Trump e filho: os fatos, revelados pelo Washington Post, datam de 8 de julho (Mike Segar/Reuters)
AFP
Publicado em 1 de agosto de 2017 às 14h26.
A cada dia uma nova revelação vem à tona na Casa Branca: Donald Trump teria elaborado sua versão própria da história do encontro entre seu filho e uma advogada russa durante a campanha presidencial, correndo o risco de se ver no centro do escândalo.
Este novo episódio do caso russo, desta vez envolvendo diretamente o presidente dos Estados Unidos, foi revelado poucas horas após a renúncia, na segunda-feira, do polêmico Anthony Scaramucci, que permaneceu apenas dez dias no cargo de chefe de comunicações da Casa Branca.
Os fatos, revelados pelo Washington Post, datam de 8 de julho. Os conselheiros do bilionário se reuniram, à margem do G20 na Alemanha, para decidir qual explicação a Casa Branca daria sobre o encontro de Donald Trump Jr. com a advogada Natalia Veselnitskaya.
Eles decidiram dar um passo à frente, antes que o encontro fosse revelado pela imprensa, e emitiriam uma declaração detalhando todos os fatos, para não serem surpreendidos.
Mas o próprio Donald Trump, a bordo do avião presidencial Air Force One, decidiu o contrário. Ditou uma versão mínima dos fatos em que seu filho mais velho teria discutido com a advogada, em junho de 2016, sobre um "programa de adoção de crianças russas."
Pouco depois, soube-se que "Don Junior" havia aceitado encontrar Natalia Veselnitskaya porque ela tinha sido apresentada como uma representante do governo russo, em posse de informações potencialmente comprometedoras sobre a democrata Hillary Clinton.
O encontro aconteceu na Trump Tower, em Nova York, na companhia do genro do agora presidente, Jared Kushner, e do diretor de sua campanha, Paul Manafort.
De acordo com o Post, citando fontes anônimas, os conselheiros do presidente temiam que o envolvimento direto de Donald Trump pudesse deixá-lo em uma posição jurídica perigosa.
Tudo isso, enquanto várias investigações, principalmente a conduzida pelo procurador especial Robert Mueller, focam na interferência russa na eleição presidencial americana, bem como num possível conluio entre a equipe de campanha Trump e Moscou.
"Foi... inútil", declarou ao jornal um conselheiro de Donald Trump, falando da intervenção presidencial. "Ele não pensa que pode ser perigoso em termos legais; ele vê isso como um problema político que deve resolver por conta própria", afirmou a mesma fonte.
Um dos advogados do presidente republicano, Jay Sekulow, reagiu a este artigo, dizendo que, "além de não ter consequências, essas afirmações são imprecisas e irrelevantes".
O 45º presidente dos Estados Unidos não reagiu diretamente a esta revelação, mas lamentou nesta terça-feira em um tuite que "apenas os meios de 'fake news' e os inimigos Trump querem que (ele) deixe de usar as redes sociais", afirmando que a internet representa a "única maneira de fazer a verdade aparecer".
Donald Trump, que, contra todas as evidências, garantiu na segunda-feira que "não há caos na Casa Branca", procura revigorar sua administração depois de uma semana de pesadelo: derrotas políticas, incluindo sobre a reforma da saúde, disputas internas, declarações injuriosas e grosseiras...
Estas declarações custaram a Anthony Scaramucci seu cargo. Com o lunático de óculos escuros, o presidente esperava acabar com a espiral de vazamentos de informações para a imprensa, que o obcecava.
Mas, com ou sem Scaramucci, a imprensa americana continua a dedicar suas manchetes à presidência dia após dia.
Para tentar ajustar os parafusos, Donald Trump retirou uma nova carta da manga ao nomear a o general John Kelly ao posto de secretário-geral da Casa Branca.
Já exasperado com o caso russo que envenena sua presidência, Donald Trump ainda não se manifestou pessoalmente sobre a decisão, anunciada no domingo, do presidente russo Vladimir Putin de cortar 755 funcionários do corpo diplomático americano na Rússia.