O presidente dos EUA, Donald Trump, durante discurso na Casa Branca, no sábado, 21, ao lado do vice-presidente, JD Vance e os secretários Marco Rubio (Estado) e Pete Hegseth (Defesa) (Carlos Barria/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 21 de junho de 2025 às 23h14.
Última atualização em 21 de junho de 2025 às 23h45.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o Irã deve aceitar um acordo de paz ou poderá sofrer novos ataques americanos, em seu primeiro discurso após o país fazer um ataque contra três instalações nucleares iranianas.
"Há pouco tempo, os militares americanos realizaram ataques massivos de precisão contra as três principais instalações nucleares do regime iraniano, Natanz, Esfahan e Fordow', disse.
"Nosso objetivo era destruir a capacidade de enriquecimento nuclear do Irã e pôr fim à ameaça nuclear representada pelo Estado número um do mundo em apoio ao terrorismo. Esta noite, posso relatar ao mundo que os ataques foram um sucesso militar espetacular", prosseguiu.
Trump discursou por cerca de três minutos. Ele não declarou guerra ao Irã e buscou enfatizar que uma escalada do conflito depende de como os iranianos vão agir.
"Se a paz não vier rápido, vamos atrás de outros alvos com velocidade e habilidade. Haverá ou paz, ou tragédia para o Irã, muito maior do que testemunhamos nos últimos oito dias. Lembrem-se: há muitos alvos restantes", afirmou.
O presidente disse ainda que haverá uma entrevista coletiva com autoridades de defesa dos EUA neste domingo, às 10h, com mais detalhes sobre as operações.
Na noite de sábado, os Estados Unidos realizaram um ataque contra três instalações nucleares iranianas, que incluiu uma "carga completa de bombas" sobre a usina subterrânea de Fordo.
Um funcionário da Casa Branca, que falou sob condição de anonimato, disse à AFP que os Estados Unidos "alertaram Israel antes dos ataques" e que Trump falou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, depois que eles terminaram.
O presidente americano vem repetindo há meses que o Irã não pode ter armas atômicas em hipótese alguma. Na sexta-feira, ele declarou que daria ao Irã um "prazo máximo" de duas semanas para evitar ataques americanos, mas atacou antes disso.
Teerã nega que esteja buscando desenvolver armas atômicas e defende seu direito a um programa nuclear civil. O presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, havia ameaçado Israel com uma resposta "mais devastadora" e descartou a interrupção de seu programa nuclear.
Na noite de sábado, Teerã anunciou o lançamento de uma "grande onda de drones de ataque e drones suicidas" em direção a Israel.
Desde 13 de junho, Israel vem bombardeando o Irã, com o objetivo declarado de impedir o país de obter uma bomba atômica.
Após os ataques, o Irã retaliou Israel e passou a bombardear cidades como Tel Aviv e Jerusalém, com mísseis de longa distância.
Israel conseguiu abater as defesas aéreas do Irã e obter o controle do tráfego aéreo no país. No entanto, os israelenses não tinham bombas com força suficiente para destruir instalações iranianas no subsolo. Os EUA tinham estas bombas, e as utilizaram no ataque deste sábado. Foram usadas seis bombas capazes de destruir instalações no subsolo, além de ao menos 30 mísseis Tomahawk.
O Irã havia prometido retaliação caso os EUA entrassem no conflito. As opções incluem atacar bases americanas e bloquear o Estreito de Hormuz, por onde passa grande parcela do petróleo global.
Nos últimos dias, líderes do Irã disseram diversas vezes que um ataque americano direto seria respondido de forma dura.
“Os americanos devem saber que qualquer intervenção militar americana será, sem dúvida, acompanhada de danos irreparáveis”, disse o líder supremo do Irã, Ali Khamenei em um discurso televisionado. “A entrada dos EUA nesta questão [guerra] é 100% em seu próprio detrimento. O dano que sofrerão será muito maior do que qualquer dano que o Irã possa sofrer.”
No entanto, a capacidade de ataque do Irã foi danificada nas últimas semanas. Desde 13 de junho, Israel fez uma série de bombardeios ao Irã, incluindo ataques a depósitos e lançadores de mísseis. Ao mesmo tempo, os iranianos dispararam centenas de mísseis de médio e longo alcance contra Israel, o que reduziu seu estoque.
Assim, embora com capacidade reduzida, o Irã ainda tem poder para disparar mísseis capazes de atingir longas distâncias, de até 2.500 km.
Uma das grandes preocupações no conflito são os efeitos sobre o Estreito de Hormuz, o canal de saída do Golfo Pérsico, por onde circula o petróleo extraído de países como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar, que representa 20% do total do produto comercializado pelo mundo. O Irã fica ao lado de Hormuz.
Ao mesmo tempo, rebeldes houthis do Iêmen, que são aliados do Irã, podem atacar navios que circulam pelo mar Vermelho, rumo ao canal de Suez, em outra forma de afetar o comércio global.