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Trump declara inocência nas 34 acusações da promotoria de NY; entenda o caso

Sigilo das denúncias contra o ex-presidente foi derrubado há pouco; comoção popular tomou conta dos arredores do tribunal

 (Maggy DONALDSON e Andrea BAMBINO/AFP)

(Maggy DONALDSON e Andrea BAMBINO/AFP)

Publicado em 4 de abril de 2023 às 16h18.

Última atualização em 4 de abril de 2023 às 16h44.

Os Estados Unidos pararam nesta terça-feira, 4, para o julgamento do ex-presidente Donald Trump em Nova York. Como esperado, Trump se declarou inocente das 34 acusações criminais imputadas pela promotoria de Nova York em documentos sobre um suposto pagamento à atriz pornô Stormy Daniels.

O sigilo das denúncias foi derrubado há pouco ⏤ e os conteúdos na íntegra serão conhecidos em breve.

Segundo a Reuters, as acusações somam, no máximo, uma pena de 136 anos na prisão nas leis de Nova York ⏤ embora essa pena, em caso de condenação, deva ser significativamente menor.

Comoção popular

Dezenas de simpatizantes de Trump se reuniram em frente a um tribunal no sul de Manhattan, onde acontecerá o julgamento por denúncias criminais, enquanto opositores o acusavam de mentir e pediam sua prisão.

Membros da divisão de assuntos comunitários do Departamento de Polícia de Nova York estavam a postos no local enquanto apoiadores de Trump, muitos usando chapéus com o slogan "Make America Great Again" e roupas enfeitadas com a bandeira americana, gritavam insultos contra os opositores.

No entanto, a maior parte do entorno do tribunal foi ocupada por jornalistas, atentos diante da acusação inédita contra um ex-presidente dos Estados Unidos em audiência marcada para as 14h15 locais (15h15 no horário de Brasília).

Trump era esperado no local no início da tarde para procedimentos preliminares e, depois, para enfrentar as acusações relacionadas a um suborno para comprar o silêncio, durante a campanha às eleições presidenciais de 2016, de uma atriz pornô que afirmava ter tido um relacionamento íntimo com ele.

Dezenas de apoiadores de Donald Trump se reuniram do lado de fora do tribunal de Manhattan, antes de sua audiência. Crédito: AFP (Maggy DONALDSON e Andrea BAMBINO/AFP)

Os manifestantes contrários a Trump desfilavam com uma grande faixa com a mensagem "Trump mente o tempo todo" e gritavam "Prendam-no!", enquanto apoiadores do republicano agitavam uma faixa estampada com as palavras "Trump ou Morte".

George Santos, um congressista republicano de Nova York acusado de mentir para chegar ao cargo, fez uma breve aparição no parque onde a deputada de extrema-direita Marjorie Taylor-Greene está realizando um comício pró-Trump.
A enfermeira aposentada Paulina Farr contou à AFP que viajou do subúrbio de Long Island até a cidade "[para] mostrar apoio ao nosso presidente Trump", disse.

Farr comentou que esteve presente na invasão do Capitólio — sede do Congresso do país — em Washington, em 6 de janeiro de 2021, ao lado de partidários de Trump. No entanto, chamou o protesto de terça-feira de "extremamente diferente" e prometeu seguir em frente.

"Sabemos a verdade. Não tenho medo", completou.

Trump ainda é um dos favoritos em 2024

Aos 76 anos, Trump segue como um dos favoritos à indicação republicana para as eleições presidenciais de 2024, embora as acusações, ainda sigilosas, que serão divulgadas na terça-feira ameacem questionar sua viabilidade como candidato.

O empresário também está usando o caso para mobilizar sua base de apoio e arrecadar milhões de dólares para sua campanha eleitoral. Durante as manifestações, um apoiador de Trump tentou rasgar uma bandeira do grupo opositor, situação em que a polícia precisou atuar.

"Fui atacada várias vezes", disse Laurie Biter. A mulher de 64 anos, que protestava contra o republicano, comemorou as acusações contra ele, mas acrescentou que "não é apenas uma acusação que é apresentada ao tribunal".

"É uma acusação que nós, como pessoas de bom senso, temos de apresentar", comentou.

O que significa ser indiciado nos EUA?

No sistema de Justiça dos Estados Unidos, ser indiciado significa que uma pessoa foi formalmente acusada de um crime por um grande júri ou por um promotor público. Isso só ocorre depois de uma investigação policial com evidências robustas para sustentar a acusação. Isso não significa que a pessoa é culpada, mas que ela tem motivos para ser julgada.

