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Discursos de Haley e DeSantis evidenciam duas faces do Partido Republicano

Em 30 minutos, a arena da convenção foi de um tom conciliador, de Haley, à narrativa inflamada de Santis

A ex-embaixadora da ONU e candidata presidencial republicana Nikki Haley deixa o palco enquanto o governador da Flórida, Ron DeSantis, chega para falar no segundo dia da Convenção Nacional Republicana no Fiserv Forum em 16 de julho de 2024 em Milwaukee, Wisconsin (CHIP SOMODEVILLA/AFP)

A ex-embaixadora da ONU e candidata presidencial republicana Nikki Haley deixa o palco enquanto o governador da Flórida, Ron DeSantis, chega para falar no segundo dia da Convenção Nacional Republicana no Fiserv Forum em 16 de julho de 2024 em Milwaukee, Wisconsin (CHIP SOMODEVILLA/AFP)

Publicado em 17 de julho de 2024 às 12h58.

Última atualização em 17 de julho de 2024 às 14h29.

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Milwaukee, Wisconsin - "Lute, lute, lute!". Em coro uníssono, milhares de republicanos gritavam essas palavras de ordem ao final do discurso do governador da Flórida, Ron DeSantis, na Convenção Nacional Republicana na noite desta terça-feira, 16. Era a inflamação final de um discurso marcado pela virulência, no qual o político atacou o presidente Joe Biden, os democratas e o que chamou de "doutrinação" nas escolas.

"Vamos fazer do 45º presidente dos Estados Unidos o 47º presidente. Vamos eleger republicanos em toda as urnas e atender ao chamado do nosso candidato para lutar, lutar, lutar por estes Estados Unidos", disse DeSantis, levando ao coro uníssono da plateia.

DeSantis fez um dos principais discursos da segunda noite de convenção. Ele falou logo após Nikki Haley e, assim como ela, reafirmou seu apoio a Trump. Os dois foram os principais competidores do ex-presidente nas primárias do partido, mas a briga durou pouco. Ambos desistiram nas primeiras rodadas, após Trump ter vitórias esmagadoras.

Haley fez um discurso claramente voltado aos eleitores que relutam em apoiar Trump. Já DeSantis falou aos trumpistas leais. Em 30 minutos, EXAME viu o auditório da convenção nacional republicana ir da terra ao fogo, com Haley tendo recepção mais fria e DeSantis empolgando a plateia com uma oratória mais incendiária. O momento serve de indicador sobre os desafios do Partido Republicano, hoje dominado por Trump. Por um lado, há uma base aguerrida e fiel. De outro,  dificuldade em atrair novos eleitores, em especial os independentes.

Trump assistia a tudo isso sentado em uma espécie de tribuna de honra, com um sorriso sereno no rosto.

Haley e DeSantis

Por volta das 20h30 da terça-feira, 16, Haley, que foi chamada de última hora para participar da convenção após o atentado a Trump, tentou apaziguar o clima no palco da convenção.

"O presidente Trump me pediu para falar nesta convenção em nome da unidade. Foi um convite gracioso e eu fiquei feliz em aceitar", disse. "Vou começar deixando uma coisa perfeitamente clara: Donald Trump tem meu forte endosso, ponto final", afirmou.

A ex-embaixadora americana na ONU, que passou meses fazendo fortes críticas a Trump, tentou se posicionar para atrair eleitores independentes -- um público que claramente não estava dentro do Fiserv Forum, em Milwaukee. Enquanto ela falava, ouvia-se pequenas vaias, abafadas rapidamente por outros delegados. De maneira geral, seu discurso teve boa atenção da plateia.

"Devemos reconhecer que há alguns americanos que não concordam com Donald Trump 100% do tempo. Eu conheço alguns deles e quero falar com eles esta noite. Minha mensagem para eles é simples: você não precisa concordar com Trump 100% do tempo para votar nele", afirmou Haley.

E complementou:

"Acredite em mim – eu nem sempre concordei com o Presidente Trump, mas concordamos mais vezes do que discordamos. Concordamos em manter a América forte", disse.

