Trump não é um homem de guerra? Essa faceta pode estar em xeque (Tom Brenner/Reuters)
Lucas Amorim
Publicado em 4 de agosto de 2020 às 13h28.
Última atualização em 4 de agosto de 2020 às 14h39.
Para além da verborragia no Twitter e nas entrevistas, investidores e empresários veem um punhado de qualidades no presidente americano Donald Trump. A política de corte de impostos para grandes negócios é uma delas. A aversão a conflitos militares é outra. Trump, na visão majoritária de Wall Street, é um bufão, mas não é um homem de guerra. Essa faceta, porém, pode estar em xeque.
O jornal South China Morning Post, sediado em Hong Kong e um dos principais veículos independentes da China, publicou nesta terça-feira reportagem sobre um possível conflito militar no Mar do Sul da China. Segundo a publicação, Wang Yunfei, um oficial naval chinês aposentado, escreveu recentemente uma coluna de um site militar que Trump, 10 pontos percentuais atrás nas pesquisas para as eleições de novembro, pode começar um conflito militar "controlado" contra o chineses. Militares chineses não costumam falar sobre temas internacionais, ainda mais desta relevância, sem aval de instâncias superiores.
O Mar do Sul da China é uma região historicamente em disputa — os chineses acreditam ter a dominação militar de suas ilhas há pelo menos 2.000 anos, quando dominavam a Ásia militar e economicamente. Segundo Yunfei, um dos alvos mais prováveis de ataque de Trump seria o Recife de Scarborough, uma região sem moradores nem construções. A área foi alvo de uma batalha judicial entre China e Filipinas na Corte Internacional de Haia, com decisão contrária aos chineses. Atualmente, está sob domínio chinês, mas foi usada recentemente em exercícios militares americanos junto com as Filipinas.
"Não há tropas estacionadas lá, então as consequências de um conflito diplomático seriam relativamente pequenas", escreveu Wang, segundo o SCMP. "Os militares americanos também podem tentar humilhar os chineses em nome de uma redenção de seu campo de treinamento."
Um problema adicional do eventual ataque seria desagradar as Filipinas, do linha-dura Rodrigo Duterte, que se elegeu comparando-se a Donald Trump. Na segunda-feira, Duterte afirmou que não vai mais participar de exercícios conjuntos com os americanos na região, num movimento pensado para aparentemente não desagradar Pequim.
Trump e o governo de Xi Jinping estão numa escala de conflito no que vem sendo chamado de Nova Guerra Fria. Um dos principais pontos de atrito é o aplicativo chinês TikTok, que Trump estuda banir dos Estados Unidos e tem feito pressão para que seja vendido à Microsoft. Trump também vem pressionando seus aliados, como o Reino Unido, a não aceitar que a gigante chinesa de tecnologia Huawei participe de leilões de 5G.
Além disso, o governo americano vem criticando a postura chinesa com relação a Hong Kong — a ilha aprovou uma nova lei que permite a extradição de manifestantes para a China e adiou por um ano eleições que provavelmente seriam vencidas pela oposição. Trump, por sua vez, também sugeriu adiar as eleições de novembro, que têm o democrata Joe Biden como favorito. Trump e Xi têm ambições parecidas — que podem vir a se encontrar, segundo o militar chinês Wang Yunfei, no inóspito Recife de Scarborough.