O que diz a denúncia contra Trump?

O caso investiga um pagamento de 130 mil dólares feito em 2016 à atriz pornô Stormy Daniels -- cujo verdadeiro nome é Stephanie Clifford -- para que ela guardasse silêncio sobre a suposta relação que teve com Trump. O pagamento foi feito duas semanas antes da eleição em que o republicano derrotou a democrata Hillary Clinton.

Segundo o New York Times, o ex-presidente poderia ser acusado de tentar maquiar relatórios contábeis para dissimular o pagamento a Stormy Daniels. Um crime que poderia ser mais grave se os promotores considerarem que Trump buscava contornar os regulamentos sobre financiamento de campanhas eleitorais, segundo a publicação.

Quem é Stormy Daniels?

Segundo o "New York Times", a atriz conheceu Trump em julho de 2006 durante um torneio de golfe no estado de Nevada — onde fica Las Vegas. Em livro de memórias, a atriz relembra ter sido chamada de "white trash", um termo pejorativo e usado geralmente para pessoas brancas e pobres.

Ela passou a trabalhar como "dançarina exótica" antes do fim do ensino médio. Aos 23 anos, iniciou a carreira na indústria adulta.

Ao conhecê-la, segundo o repórter Michael Rothfeld do NYT, autor de um livro sobre os "faz-tudo" do ex-presidente, Trump já havia feito a transição de empresário do meio imobiliário para celebridade ao apresentar o reality show "O Aprendiz".

Trump e Daniels se cruzaram no campo de golfe e, posteriormente, na loja de souvernirs, onde foram fotografados juntos em uma cabine do estúdio para qual ela trabalhava, Wicked Pictures. Então, Trump a convidou para jantar.

A atriz e o ex-presidente foram à cobertura de Trump em Lake Tahoe, cidade na divisa da Califórnia com Nevada. Lá, Trump teria dito que ela deveria fazer parte de "O Aprendiz". "Ela duvidou que ele pudesse fazer acontecer. Ele garantiu a ela que poderia", diz trecho da reportagem do NYT.

A relação continuou, segundo ela, com telefonemas de Trump a partir de um número bloqueado — e eles se viram pelo menos mais duas vezes em 2007. "Mas não dormiram juntos de novo. E Trump nunca a colocou em 'O Aprendiz'. Mesmo assim, ele continuou a telefonar, segundo ela. Eventualmente, ela parou de atender", relata Rothfeld.

Tentativa de vender a informação do caso com Trump

Stormy Daniels tentava vender a informação do caso com o bilionário desde o começo da década de 2010. Com a ajuda de um agente, ela negociou um acordo de US$ 15 mil com uma revista de celebridades chamada "Life & Style" afirmando à publicação que Trump mentiu ao prometer fazer dela uma participante do programa de televisão.

Ao contatar a Trump Organization, a revista foi procurada pelo advogado de Trump, Michael Cohen, um dos "faz-tudo" aos quais o jornalista se refere, e ameaçou processar a revista. A publicação derrubou, no jargão jornalístico, a história. Stormy Daniels não foi paga.

No começo de 2016, ela tentou sem sucesso vender novamente a história — por US$ 200 mil dessa vez. Na época, Trump era candidato pelo partido Republicano. Novamente sem sucesso.

"Access Hollywood"

A situação mudou em outubro de 2016, quando o Washington Post noticiou o caso que ficou conhecido como "Access Hollywood", no qual Trump falava de forma agressiva sobre como havia assediado uma mulher. Segundo Rothfeld, do NYT, foi quando as pessoas próximas a Stormy Daniels identificaram uma vulnerabilidade de Trump. Três dias após a história sair nos jornais, o advogado de Trump fez um contrato de 130 mil dólares com Daniels.

Mesmo após assinatura do contrato, Daniels não recebeu o dinheiro, o que a levou a considerar que Trump queria esperar até as eleições, em novembro. Caso ele perdesse, sua história perderia valor. O advogado de Stormy Daniels cancelou o acordo e voltou a procurar Cohen. Dessa vez, alegava que, caso a informação viesse a público, também seriam reveladas as tratativas para cobrir a história.

Segundo Rothfeld, do NYT, Cohen aceitou pagar ele mesmo e transferiu os recursos para uma companhia com sede Delaware, estado conhecido como paraíso fiscal dentro dos EUA. Mais tarde, quando Trump já estava na Casa Branca, o então presidente reembolsou seu advogado.

Com informações da AFP

 

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