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Trump pede união no Congresso, mas insiste em construir o muro

"Os muros funcionam e muros salvam vidas. Então vamos trabalhar juntos, encontrar um compromisso e chegar a um acordo", disse o presidente

Donald Trump: presidente defende a gestão e ataca suspeitas contra o seu governo em discurso anual (Kevin Lamarque/Reuters)

Donald Trump: presidente defende a gestão e ataca suspeitas contra o seu governo em discurso anual (Kevin Lamarque/Reuters)

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AFP

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 06h32.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2019 às 10h08.

Diante do Congresso, o presidente americano, Donald Trump, pediu na terça-feira à noite a concórdia e o compromisso para superar a paralisação política, mas insistiu na necessidade de construir um muro na fronteira com o México, tema que provoca profundas divisões.

Trump usou o tradicional discurso anual sobre o Estado da União, exibido na TV em horário nobre para uma grande audiência, para pedir unidade, sem deixar de criticar o que considera investigações "ridículas" e "partidárias", em referência ao inquérito sobre um suposto conluio de sua campanha presidencial com a Rússia, algo que ofusca seu mandato.

Dois anos após o início de seu mandato e com a reeleição em 2020 na mira, Trump enfrenta tudo menos unidade: os democratas controlam a Câmara de Representantes e os republicanos o Senado, mas sua retórica inflamada afeta sua posição até mesmo dentro de seu partido.

"Devemos rejeitar a política da vingança, a resistência e a represália. E abraçar o potencial ilimitado de cooperação, o compromisso e o bem comum", disse Trump, em um discurso interrompido várias vezes pelos aplausos de seus partidários.

"Podemos superar as velhas divisões, curar velhas feridas, formar novas coalizões, encontrar novas soluções (...) A decisão é nossa", afirmou, diante de mais de 500 congressistas, incluindo muitas democratas vestidas de branco para homenagear o centenário do movimento sufragista.

A construção do muro

A apenas 10 dias do fim do prazo que deu ao Congresso para financiar seu muro, e evitar assim um novo conflito orçamentário como o que provocou a paralisação recente de 35 dias do governo - um recorde -, o presidente afirmou que prosseguirá com seu principal projeto para frear a imigração ilegal, que a oposição democrata rejeita de modo veemente.

"Vou fazer com que construam", prometeu. "Os muros funcionam e muros salvam vidas. Então vamos trabalhar juntos, encontrar um compromisso e chegar a um acordo que realmente faça os Estados Unidos seguros", acrescentou Trump.

Mas ele não declarou a "emergência nacional" que havia ameaçado, algo que concederia poderes extraordinários à presidência para tomar decisões sem o aval do Congresso, o que os democratas já anunciaram que impugnariam.

"São os imigrantes, não os muros, que fazem os Estados Unidos mais fortes", afirmou após o discurso Stacey Abrams, que por pouco não se tornou a primeira governadora negra da Geórgia nas eleições de novembro e foi designada para apresentar a resposta ao presidente em nome dos democratas.

No discurso, Trump criticou a investigação do promotor especial Robert Mueller sobre a suposta interferência russa, o que ele chama de "caça às bruxas".

""Um milagre econômico está ocorrendo nos Estados Unidos, e a única coisa que pode impedi-lo são guerras tolas, políticas ou investigações partidárias ridículas", disse, o que gerou uma reação de desagrado da influente presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

Coreia do Norte, talibãs e Venezuela

Trump também defendeu sua política externa, um tema delicado.

"As grandes nações não travam guerras intermináveis", disse, depois da derrota sofrida na segunda-feira no Senado com a aprovação, por ampla maioria, de uma emenda que critica sua decisão de retirar as tropas americanas da Síria e do Afeganistão.

O republicano afirmou que as negociações com os talibãs avançam de forma "construtiva", demonstrando esperança e, ao mesmo tempo, cautela sobre a possibilidade de encerrar a guerra mais longa da história dos Estados Unidos, iniciada pouco depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Como era esperado, o presidente anunciou o segundo encontro de cúpula com o líder norte-coreano, Kim Jong Un, no fim de fevereiro no Vietnã, para prosseguir com as negociações sobre o desarmamento nuclear da Coreia do Norte.

"Se eu não tivesse sido eleito presidente dos Estados Unidos, estaríamos agora, em minha opinião, em uma grande guerra com a Coreia do Norte", disse Trump.

Ao falar sobre as duras negociações comerciais com a China, o tom foi duro.

"Agora deixamos claro para a China, depois de anos assediando nossas indústrias e roubando nossa propriedade intelectual, que o roubo de empregos e riqueza nos EUA terminou", disse o presidente em seu discurso sobre o Estado da União.

Trump destacou ainda o apoio à "busca da liberdade" na Venezuela, denunciando a "brutalidade do regime" de Nicolás Maduro e reiterando o apoio ao "novo presidente interino" Juan Guaidó.

"Estamos com o povo venezuelano em sua nobre busca pela liberdade", disse Trump. O enviado de Guaidó a Washington, Carlos Vecchio, foi um dos convidados especiais do discurso.

Trump prometeu ainda enfrentar epidemias, como a dos opioides e de HIV.

"Meu orçamento pedirá aos democratas e republicanos que destinem os recursos necessários para eliminar a epidemia de HIV nos Estados Unidos em 10 anos, e juntos derrotaremos a aids na América e além", disse.

O presidente concluiu o discurso de pouco mais de 80 minutos com o mesmo tom unificador do início de sua fala: "Devemos escolher se nos definimos por nossas diferenças ou se temos a audácia de transcendê-las".

O discursofoi interrompido por um "Parabéns a Você" no momento em que Trump apresentou Judah Samet, um sobrevivente do massacre na sinagoga de Pittsburgh em outubro do ano passado.

"Não fariam isto por mim", brincou o presidente.

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