Donald Trump e Nancy Pelosi: cena foi o desfecho de um clima nada amistoso que começou assim que Trump chegou ao púlpito da Câmara (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 06h41.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2020 às 06h47.
São Paulo — Ao fim do discurso anual do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre Estado da União no Congresso dos Estados Unidos, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, rasgou o que seria uma cópia do pronunciamento do dirigente republicano.
Esta cena foi o desfecho de um clima nada amistoso que começou assim que Trump chegou ao púlpito da Câmara, quando ele quebrou o protocolo ao cumprimentar apenas o vice-presidente do país, Mike Pence, e ignorou a democrata, que havia lhe estendido a mão.
Responsável pela abertura do processo de impeachment de Trump, Pelosi ficou sentada atrás do chefe de Estado durante todo o tradicional pronunciamento anual, ao qual acompanhou franzindo a testa e rindo de forma incrédula durante vários trechos.
Imediatamente ao fim da fala do republicano, enquanto ele era aplaudido, Pelosi se levantou e rasgou diante de todos o que seria uma cópia do discurso.
Ao ser perguntada por um repórter sobre a razão do gesto, Pelosi respondeu: "Porque era a coisa mais cordial a se fazer, considerando as alternativas".
Logo depois, a Pelosi postou no Twitter uma foto do momento em que foi ignorada por Trump enquanto estendia a mão para cumprimentá-lo.
"Os democratas nunca deixarão de estender a mão da amizade para fazer o trabalho #ForThePeople ("pelas pessoas"). Vamos trabalhar para encontrar um campo comum onde for possível, mas permaneceremos firmes onde não for", descreve o texto que acompanha a foto na publicação na rede social.
Democrats will never stop extending the hand of friendship to get the job done #ForThePeople. We will work to find common ground where we can, but will stand our ground where we cannot. #SOTU pic.twitter.com/ELJqR9q4xD
— Nancy Pelosi (@SpeakerPelosi) February 5, 2020
O presidente também afirmou que "anos de decadência econômica terminaram".
"Os dias daqueles que usavam o nosso país, aproveitavam-se dele, estando até desacreditado junto de outras nações, ficaram para trás", declarou Trump, nessa terça-feira (4),em discurso cheio de críticas à administração de Barack Obama (2009-2017), que não mencionou, e que deixou entusiasmados republicanos, mas não democratas.
Para Trump, se "as políticas econômicas falidas do governo anterior" não tivessem sido revertidas, "o mundo agora não estava a ver esse grande êxito econômico", com criação de emprego, queda de impostos e luta "por acordos comerciais justos e recíprocos".
"A nossa agenda é implacavelmente pró-trabalhadores, pró-família, pró-crescimento e, sobretudo, pró-Estados Unidos", destacou o chefe de Estado norte-americano, acrescentando que, há três anos, iniciou "o grande regresso" do país.
"Inacreditavelmente, a taxa média de desemprego durante o meu governo é menor do que durante qualquer outra administração na história do nosso país", afirmou Trump.
Sobre o comércio, um dos pilares da atual administração, o presidente dos Estados Unidos afirmou ter prometido aos cidadãos norte-americanos que ia impor taxas alfandegárias à China para resolver o roubo maciço de empregos. "Nossa estratégia funcionou".
Depois de quase 18 meses de "guerra" comercial, Trump assinou em dezembro uma trégua parcial com Pequim.
O presidente norte-americano falou ainda da substituição do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), assinado com o México e o Canadá durante o governo Bill Clinton.
"Muitos políticos vieram e foram com a promessa de mudar ou substituir o Nafta, mas, no fim, não fizeram absolutamente nada. Ao contrário de muitos outros antes de mim, eu cumpro as minhas promessas", declarou.
O presidente também disse nesta terça-feira no discurso anual perante o Congresso sobre o Estado da União que a "tirania" do governo de Nicolás Maduro na Venezuela será "esmagada".
"O domínio da tirania de Maduro será esmagado e destruído", declarou Trump em um discurso para qual foi convidado o líder do Parlamento venezuelano, Juan Guaidó, que os Estados Unidos e mais de cinquenta países reconhecem como presidente interino por considerar que houve irregularidades nas eleições de 2018.
Guaidó luta desde janeiro de 2019 para chefiar um governo de transição e organizar novas eleições na Venezuela.
Mas seus esforços não deram resultado, apesar da pressão internacional liderada pelo governo Trump e sua bateria de sanções econômicas.
Em seu discurso, Trump disse que "Maduro é um governante ilegítimo que brutaliza seu povo" e, em comunicado divulgado nesta terça, a Casa Branca enfatizou que o governo está pressionando sanções "devastadoras" contra Maduro.