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Trump anuncia tarifa extra de 50% para o Brasil e cita 'perseguição' a Bolsonaro

Taxa foi anunciada na rede Truth Social na tarde desta quarta-feira, 9

Donald Trump, presidente dos EUA (Win McNamee/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA (Win McNamee/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 9 de julho de 2025 às 17h26.

Última atualização em 9 de julho de 2025 às 19h56.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 9, uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.

A medida entra em vigor em 1º de agosto, e ainda pode ser negociada. A carta foi publicada na rede Truth Social e endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países  para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta", disse Trump.

"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.

"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.

Leia aqui a íntegra da carta

Investigação contra o Brasil

Na carta, Trump disse ainda que abrirá uma investigação contra o país.

"Devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como outras Práticas Comerciais desleais, estou instruindo o Representante Comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma Investigação da Seção 301 do Brasil", escreveu.

Fluxo comercial entre Brasil e Estados Unidos

No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.

No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. Os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram:

  • Óleos brutos de petróleo
  • Produtos semi-acabados de ferro ou aço
  • Aeronaves e suas partes
  • Café não torrado
  • Ferro-gusa, e ferro-ligas
  • Óleos combustíveis de petróleo
  • Celulose
  • Equipamentos de engenharia civil
  • Sucos de frutas ou de vegetais
  • Carne bovina

Entenda as tarifas de Trump

Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.

Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.

Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.

Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.

Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um. Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.

Nesta semana, ele adiou novamente o prazo, para 1º de agosto, e passou a anunciar novos percentuais de taxas para alguns países, que poderão ser negociados até o final de julho. A tarifa geral de 10% segue em vigor, além de outras taxas para países específicos, como China, Canadá e México, e para produtos, como aço e alumínio.

Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Assim, o país foi enquadrado na tarifa geral de 10% extras. Representantes brasileiros negociam com os americanos como as cobranças poderiam ser revistas.

Além disso, o Brasil é um grande exportador de aço aos Estados Unidos. O produto recebeu taxas extras, primeiro de 25% e depois de 50%. O percentual mais alto entrou em vigor em junho.

Exportações bateram recorde após a pandemia

As exportações brasileiras aos EUA ganharam força a partir de 2021. Após a pandemia, os americanos buscaram reduzir as compras da China e diversificar fornecedores. O recorde histórico no comércio bilateral foi registrado em 2022, quando a corrente de comércio (soma de importações e exportações) atingiu US$ 88,7 bilhões, sendo US$ 51,3 bilhões em vendas, segundo dados da Câmara de Comércio Brasil-EUA (Amcham).

Em 2023, houve queda e as vendas foram de US$ 38,9 bilhões. No ano seguinte, 2024, houve uma retomada e a corrente de comércio superou US$ 80,9 bilhões de dólares, o segundo maior valor da história,

Já as importações brasileiras bateram recordes em valor e volume. Foram US$ 40,3 bilhões em vendas, alta de 9,2% em relação a 2023, e 40,7 milhões de toneladas, avanço de 9,9% sobre o ano anterior.

Semana de tarifas

Desde o começo desta semana, Trump vem divulgando cartas com novas tarifas de importação a outros países, impostas de modo unilateral, ao contrário do que as regras internacionais determinam.

Nesta quarta-feira, 9, ele fez anúncios para mais seis países, ampliando para pelo menos 20 o número de nações que deverão ser afetadas pelas medidas a partir de 1º de agosto.

Os novos comunicados foram enviados por meio de cartas publicadas na rede social de Trump, a Truth Social. Os países citados nesta nova rodada são Filipinas, Brunei, Moldávia, Argélia, Iraque e Líbia.

As mensagens seguem o mesmo padrão das cartas enviadas dois dias antes a outras 14 nações, entre elas Japão, Coreia do Sul, Malásia, Indonésia, África do Sul e Sérvia.

Nos textos, Trump informa que os produtos exportados por esses países para os EUA passarão a enfrentar tarifas de 20% a 40%. As cartas indicam que os EUA “talvez” considerem ajustar os novos níveis tarifários, “dependendo do nosso relacionamento com seu país.”

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