Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (Olivier Douliery-Pool/Getty Images)
EFE
Publicado em 21 de março de 2019 às 15h44.
Jerusalém — Acusado por corrupção e diante de um adversário em plena forma, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem um complicado encontro com as urnas em abril, mas parece ter em Donald Trump uma última carta na manga para vencer as eleições antecipadas por ele próprio.
A aliança não é dissimulada. No mês passado, Netanyahu divulgou nas redes sociais um outdoor gigante instalado em Tel Aviv que mostrava um aperto de mãos com o presidente dos Estados Unidos.
"Netanyahu joga em outra liga", dizia a mensagem que acompanhava a imagem dos dois líderes, sugerindo que o atual primeiro-ministro de Israel tem mais conexões políticas que seu adversário.
O próprio Trump compartilhou a mensagem no Twitter.
Faltando 20 dias para o pleito, Netanyahu recebeu ontem em Jerusalém o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que adotou sem ressalvas o discurso do premiê contra o Irã.
O chefe da diplomacia americana ainda fez questão de relembrar o público israelense que 'Bibi' e Trump têm uma "excepcional relação".
Os dois passearam e foram fotografados na cidade velha de Jerusalém, parte que a comunidade internacional considera como território palestino ocupado.
Em paralelo à visita, a Casa Branca anunciou ontem que Trump receberá Netanyahu em Washington nas próximas segunda e terça-feira.
Nos EUA, o israelense também contará com outro importante palco para passar sua mensagem eleitoral na conferência do American Israel Public Affairs Committee (AIPAC), grupo de lobby que defende políticas pró-Israel no Congresso e no governo americano.
"Conscientemente ou não, o presidente Trump foi recrutado para a campanha eleitoral israelense", afirmou há cinco dias o jornal "Times of Israel" em um artigo sobre o outdoor com os dois líderes.
Nas redes sociais, alguns eleitores ironizam o fato da imagem ter sido manipulada para que Netanyahu parecesse ter a mesma altura que Trump. O primeiro-ministro israelense é seis centímetros mais baixo que o presidente americano.
A cartada final dada por Trump para ajudar o colega isralense a ganhar votos veio na tarde desta quinta-feira no Twitter.
"Depois de 52 anos, chegou a hora de os Estados Unidos reconhecerem a plena soberania de Israel sobre as Colinas de Golã, que são de importância crucial do ponto de vista estratégico e de segurança para Israel e para a estabilidade regional", escreveu Trump.
O anúncio do reconhecimento sobre o território sírio ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, havia sido antecipado por veículos da imprensa dos dois países na manhã de hoje.
A medida é exigida há muito tempo por Netanyahu, que visitou a região no início deste mês com o senador americano Lindsey Graham e com o embaixador do país em Jerusalém, David Friedman.
Um sinal de que as coisas poderiam mudar veio no relatório anual sobre os direitos humanos no mundo publicado pelo Departamento de Estado na semana passada.
Pela primeira vez, o governo americano deixou de usar a frase "ocupadas por Israel" para definir o status das Colinas de Golã. A expressão que passou a ser adotada é "controladas por Israel".
"Trump está fazendo campanha para Netanyahu?", questionou o "Jerusalem Post" em um artigo que citava o professor e ex-diplomata americano em Israel, que não tem dúvidas que o presidente republicano está mostrando que vai favorecer o premiê israelense.
O apoio é mais necessário do que nunca. Netanyahu disputará as eleições mais complicadas de sua carreira política. Seu adversário, Beni Gantz, ex-chefe do Estado-Maior, conta com uma reputação irrepreensível, é muito bem visto entre a população do país e liderou várias pesquisas de intenção de voto.
Além disso, Netanyahu está envolvido em um grande escândalo de corrupção. O procurador-geral indicado por ele anunciou que o processará por fraude, abuso de confiança e recebimento de propina.
Na noite de ontem, a emissora "Hahadashot" revelou que o procurador-geral cogita investigar Netanyahu pelos lucros obtidos ao investir em uma empresa de aço que teria relação com outra companhia com a qual o premiê negociou a compra de submarinos.
Horas antes do anúncio de que Netanyahu seria acusado por corrupção em fevereiro, Trump disse que não conhece os problemas internos de Israel. E saiu em defesa do amigo, dizendo que ele fez um "grande trabalho como primeiro-ministro".
"Ele é firme, é inteligente, é forte", disse Trump.
Horas depois do anúncio do procurador-geral, Netanyahu fez um pronunciamento à imprensa e disse ser alvo de uma "caça às bruxas". No discurso, ele agradeceu ao "amigo Trump" e disse que suas relações com líderes como o presidente americano e Vladimir Putin beneficiaram a segurança de Israel.