Redatora na Exame
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 07h28.
Última atualização em 20 de janeiro de 2025 às 07h42.
O trabalho dos dirigentes do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, para controlar a inflação dos Estados Unidos pode se tornar bem mais desafiador a partir desta segunda-feira, 20 de janeiro, com a posse do presidente eleito Donald Trump.
Economistas apontam que algumas das promessas iniciais do novo governo — como a deportação em massa de imigrantes e a aplicação de tarifas alfandegárias a parceiros comerciais dos Estados Unidos — podem estimular a inflação do país.
Trump afirmou que irá implementar uma tarifa de pelo menos 20% sobre produtos canadenses e mexicanos, além de uma taxa de 60% sobre produtos chineses. Ele também ameaçou os países membros do Brics com uma taxação de 100% caso eles não se comprometam a não criar uma nova moeda ou apoiar outra em substituição ao dólar.
A incerteza para diferenciar o que serão medidas reais do novo governo das estratégias retóricas de Trump dificulta o trabalho dos dirigentes do Fed na definição da política monetária.
Dias após a eleição do ano passado, quando questionado sobre qual seria a resposta do Fed diante das propostas econômicas de Trump, Jerome Powell, presidente da instituição, disse que o banco central "não advinha, não especula e não presume”.
No entanto, o Fed precisa se preparar. De acordo com reportagem da CNN americana, centenas de economistas e pesquisadores têm trabalhado para ajudar o banco central a projetar os diferentes cenários possíveis.
Um esforço semelhante aconteceu em 2016. Na época, os especialistas criaram um modelo flexível que considerava os cortes de impostos prometidos por Trump ao longo da campanha. Conforme a Casa Branca divulgava novas informações e a tramitação dos projetos caminhava, as projeções eram alteradas.
O debate entre os economistas agora é se já valeria a pena começar a construir novos modelos. Em entrevista à CNBC na semana passada, Chris Waller, diretor do Fed, disse que é quase certo que os Estados Unidos irão impor mais tarifas alfandegárias e um maior controle imigratório. “O difícil é traduzir esse cenário em números projetados de inflação, desemprego e crescimento do PIB”, disse Waller.
Já Raphael Bostic, presidente da unidade do Federal Reserve de Atlanta, informou à imprensa americana que aconselhou sua equipe a esperar o máximo possível antes de fazer projeções do possível impacto de tarifas mais altas na economia. "Como temos recursos limitados, quero garantir que estamos dedicando a maior parte de nossa energia a coisas com maior probabilidade de se concretizarem", disse Bostic.
Alberto Musalem, presidente da unidade do Fed de Saint Louis, foi na direção oposta. Em entrevista à Bloomberg no mês passado, ele disse que a sua equipe já estava calculando como as diferentes configurações possíveis de tarifas alfandegárias podem afetar a economia.
O dilema foi pontuado na ata da reunião de dezembro de 2024 do Fed. “Dada a elevada incerteza sobre os detalhes do escopo e do cronograma de potenciais mudanças nas políticas comerciais, de imigração, fiscais e regulatórias, e seus possíveis efeitos sobre a economia, a equipe destacou a dificuldade de selecionar e avaliar a importância de tais fatores para a projeção base e apresentou uma série de cenários alternativos”, lê-se no documento.