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Trump assina ordem executiva para renomear Departamento de Defesa como Departamento da Guerra

Alteração, que provavelmente requer a aprovação do Congresso, cumpre promessa de realinhar a missão militar e restaura nomenclatura usada até pouco depois da Segunda Guerra Mundial

Agência o Globo
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Publicado em 5 de setembro de 2025 às 18h03.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta sexta-feira uma ordem executiva renomeando o Departamento de Defesa como Departamento de Guerra, retornando a um nome usado por mais de 150 anos, até pouco depois da Segunda Guerra Mundial. A medida, que era esperada há algum tempo, ressalta os esforços de Trump para remodelar as Forças Armadas americanas e alinhá-las com seus objetivos de projetar uma imagem mais agressiva, exibindo capacidades de combate.

Trump, ladeado pelo chefe do Pentágono, Pete Hegseth, que poderá ser conhecido como secretário da Guerra, afirmou que o país não venceu uma "grande guerra desde que mudou o nome" e disse que "é um nome muito mais apropriado, especialmente considerando a situação atual do mundo".

— Acho que isso envia uma mensagem de vitória, realmente uma mensagem de força — disse Trump ao ser questionado sobre o que a mudança representaria aos aliados e inimigos dos Estados Unidos.

O Departamento de Defesa e o cargo de secretário de Defesa foram aprovados por meio de atos do Congresso, portanto, não está claro se a ordem entrará em vigor imediatamente, embora Trump diga estar confiante de que ela será mantida, dizendo que "seguirão em frente com muita firmeza".

Trump também sinalizou que o custo da reformulação do nome não seria exorbitante ao governo.

— Sabemos como reformular o nome sem precisar enlouquecer. Não precisamos reesculpir uma montanha nem nada. Não faremos isso da forma mais cara, vamos começar a mudar o material de escritório conforme necessário e muitas coisas assim — disse Trump.

Segundo Hegseth, que falou brevemente após Trump, a mudança implica que agora os EUA vão "lutar para vencer, não para perder", e que vão "criar guerreiros, não somente defensores".

O plano de assinar a ordem executiva foi relatado pela primeira vez pela Fox News americana. Trump lançou a ideia pela primeira vez em agosto no Salão Oval , dizendo que soava "como um nome melhor" e que ele acreditava que "teríamos que voltar a isso". Ele disse que a mudança de nome seria um lembrete do histórico de vitórias militares do país sob o antigo nome, citando a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

— Tínhamos uma história inacreditável de vitórias quando se tratava do Departamento de Guerra — disse Trump. — A defesa é defensiva demais. Queremos ser defensivos, mas também queremos ser ofensivos, se necessário.

Hegseth tem repetidamente mencionado a reformulação do nome do Pentágono, tendo dito recentemente à Fox & Friends na quarta-feira:

— Vencemos a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, não com o Departamento de Defesa, mas com o Departamento de Guerra — disse Hegseth, que chegou a fazer uma pesquisa com seus seguidores no X sobre a mudança de nome em março.

Histórico

O Departamento de Guerra foi criado pelo Congresso americano durante o governo do presidente George Washington em 1789, poucos meses após a ratificação da Constituição. O departamento supervisionava as forças militares da nova nação.

O nome foi mantido por 150 anos, durante os quais os Estados Unidos lutaram em guerras contra o Reino Unido, Espanha, México e nas Filipinas, bem como na Guerra Civil e em guerras contra os nativos americanos.

O presidente Harry Truman mudou o nome da agência como parte da Lei de Segurança Nacional, assinada em 1947, que fundiu os departamentos da Marinha e da Guerra e uma Força Aérea recém-independente em uma única organização chamada Estabelecimento Militar Nacional. Este funcionava sob a supervisão de um secretário civil de Defesa que também supervisionava o Estado-Maior Conjunto.

Dois anos depois, o Congresso alterou a Lei de Segurança Nacional, e o Estabelecimento Militar Nacional foi renomeado para Departamento de Defesa.

Em um momento em que a dissuasão é mais crucial do que nunca — no ciberespaço, no espaço sideral e em um mundo onde Rússia e China celebram uma parceria instável para desafiar a preeminência americana — Trump argumenta que a resposta é voltar aos bons velhos tempos.

