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Trump ignora coronavírus e marca comícios em estados com aumento de casos

Oklahoma registrou recorde de casos pelo 3º dia seguido, dois dias antes de o republicano realizar o comício em Tulsa, desafiando normas do próprio governo

Trump: republicano manteve comícios mesmo com alta de número de casos (Kevin Lamarque/Reuters)

Trump: republicano manteve comícios mesmo com alta de número de casos (Kevin Lamarque/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de junho de 2020 às 17h42.

Última atualização em 19 de junho de 2020 às 17h57.

O primeiro estado onde o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai reiniciar sua campanha pela reeleição está entre os que relataram um número recorde de novos casos de coronavírus.

Ontem, Oklahoma registrou 259 novos casos, recorde pelo terceiro dia consecutivo, dois dias antes de Trump realizar o comício em Tulsa, desafiando as diretrizes de seu próprio governo para a "reabertura gradual."

A epidemia de covid-19 ainda está tirando cerca de 800 vidas americanas por dia — um ritmo que, se mantido nos próximos meses, renderia mais de 200.000 mortos no fim de setembro. Arizona, Flórida, Nevada, Oregon e Texas relataram seus maiores aumentos em um dia em novos casos nesta semana.

Enquanto os estados americanos lutam com uma pandemia instável, e as orientações federais são cada vez mais confusas, Trump afirmou na quarta-feira, 18, que o "vírus estava desaparecendo", em uma entrevista ao programa de Sean Hannity.

Os próprios estados criticaram a decisão de Trump de manter os comícios apesar do crescimento dos casos. Trump disse que quer inclusive triplicar o número de presentes no evento para 60.000 pessoas. "Temos uma arena com 22.000 assentos, mas acho que vamos ocupar o salão de convenções ao lado e este vai abrigar 40.000", disse a jornalistas na Casa Branca.

Falando a repórteres, o prefeito George Bynum, republicano, disse que é uma "tremenda honra" que o presidente escolha a cidade para realizar seu primeiro comício, mas ele disse que não poderia dar garantias de que isso não levaria à transmissão rápida do coronavírus.

O prefeito disse que alertou a campanha do presidente Trump que o comício pode agravar o aumento já preocupante nas infecções por coronavírus e poderá se tornar um desastroso "superespalhador". Autoridades locais pediram para a campanha de Trump cancelar o evento ou pelo menos fazer o evento em ambiente aberto.

O Condado de Tulsa, que inclui a cidade de Tulsa, registrou recordes consecutivos de casos nos últimos quatro dias, segundo a Agência de Gerenciamento de Emergências da Área de Tulsa. O número de casos de coronavírus ativos subiu de 188 para 532, em um período de uma semana, um aumento de 182%; as internações por covid-19 quase dobraram.

"É a tempestade perfeita para possíveis transmissões de doenças" disse Bruce Dart, diretor executivo do Departamento de Saúde de Tulsa. "É uma tempestade perfeita que não podemos nos dar ao luxo de ter, e que vai sobrecarregar nosso sistema de saúde local."

Dart pediu o adiamento do evento devido aos riscos de expansão do coronavírus. "Estou preocupado com nossa capacidade de proteger qualquer pessoa que participe de um grande evento em ambientes fechados e também com nossa capacidade de garantir a segurança do presidente", declarou Dart ao jornal local Tulsa World. "Eu gostaria que fosse adiado para um momento em que o vírus não seja tão preocupante quanto hoje", insistiu o diretor do Departamento de Saúde de Tulsa.

Ontem, no Twitter, Trump disse que "quase 1 milhão de pessoas pedem ingressos para participar" do evento de Tulsa, localidade de menos de meio milhão de habitantes. Ele também afastou as preocupações de saúde no estado, e disse a jornalistas que ele já havia previsto que sua campanha vai "enfrentar os pontos críticos."

Máscaras e álcool em gel

As pessoas que comparecerem ao comício eleitoral de Trump em Oklahoma, no sábado, receberão máscaras e álcool em gel e passarão por medições de temperatura antes de entrarem no local, informou a campanha do republicano à reeleição. Os apoiadores de Trump também terão de entregar uma declaração assinada que isenta os organizadores da campanha da responsabilidade pela possibilidade de contrair o vírus.

Depois de Tulsa, Trump planeja visitar cidades em Arizona, Flórida e Texas, todos os estados que tiveram reabertura e começaram a enfrentar novos picos de contágio.

Nesta semana, enquanto o estado vê um número recorde de casos de coronavírus, o governador Doug Ducey, do Arizona, disse que os governos locais podem aplicar regras de cobertura de rosto.

O Arizona não registrou seus primeiros 20.000 casos de coronavírus até 1º de junho, mas levou menos de três semanas para registrar mais 20.000. Então, na quarta-feira, o governador do Arizona, Doug Ducey, disse que autorizaria os prefeitos a exigir o uso de máscaras, caso percebessem a necessidade."A tendência está indo na direção errada", disse ele em entrevista coletiva.

No Texas, que também teve aumento recorde de casos nesta semana, tensões semelhantes surgiram entre as autoridades locais e o governador, que determinou a reabertura da economia em todo o estado. Os prefeitos de nove cidades enviaram uma carta ao governador Greg Abbott pedindo que ele lhes desse autoridade para exigir máscaras.

Embora Abbott tenha insistido fortemente para que as pessoas usassem máscaras, as políticas do estado não exigem seu uso, e o governador resistiu aos apelos para fazê-lo, dizendo que acredita na "responsabilidade individual" e não nas "ordens do governo."

Mas pelo menos um condado no Texas obteve permissão para prosseguir com um requisito de uso obrigatório de máscara. O Condado de Bexar, que inclui a cidade de San Antonio, está ordenando que as empresas exijam que funcionários e clientes usem máscaras faciais, quando não conseguem garantir o distanciamento social.

Nelson Wolff, o juiz do condado, emitiu a ordem na quarta-feira, um dia após o município confirmar 436 novos casos, seu maior aumento em um dia. (Com agências internacionais)

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