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Trump diz que palestinos não teriam direito de retorno em sua proposta para Gaza

Ideia do presidente americano sobre tomada do território foi condenada internacionalmente

Trump: proposta de reassentamento palestino gera reações internacionais (Jim WATSON/AFP)

Trump: proposta de reassentamento palestino gera reações internacionais (Jim WATSON/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 12h55.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2025 às 13h51.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira que os palestinos não teriam direito de retorno à Faixa de Gaza sob sua proposta de tomada do território pelos EUA. A declaração gerou críticas internacionais.

“Não, eles não fariam isso, porque terão moradias muito melhores”, disse Trump em entrevista à Fox News, ao ser questionado sobre o direito de retorno dos palestinos. “Em outras palavras, estou falando em construir um lugar permanente para eles.”

Na entrevista, que deve ir ao ar nesta segunda-feira, o presidente também afirmou que os EUA “construirão belas comunidades para 1,9 milhão de pessoas”, mais seguras e “um pouco longe de onde elas estão, onde todo esse perigo está”.

“Enquanto isso, eu seria dono disso. Pense nisso como um empreendimento imobiliário para o futuro, seria um belo pedaço de terra. Não gastaria muito dinheiro”, completou Trump.

Reação internacional e críticas à proposta

Em janeiro, o republicano havia apresentado um plano para “limpar Gaza” e enviar os moradores para o Egito e a Jordânia — proposta amplamente rejeitada. No início de fevereiro, ele reforçou a ideia de os EUA assumirem o controle da Faixa de Gaza e reassentarem permanentemente cerca de 2 milhões de palestinos. A proposta foi condenada internacionalmente, e Washington tentou amenizar as declarações de Trump, que continua insistindo em seus objetivos para o enclave.

No domingo, Trump repetiu a ideia de controlar Gaza após a guerra. Em declaração à imprensa, ele afirmou estar “comprometido em comprar e possuir” o território e sugeriu que países do Oriente Médio poderiam ajudar na reconstrução. No entanto, o presidente americano não esclareceu de quem compraria a região ou como seria sua administração.

"Quanto à reconstrução, podemos permitir que outros Estados do Oriente Médio construam parte [do enclave]. Outras pessoas podem fazer isso sob a nossa supervisão. Mas estamos comprometidos em possuí-la, tomá-la e garantir que o Hamas não volte", disse.

Trump também sugeriu que pessoas de outros países poderiam se mudar para Gaza e prometeu “cuidar dos palestinos”. O presidente americano ainda afirmou que os palestinos “não querem voltar para Gaza” e que só o fazem “porque não têm alternativa”.

Histórico do deslocamento palestino

Atualmente, cerca de 70% dos habitantes de Gaza estão registrados como refugiados na ONU. Muitos são descendentes de palestinos que foram deslocados em 1948, quando cerca de 700 mil palestinos foram expulsos ou forçados a fugir de suas casas na criação do Estado de Israel.

"Estamos firmes aqui", disse à CNN o palestino Amir Karaja, acrescentando que preferia “comer os escombros” a ser forçado a deixar o enclave. "Esta é a nossa terra, e somos os donos legítimos dela. Eu não serei deslocado. Nem Trump nem mais ninguém pode nos arrancar de Gaza."

Netanyahu apoia proposta, Hamas e ONU criticam

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou a proposta de Trump. Em reunião de Gabinete no domingo, ele afirmou que a ideia do republicano representa “uma visão completamente diferente e muito melhor para Israel”.

"Uma visão revolucionária e criativa, que estamos discutindo. Ele está muito determinado em implementá-la. Isso também nos abre muitas possibilidades", disse Netanyahu.

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) afirmou que os direitos dos palestinos “não estão à venda, troca ou negociação” e acusou o governo israelense de tentar “encobrir crimes de genocídio, deslocamento forçado e anexação”.

O Hamas também condenou a proposta, classificando-a como racista e alertando que aumentaria a violência no Oriente Médio. "A posição racista americana está alinhada com a extrema direita israelense, que consiste em deslocar a população palestina e erradicar a nossa causa", disse Abdel Latif al-Qanu, porta-voz do grupo.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o plano de Trump poderia ser considerado uma "limpeza étnica" e que sua implementação tornaria impossível a existência de um Estado palestino.

O enviado palestino às Nações Unidas, Riyad Mansour, reforçou que os líderes mundiais deveriam respeitar o desejo dos palestinos de permanecer em Gaza.

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