Para qualquer um que tenha assistido à revolução que varreu as instituições de segurança nacional do país nos últimos sete meses, a ordem não foi nenhuma surpresa. É mais que nostalgia, é uma mensagem.

— De certa forma, faz todo o sentido: este governo está simplesmente nos levando de volta àquele período anterior à era Truman — disse Douglas Lute, oficial de carreira do Exército que desempenhou papéis importantes no Conselho de Segurança Nacional nos governos Bush e Obama e serviu como embaixador dos EUA na Otan. — Ele desmantelou os processos, as instituições e as normas estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial.

Soft power x Hard power

Desde que voltou à Casa Branca em janeiro para um segundo mandato, Trump desmantelou amplos setores da Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura, parte do Departamento de Segurança Interna, porque sua missão de defesa contra ataques cibernéticos nacionais e estrangeiros incluía a segurança dos sistemas eleitorais. Ele chegou a ordenar que o Departamento de Justiça investigasse o chefe da agência durante as eleições de 2020, por sua declaração de que ela era uma das mais seguras da história, contradizendo sua insistência de que ela foi manipulada para eleger Joe Biden.

Trump também demitiu o general quatro estrelas que chefiava a Agência de Segurança Nacional (NSA) e o Comando Cibernético dos EUA, parte de um expurgo mais amplo de oficiais militares apolíticos nomeados na era Biden. O moral entre os oficiais superiores está em baixa, pois eles se perguntam se vale a pena buscar altos cargos de comando se uma declaração controversa de um influenciador do MAGA ("Make America Great Again", ou "Faça a América grande de novo", slogan de Trump) de que são membros secretos do chamado "Estado profundo" for suficiente para encerrar uma carreira de décadas.

Ao contrário de seu primeiro mandato, ele tem se cercado de militares mais leais aos seus pontos de vista, evitando elementos moderadores para planos mais ousados e legalmente questionáveis.

Fora do país, Trump ordenou bombardeios contra rebeldes houthis no Iêmen — em resposta a ataques contra o território israelense — e um ataque sem precedentes contra as instalações nucleares do Irã, em junho, em meio a um conflito entre Teerã e Israel. Nas últimas semanas, determinou o envio de navios de combate à América Latina, sob justificativa de atuar contra os cartéis de drogas. Na semana passada, a Casa Branca afirmou ter atacado um barco suspeito de levar drogas da Venezuela, deixando 11 mortos.

Enquanto isso, Hegseth já parece preparado para se tornar secretário de Guerra, juntando-se a uma longa lista que começou com Henry Knox, que deu nome ao Forte Knox. Ele fala repetidamente em trazer de volta a "letalidade" e o "ethos guerreiro" às Forças Armadas americanas. Quando chegou ao Pentágono, uma de suas primeiras medidas foi proibir a frase frequentemente usada no prédio: "nossa diversidade é nossa força". ("A frase mais idiota da nossa história militar", disse ele às tropas.)

Em certo nível, é claro, o que o Trump e Hegseth estão fazendo é pouco mais do que uma reformulação da "marca" — um conceito que o presidente conhece bem, já que renomeou projetos imobiliários na esperança de que, por soarem melhor, vendessem melhor. A missão do Exército, da Marinha, da Força Aérea e dos Fuzileiros Navais não mudará. Nem a combinação de missões defensivas e ofensivas nas unidades que estão na vanguarda das novas tecnologias, como o Comando Cibernético dos Estados Unidos ou o adorado Comando Espacial de Trump.

Mas em outro nível, renomear a força militar mais poderosa do mundo — o orçamento de defesa de US$ 1 trilhão de dólares é cerca de três vezes maior que o da China — será visto como parte da continuidade da revolução Trump.

Nesse mundo, o soft power americano está fora de cogitação, e o hard power é celebrado. Fechar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e cortar bilhões de dólares em ajuda externa no orçamento do Departamento de Estado enviaram uma mensagem: os Estados Unidos agora estão fora do negócio de promoção da democracia e fora do negócio de nação benevolente.

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