPhone nos EUA seria de US$ 200 por iPhone, acima dos US$ 40 na China.
O CEO da Apple, Tim Cook, também disse que outro problema é que os trabalhadores americanos não têm as habilidades necessárias. Em 2017, Cook afirmou à imprensa americana que não há engenheiros de ferramentas suficientes nos EUA. Esses profissionais trabalham e configuram as máquinas que utilizam os designs sofisticados da Apple, que vêm na forma de arquivos de computador, e os transformam em objetos físicos.
"O motivo é a quantidade de habilidades em um único local, e o tipo de habilidade que é", disse Cook quando questionado em uma conferência sobre o motivo pelo qual a Apple produz tanto na China.