Martin Luther King.: ativista foi assassinado em Memphis, no dia 4 de abril de 1968 (Keystone/Getty Images/Getty Images)
Repórter
Publicado em 21 de julho de 2025 às 21h40.
O governo dos Estados Unidos divulgou documentos relacionados à vigilância do FBI contra Martin Luther King Jr., nesta segunda-feira, 21, num movimento que gerou protestos tanto da família do líder quanto da organização de direitos civis que ele presidia até seu assassinato, em 1968.
A liberação inclui mais de 240 mil páginas que estavam "classificados" desde 1977. Esses arquivos foram entregues pelo FBI aos Arquivos Nacionais dos EUA naquele mesmo ano.
Em uma nota, os filhos de King — Martin Luther King III, de 67 anos, e Bernice King, de 62 — comentaram que, embora o assassinato do pai tenha despertado grande interesse público, a análise dos documentos deve ser feita com uma compreensão profunda do contexto histórico.
Eles tiveram acesso antecipado ao material e formaram suas próprias equipes para examinar os arquivos, um trabalho que segue mesmo após a liberação pública.
“Como filhos do Dr. King e de Coretta Scott King, essa perda foi um luto profundo e pessoal — uma ausência que a nossa família carrega há mais de 57 anos”, afirmaram. “Pedimos que quem acessar esses arquivos o faça com empatia, cautela e respeito pela nossa dor.”
Os filhos de King também reiteraram a posição familiar de que James Earl Ray, condenado pelo assassinato, não teria agido sozinho — e talvez nem mesmo tenha sido o autor do crime.
A diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, classificou a liberação dos documentos como “sem precedentes” e destacou que muitos dos arquivos foram digitalizados pela primeira vez. Ela elogiou o presidente Donald Trump por ter impulsionado essa divulgação.
Durante sua campanha, Trump havia prometido liberar arquivos relacionados ao assassinato de John F. Kennedy, ocorrido em 1963. Já na presidência, ele assinou uma ordem executiva para "desclassificar" documentos sobre os assassinatos de Robert F. Kennedy e Martin Luther King Jr., ambos em 1968, informou o jornal norte-americano The New York Times.
Os papéis sobre JFK foram liberados em março. Em abril, os arquivos sobre RFK também foram divulgados.
Os arquivos sobre Martin Luther King Jr. estavam originalmente sob sigilo até 2027, mas o Departamento de Justiça solicitou a retirada da restrição antes do prazo. Agora, pesquisadores, jornalistas e estudiosos estão analisando os documentos em busca de novas informações sobre o assassinato, ocorrido em Memphis, no dia 4 de abril de 1968.
A Southern Christian Leadership Conference (SCLC), organização fundada por King em 1957, também se opôs à liberação dos arquivos. Assim como a família, o grupo argumenta que o FBI agiu de forma ilegal ao monitorar King e outros líderes negros, incluindo grampos telefônicos e tentativas de desacreditar o movimento.
O então diretor do FBI, J. Edgar Hoover, mantinha uma obsessão por King e outros ativistas. Arquivos anteriores indicam que o FBI grampeou conversas de King, colocou escutas em quartos de hotel e usou informantes para espioná-lo.
“Ele foi alvo de uma campanha de desinformação e vigilância invasiva, predatória e profundamente perturbadora, orquestrada por J. Edgar Hoover e pelo FBI”, afirmaram Bernice e Martin III. “O objetivo do programa COINTELPRO do governo não era apenas vigiar, mas destruir a reputação de nosso pai e desestabilizar o movimento de direitos civis. Essas ações foram ataques à verdade e às liberdades de cidadãos que lutavam por justiça.”
Eles acrescentaram que apoiam “a transparência e a responsabilidade histórica”, mas rejeitam “qualquer tentativa de atacar o legado do nosso pai ou usá-lo para espalhar mentiras.”
Martin Luther King Jr. foi assassinado enquanto apoiava uma greve de garis em Memphis, e havia começado a focar em questões econômicas e de paz internacional. James Earl Ray se declarou culpado pelo assassinato, mas posteriormente retirou a confissão, mantendo sua alegada inocência até sua morte, em 1998. A família King tem contestado a versão oficial do crime desde o início. Em 1998, a procuradora-geral Janet Reno reabriu o caso, mas o Departamento de Justiça concluiu que não havia evidências suficientes para modificar o veredito original.
Em 1999, a família moveu um processo civil, e um júri concluiu que o assassinato de King foi resultado de uma conspiração.
“Vamos analisar os arquivos divulgados agora para entender se eles trazem algo novo além do que já sabemos e aceitamos”, afirmaram os filhos de King.