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Trump e Xi reduzem tensão após encontro, mas não fazem acordos; entenda

O antecipado encontro entre os líderes das duas maiores economias do mundo pode ter aberto o caminho para relações mais suaves, mas nenhum acordo formal foi feito — e ceticismos sobre relação entre China e EUA permanece

US President Donald Trump (L) and China's President Xi Jinping shake hands as they leave after their talks at the Gimhae Air Base, located next to the Gimhae International Airport in Busan on October 30, 2025. US President Donald Trump and China's leader Xi Jinping opened on October 30 their first face-to-face meeting in six years, seeking a truce to end a trade war that has roiled the world economy. (Photo by ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)

US President Donald Trump (L) and China's President Xi Jinping shake hands as they leave after their talks at the Gimhae Air Base, located next to the Gimhae International Airport in Busan on October 30, 2025. US President Donald Trump and China's leader Xi Jinping opened on October 30 their first face-to-face meeting in six years, seeking a truce to end a trade war that has roiled the world economy. (Photo by ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)

Publicado em 1 de novembro de 2025 às 08h01.

Última atualização em 1 de novembro de 2025 às 09h54.

Os líderes Donald Trump e Xi Jinping se encontraram para uma muito antecipada conversa na cidade de Busan na Coreia do Sul, nessa quinta-feira, 30. Há muito em uma guerra tarifária que afetou a economia do mundo todo, ambos buscaram, primeiramente, um alívio dos desgastes econômicos.

Ao longo desse ano, Trump impôs altas tarifas em diversos países, muitos dos quais eram importantes parceiros comerciais dos EUA. Em relação à China, as sanções culminaram mês passado, quando o republicano adicionou em uma lista negra as exportações de várias subsidiárias do governo chinês.

Em retaliação, o país asiático aumentou drasticamente seu controle sobre a exportação de terras raras, metais indispensáveis para a manufatura de tecnológicos, de smartphones a jatos.

Isso fez com que os EUA buscassem fontes alternativas dos materiais, mas com a China produzindo 70% das terras raras, e processando até 90%, segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um acordo com o país parecia inevitável.

Além disso, devido às tarifas, a compra de soja americana pela China caiu drasticamente, afetando produtores americanos diretamente, o que aumentou a pressão sobre Trump para um alívio das guerras tarifárias.

O encontro entre os líderes trouxe alívio global, mas não gerou nenhum tipo de acordo comercial formal. Veja os principais pontos que resultaram das conversas, o que foi negociado, e as análises do ocorrido.

Terras raras

O centro dos debates, que foi o rígido controle chinês sobre a exportação de terras raras, viu avanços significativos. Donald Trump disse, após os encontros, que as conversas sobre o tópico foram bem-sucedidas.

Tendo negociado um acordo com duração de um ano, que o presidente americano espera ser renovado anualmente, disse à mídia: “Eles vão deixar isso (terras raras) fluindo. Tudo sobre terras raras foi resolvido. Esse obstáculo desapareceu agora, não há mais nenhum problema com terras raras.”

O Ministério do Comércio chinês, apesar de não ter mencionado diretamente os minerais, disse que suspenderia os controles de exportação. Em troca, os EUA baixariam impostos de até 50% sobre certas exportações chinesas.

Poucos dias antes do encontro, o republicano fechou diversos acordos com países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), como Malásia, Tailândia e Camboja, e com o Japão para ter acesso às terras raras, o que destaca a importância dos minerais e de suas fontes alternativas.

Fentanil, soja e energia

Trump também afirmou que o presidente chinês concordou em "trabalhar muito duro para deter o fluxo" do opioide letal fentanil, um comércio do qual Washington acusa China e México de serem cúmplices. "Impus uma tarifa de 20% à China devido à entrada de fentanil. Com base em suas declarações de hoje, vou reduzi-la para 10%", disse o americano.

O uso do opioide fentanil leva a uma grave crise de saúde pública — a droga é processada por meio de produtos químicos percursores exportados pela China.

Em resposta ao corte pela metade das tarifas, o país asiático disse que tomará suas próprias medidas para garantir maior controle sobre o fluxo dos precursores.

Além disso, foi negociada a compra chinesa de soja e demais produtos agrícolas, tema que havia afetado diretamente os produtores rurais americanos, que formam base eleitoral importante para Trump.

O republicano revelou que, após a reunião, Pequim "vai comprar grandes quantidades, enormes quantidades de soja e outros produtos agrícolas de forma imediata".

Em uma publicação posterior nas redes sociais, Trump ainda afirmou que os agricultores americanos "ficarão muito felizes" com os resultados das conversas.

Por fim, Trump acrescentou que Pequim "iniciará o processo de compra de energia americana", o que poderia incluir petróleo e gás do Alasca. Funcionários dos dois governos se reunirão para negociar o potencial "acordo energético", disse o republicano.

Resolução de diferenças ou apenas uma trégua comercial?

Ambos os líderes saíram do encontro, que durou menos de duas horas, aparentando satisfação. "Penso que foi uma reunião incrível", disse Trump após o encontro com Xi em Busan. O americano elogiou o chinês como "um tremendo líder de um país muito poderoso" e anunciou que visitará a China em abril.

Xi Jinping, por sua vez, disse:

“Você e eu estamos no comando das relações entre a China e os Estados Unidos. Diante dos ventos, das ondas e dos desafios, devemos manter o rumo certo, navegar pelo cenário complexo e garantir que o gigantesco navio das relações entre a China e os Estados Unidos siga em frente com firmeza.”

Todavia, analistas receberam o sucesso das negociações com algum nível de ceticismo. O corte de tarifas, o fluxo de terras raras e a retomada da compra chinesa de certos produtos americanos é, afinal, o estado em que estavam as relações antes da guerra tarifária lançada por Trump esse ano.

“Então, do que estamos falando? Estamos falando sobre a desescalada das medidas que ambos os lados tomaram desde o início da administração Trump neste tipo de guerra comercial", disse Emily Kilcrease, diretora do Center for a New American Security, think tank baseado em Washington, à Reuters.

O foco das negociações girou em torno de desescalar ou pelo menos pausar as tensões comerciais entre Washington e Pequim, ao invés de tentar forjar novos pactos de segurança e acordos comerciais.

O silêncio dos mercados após a conclusão das conversas apenas reflete o medo de que o encontro signifique apenas uma pausa, e que as diferenças ideológicas entre os dois países vão continuar a gerar instabilidade geopolítica e econômica, de acordo com apuração da Reuters.

Além disso, o sensível tópico de Taiwan não foi mencionado nas conversas, o que gera medos entre os aliados mais próximos dos EUA e entre os encarregados por política externa no país que Trump prioriza fechar acordos com autocracias expansionistas ao invés de proteger democracias em risco.

A falta dessa pauta pode significar que as posições americana e chinesa sobre a ilha permanecem irreconciliáveis – em meio a cada vez mais comunicados chineses que confirmam a tomada da ilha, e acumulação de forças militares, desenvolvimento de armas, paradas militares e treinamentos.

Oficiais americanos temem que o rápido desenvolvimento bélico da China pode significar a intenção do país de vencer uma guerra por Taiwan até 2027, mesmo com intervenção americana, segundo a Reuters.

Os medos de que a instabilidade geopolítica continue apenas aumentam conforme Trump ordenou que o Pentágono continuasse testes de armas nucleares, em resposta aos conduzidos pela Rússia, e pela possibilidade da China fazer o mesmo.

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