Mas apaziguou o clima ao dizer que eles concordam em "manter os EUA seguros" e que "os democratas se moveram tanto para a esquerda que estão colocando nossas liberdades em perigo".

Em seu cardápio, Haley focou especialmente em questões internacionais, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e a situação no Oriente Médio, com o conflito entre Israel e Hamas.

"Quando Barack Obama era presidente, Vladimir Putin invadiu a Crimeia. Com Joe Biden como presidente, Putin invadiu toda a Ucrânia. Mas quando Donald Trump era presidente, Putin não fez nada. Nenhuma invasão, nenhuma guerra. Isso não foi por acaso", afirmou.

Ela também elogiou a decisão de Trump de suspender o acordo nuclear dos EUA com o Irã, que classificou como "insano".

"Trump nos tirou do insano acordo nuclear com o Irã, impôs as sanções mais duras de todos os tempos ao Irã e eliminou o arquiterrorista Qasim Soleimani. O Irã estava fraco demais para iniciar qualquer guerra; eles sabiam que Trump falava sério e tinham medo", afirmou. "E então há Joe Biden. Ele suspendeu as sanções, implorou para que eles voltassem ao acordo nuclear, rendeu-se no Afeganistão e enviou todos os possíveis sinais de fraqueza."

E fez críticas diretas à vice-presidente dos EUA, Kamala Harris. "Agora olhe para a fronteira. É a maior ameaça que os americanos enfrentam. Sob Joe Biden, migrantes estão entrando em nosso país aos milhares todos os dias. Não temos ideia de quem são, onde acabam ou o que planejam fazer", disse. "E deixe-me lembrá-lo, Kamala tinha um trabalho – um trabalho – e era consertar a fronteira. Agora imagine ela no comando de todo o país."

Discurso inflamado

O governador da Flórida, conhecido por suas posições mais extremas, adotou um tom mais agressivo -- e até pouco usual nos discursos da convenção a que EXAME assistiu.

"Biden é apenas um testa de ferro. Ele é uma ferramenta para impor uma agenda esquerdista ao povo americano. Eles apoiam fronteiras abertas, permitindo que milhões e milhões de imigrantes ilegais entrem em nosso país e sobrecarreguem nossas comunidades", afirmou.

DeSantis tocou em alguns dos pontos que dominam a narrativa republicana na convenção, como EXAME pôde testemunhar durante o evento. Criticou as políticas de incentivo a carros elétricos -- "eles querem banir automóveis a gasolina -- e o que chamou de "ideologia de gênero". Durante seu discurso, o ânimo da plateia se acirrou.

"Eles defendem o DEI, que realmente significa divisão, exclusão e doutrinação (indoctrination, em inglês), e isso é errado. Eles exigiram que você mostrasse comprovante de vacina contra Covid para ir a um restaurante, mas se opõem a exigir comprovante de cidadania para votar. Eles não conseguem nem definir o que é uma mulher", afirmou.

Outro ponto que animou os presentes foi quando DeSantis disse que é preciso ser "um cidadão para votar e que a identificação com foto deve ser exigida antes de votar".

"Acreditamos que as escolas devem educar, não doutrinar", disse o governador da Flórida, ao que a EXAME testemunhou uma delegada republicana do estado de Nebraska comemorar com um sonoro "sim". "Defendemos os direitos dos pais, incluindo a escolha escolar universal. Apoiamos a lei e a ordem, não motins e desordem. Buscamos um Exército dos Estados Unidos forte e focado, não um distraído por uma agenda social."

Os discursos dos ex-oponentes foram o ápice do segundo dia da Convenção Republicana e indicam visões diferentes sobre como lidar com a política americana, mesmo dentro do partido.

O que não mudou foi o sorriso sereno estampado no rosto de Trump ao assistir dois de seus concorrentes internos unindo-se a ele e apoiando sua candidatura.

Nesse momento, o clima e os números das pesquisas parecem ser muito mais favoráveis ao republicano. Mas ainda há cinco meses pela frente.

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