Agência de notícias
Publicado em 24 de abril de 2025 às 16h51.
Em mais uma investida contra a Universidade de Harvard, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou a instituição nesta quinta-feira como “antissemita de extrema-esquerda”. A declaração, feita no momento em que a prestigiosa universidade americana enfrenta na Justiça a suspensão de verbas imposta pelo governo do republicano, foi divulgada em uma publicação nas redes sociais.
“Esse lugar é um desastre liberal, com estudantes (...) do mundo inteiro que querem destruir o nosso país”, escreveu o mandatário. “Harvard é uma ameaça à democracia, com um advogado que me representa e que, portanto, deveria ser forçado a renunciar imediatamente ou ser demitido”, acrescentou ele, em aparente referência a William Burck, do escritório de advocacia Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan.
Burck, que atua em casos políticos e corporativos de alto nível, foi contratado em janeiro para servir como consultor externo de ética da Organização Trump. Na época, o filho do presidente, Eric Trump, afirmou estar “orgulhoso” de anunciar a contratação de Burck, descrevendo-o como “um dos advogados mais respeitados e competentes do país”. Nesta quinta-feira, no entanto, o mandatário publicou:
“(Burck) nem é tão bom assim, e espero que minha grande e bela empresa, agora dirigida por meus filhos, se livre dele o quanto antes”. Horas depois, Eric Trump confirmou à CNN que a empresa não utilizará mais os serviços do advogado, afirmando em nota que encara a situação como um “conflito de interesse” e que seguirá “por outro caminho”.
O advogado não comentou o assunto. Como conselheiro de ética da Organização Trump, ele é responsável por revisar decisões corporativas, incluindo transações acima de US$ 10 milhões e contratos de locação de mais de 3,7 mil metros quadrados. Ao mesmo tempo, Harvard contratou Burck para ajudar o presidente da instituição, Alan Garber, a lidar com as exigências de Trump para promover mudanças radicais na universidade.
Quando o governo ameaçou cortar bilhões em financiamento, Burck escreveu em abril que Harvard não iria “abrir mão de sua independência e nem renunciar a seus direitos constitucionais”. Horas depois, o governo Trump congelou US$ 2,2 bilhões em bolsas plurianuais, alegando que a universidade não estava combatendo adequadamente o antissemitismo no campus e afirmando que ela precisa reformular sua governança.
Como resposta, Burck ajudou Harvard a processar agências federais, alegando que o congelamento de verbas ameaça sua independência e sufoca a liberdade de expressão. A universidade faz parte de um grupo de instituições altamente seletivas que a administração Trump tem tentado pressionar a mudar suas políticas, cortando verbas, e ameaçando revogar vistos de estudantes internacionais.
Trump também sugeriu que a receita federal americana poderia retirar seu status de isenção fiscal, rotulando Harvard como uma “entidade política”. Tal medida prejudicaria as finanças da universidade e dificultaria sua captação de recursos. Além dela, o governo tem usado a questão do antissemitismo para exigir mudanças em instituições como Columbia, Princeton, Cornell e Northwestern.
Embora o presidente de Harvard, Alan Garber, tenha reconhecido a necessidade de combater o antissemitismo, ele tem sido enfático ao afirmar que o governo não pode ditar o que a universidade ensina, nem quem ela contrata ou admite. No processo, Harvard alega que o congelamento das verbas viola sua garantia de liberdade de expressão prevista na Constituição e fere a Lei de Procedimentos Administrativos.
A publicação de Trump nesta quinta-feira também foi feita horas após a Universidade de Harvard informar a um juiz federal, na noite de quarta, que deseja acelerar o processo judicial contra os mais de US$ 2 bilhões em cortes de financiamento impostos pelo governo. A universidade declarou que buscará de forma “expedita” uma decisão final sobre sua principal alegação: a de que a administração violou regulamentações federais ao cortar os repasses.
“Até que esta Corte anule a ordem de congelamento e diante da ameaça iminente de novos cortes, Harvard vê seu exercício dos direitos previstos na Primeira Emenda sendo limitado e coloca-se em risco pesquisas médicas, científicas, tecnológicas e de outras áreas vitais”, escreveram os advogados da instituição, destacando que a celeridade do processo é essencial devido à gravidade do caso.
Conservador, Burck está envolvido em casos de destaque. Este ano, ele ajudou o escritório Paul Weiss a negociar um acordo para realizar US$ 40 milhões em trabalho jurídico gratuito em causas conservadoras, evitando assim um decreto de Trump que poderia prejudicar seus negócios. Ele também representou o prefeito de Nova York, Eric Adams, em um caso de corrupção que o Departamento de Justiça de Trump arquivou — decisão considerada por críticos como política.
No ano passado, Burck processou a receita federal americana em nome do gestor de fundos Ken Griffin, após a agência falhar em proteger dados fiscais confidenciais do empresário, que foram roubados e vazados por um contratado que agora está preso. A agência chegou a emitir um pedido de desculpas públicos a Griffin, algo incomum.
Burck, que mora entre Nova York e os arredores de Washington, estudou Direito na Universidade de Yale antes de trabalhar como assistente do juiz Anthony Kennedy, da Suprema Corte. Também trabalhou na Casa Branca durante o governo de George W. Bush e, depois, se juntou ao escritório Quinn Emanuel. Ele ainda defendeu diversos réus em casos criminais, inclusive a FIFA, entidade máxima do futebol.
No primeiro governo Trump, representou aliados do presidente investigados no inquérito de Robert Mueller sobre a interferência russa nas eleições, incluindo Steve Bannon, Don McGahn e Reince Priebus.