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Trump mantém pressão na cúpula da Otan, que ratificará sua demanda de gastos

Depois de anunciar um cessar-fogo entre Israel e Irã, o republicano chegou a Haia para participar de um banquete oferecido pelo rei holandês Willem-Alexander aos 32 líderes da Aliança Atlântica

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Agência de notícias

Publicado em 24 de junho de 2025 às 17h07.

Última atualização em 24 de junho de 2025 às 17h27.

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Cercada de conflitos, a Otan se prepara para oficializar o drástico aumento de gastos com a Defesa, exigido pelo presidente americano, Donald Trump, que criticou, nesta terça-feira, 24, a negativa da Espanha de cumprir a meta de investir 5% de seu PIB.

Depois de anunciar um cessar-fogo entre Israel e Irã, o republicano chegou a Haia a tempo de participar de um banquete oferecido pelo rei holandês Willem-Alexander aos 32 líderes da Aliança Atlântica.

Trump aproveitou as curtas declarações que deu à imprensa a bordo do Air Force One para pressionar seus parceiros europeus em seu ponto mais sensível: o artigo 5 do Tratado de Washington, que obriga toda a organização a defender um país-membro em caso de ataque.

"Depende de sua definição. Há muitas formas de definir o artigo 5", disse o presidente, em resposta a uma pergunta sobre seu compromisso com a defesa mútua.

Trump criticou a Espanha, que não quer ir além de 2,1% e argumenta que uma meta de 5% a obrigaria a aumentar impostos e sacrificar seus gastos sociais.

"Estão tendo um problema com a Espanha", disse o republicano no avião. "A Espanha não está de acordo [com o aumento dos gastos para 5%], o que é muito injusto para o resto" da Aliança.

É que Donald Trump, cujo país aportou no ano passado 62% do total de gastos de Defesa da Otan, exige que os membros europeus e o Canadá aumentem seu investimento no setor para 5% do PIB nacional daqui a dez anos.

Caso contrário, ameaça não dar assistência em caso de agressão aos "maus pagadores", além de reduzir sua presença militar em um continente sacudido pela invasão russa da Ucrânia.

A caminho dos Países Baixos, o presidente americano também publicou em sua plataforma, Truth Social, uma mensagem elogiosa do organizador da cúpula, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.

"Parabéns e obrigado por sua ação decisiva no Irã, que foi realmente extraordinária (...) Agora você está voando rumo a outro grande êxito em Haia esta noite. Não foi fácil, mas conseguimos que todos consentissem com os 5%!", escreveu Rutte a Trump, em uma mensagem cuja autenticidade foi confirmada para a AFP.

"A Europa pagará ALTO, como deve fazer, e esta vitória será sua", acrescentou Rutte na mensagem a Trump.

"Não estamos fazendo isso, como alguns sugerem, para agradar os Estados Unidos e seu presidente", relativizou, usando um tom diferente, o chefe do governo alemão, Friedrich Merz, em Berlim.

"A Rússia, mais que nenhum outro país, ameaça ativa e agressivamente a segurança" da Europa, destacou.

O aumento que se avizinha é extraordinário, pois em 2024, segundo dados da Aliança, o gasto médio com a Defesa entre os membros europeus e o Canadá foi de 2%, a meta dominante até agora. Washington investiu 3,2%.

Para abrir a via para este processo que depende de consensos, orçamentos e aprovações legislativas, a meta de 5% em 2035 se constitui de duas partes.

A primeira de 3,5% para gastos militares em sentido estrito, à qual se soma 1,5% em investimentos em áreas como cibersegurança, infraestruturas e proteção de fronteiras, úteis tanto para fins civis quanto militares.

Um respiro para Zelensky

A situação da Ucrânia é a outra chave desta cúpula, para além do "convidado" de última hora, o conflito entre Israel e Irã.

Trump e Zelensky devem, a princípio, reunir-se na tarde de quarta-feira em Haia, o que dará destaque ao líder ucraniano, que os organizadores não incluíram na sessão plenária de quarta para evitar um embate com o americano, como o que ocorreu em fevereiro na Casa Branca.

Nesta terça-feira, quando esperavam por Trump, os líderes europeus e o próprio Rutte deram espaço a Zelensky em um evento paralelo sobre a indústria da Defesa.

"Continuaremos dando pleno apoio à Ucrânia e pressionando a Rússia. O 18º pacote de sanções está a caminho", disse o presidente do Conselho Europeu, António Costa.

"A Europa da Defesa enfim acordou", comemorou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, fazendo um balanço da recente criação de dois mecanismos que devem mobilizar 800 bilhões de euros (cerca ade R$ 5 trilhões, na cotação atual) nos próximos anos em investimentos e créditos destinados ao setor.

"Acreditamos que 5% é o nível correto", afirmou Zelensky.

"Aqui você está entre amigos", disse-lhe von der Leyen.

Espanha propõe 2,1%, "nem mais, nem menos"

Gentilezas à parte, uma das grandes dúvidas para a quarta-feira é a adequação em definitivo que se dará à posição da Espanha, o país com o menor investimento proporcional no ano passado - 1,24% de seu PIB.

O chefe do Executivo espanhol, Pedro Sánchez, cujos aliados de governo são contrários a um maior gasto com a Defesa, afirmou no domingo que seu país gastará 2,1% - "nem mais, nem menos".

Nesta segunda, ele publicou uma carta de Rutte, na qual o holandês assegurou que a cúpula concederá à Espanha uma "flexibilidade" sobre seus gastos.

Rutte tem dito desde então à imprensa que não há cláusulas de exceção, mas fontes do governo espanhol insistem em que Madri vai ratificar a posição comum, desde que se respeite esta flexibilidade.

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