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Trump confunde o mundo com política exterior imprevisível

O lema "America First" que marcou a campanha eleitoral de Trump teve reflexos em seus cem primeiros dias no poder

Trump: "É muito difícil discernir uma doutrina de Trump. Não há nenhuma certeza, nada previsível", disse analista (Jonathan Ernst/Reuters)

Trump: "É muito difícil discernir uma doutrina de Trump. Não há nenhuma certeza, nada previsível", disse analista (Jonathan Ernst/Reuters)

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EFE

Publicado em 28 de abril de 2017 às 16h59.

Washington - Donald Trump tem entrado no complexo entrelaçamento de relações exteriores dos Estados Unidos com o aparente objetivo de se esquivar de qualquer doutrina e a convicção de que ser imprevisível é sua melhor arma, um enfoque que irritou seus rivais e desconcertou seus aliados tradicionais.

O lema "America First" que marcou a campanha eleitoral de Trump teve reflexos em seus cem primeiros dias no poder, mas sua agressiva postura diante de Síria e Coreia do Norte impediu a confirmação do isolacionismo como um traço definitivo de sua doutrina.

Trump também fragilizou a diplomacia a favor da força militar, ao cortar fundos e privar de pessoal o Departamento de Estado, com um aparente desdém pelas estratégias a longo prazo que se encaixa com sua tendência de buscar relações internacionais e vitórias rápidas.

O presidente americano também não fez nenhuma viagem ao exterior, e seu desinteresse em sair dos EUA contrasta com a estreia na presidência de Barack Obama, que visitou nove países em seus primeiros 100 dias, e George W. Bush, que foi a México e Canadá no mesmo período.

Dezessete líderes de diferentes regiões visitaram Trump na Casa Branca com a delicada missão de defender seus interesses, enquanto travavam uma relação pessoal e profissional com um presidente volátil e errático, capaz de proclamar um dia sua amizade com um determinado país e agir no mês seguinte contra ele.

"É muito difícil discernir uma doutrina de Trump. Não há nenhuma certeza, nada previsível", disse à Agência Efe o analista Michael Shifter, presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano.

"Parece que Trump prefere assim, para manter todo mundo no ar. Isso pode ajudá-lo com os adversários dos EUA, mas não é útil para tranquilizar seus aliados", acrescentou.

O México protagonizou o primeiro episódio de tensão internacional do mandato de Trump, com o cancelamento da visita do presidente do país, Enrique Peña Nieto, por causa da insistência do novo chefe do governo americano em que o país vizinho deve pagar pelo muro que ele quer construir na fronteira comum.

"O dano que se tem feito (à relação com México) não é irreparável, mas é real", opinou Shifter.

Mas Trump gosta de surpreender, e na última semana mudou o foco de seus ataques do México para o Canadá, protestando contra as políticas comerciais do vizinho do norte, inclusive impondo tarifas e ameaçando se retirar do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN).

Como em muitos outros temas, Trump tentou aplicar ao TLCAN as táticas negociadoras que aprendeu como empresário do setor imobiliário, e parece ter lançado essa fugaz ameaça com o objetivo de melhorar sua posição em relação à renegociação, sem pensar muito nas tensões que isso possa gerar com seus vizinhos.

Trump não definiu uma política clara para a América Latina, sem esclarecer o que fará a respeito do processo de normalização com Cuba nem dar sinais claros de apoio ao processo de paz na Colômbia.

Ele se pronunciou sobre a Venezuela, um país que considera um "desastre" e do qual falou com vários líderes do continente, mas não há sinais de que tenha uma "estratégia bem pensada" para essa crise, apesar de sua "forte retórica", segundo Shifter.

A relação com a Europa também começou em um ponto baixo, por causa de críticas à União Europeia (UE) e à OTAN, que Trump diminuiu notavelmente nos últimos meses.

Mas o americano também protagonizou um incômodo encontro na Casa Branca com a chanceler alemã, Angela Merkel, e foi pouco sutil em relação a seu apoio à candidata de extrema direita à presidência da França, Marine Le Pen, o que inquietou quem teme que a onda populista dos EUA seja levada para o velho continente.

A relação com a Rússia, caracterizada no início por constantes elogios a Vladimir Putin, esfriou por causa do ataque com armas químicas realizado pela Síria no começo deste mês. Trump disse que sua opinião sobre o líder do regime sírio, Bashar al Assad, tinha "mudado", e criticou o presidente russo por apoiar alguém tão "ruim".

Em sua política para o Oriente Médio, destacaram-se seu apoio à direita israelense e seu duro discurso em relação ao Irã, com o anúncio da revisão do acordo nuclear; além de sua improvisada intervenção na Síria e sua aproximação de figuras autoritárias como o líder egípcio Abdel Fatah al Sisi e o turco Recep Tayyip Erdogan.

Quanto à China, Trump abandonou sua estratégia de confronto direto ao abraçar a política de "uma só China" e tentar se adaptar à linguagem de Pequim, mas sua reunião na Flórida com o presidente chinês, Xi Jinping, terminou sem grandes acordos.

A belicosa retórica de Trump em relação à Coreia do Norte não encontrou um eco na China, e pode acabar por alienar os aliados dos EUA na região, temerosos de "se sentirem presos" em uma guerra, segundo escreveu Stephen Walt, professor de diplomacia na Universidade de Harvard, na revista "Foreign Policy".

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