Soldado de tropas ucranianas: expectativa de mais corredores humanitários nesta sexta-feira (Anastasia Vlasova/Getty Images)
Da redação, com agências
Publicado em 11 de março de 2022 às 07h37.
Última atualização em 11 de março de 2022 às 15h56.
Após dias com janelas conturbadas de cessar-fogo nas principais cidades ucranianas, os ataques de tropas russas se intensificam na madrugada desta sexta-feira, 11. A guerra na Ucrânia chega a mais de duas semanas, após os primeiros confrontos em 24 de fevereiro.
Ataques foram registrados no entorno de Kiev, onde a Rússia havia avançado pouco nos últimos dias mas tropas parecem estar se reagrupando para voltar a atacar a capital, segundo relatórios da inteligência do Reino Unido (veja abaixo).
Cidades no oeste do país, que nunca haviam sido atacadas, também foram alvo.
Em outra parte da Ucrânia, ao sul, uma cidade no entorno de Mariupol foi controlada pelos russos segundo uma agência estatal. Foram registrados ainda bombardeios em Kharkiv, no leste, segunda maior cidade ucraniana e uma das mais devastadas desde o início da guerra.
Também a partir de hoje, a Rússia informou que abrirá cinco corredores humanitários permitindo a passagem de civis, desde que registrados.
O governo da Ucrânia afirmou hoje que mais civis do que militares ucranianos foram mortos nas duas semanas de conflito.
As Nações Unidas (ONU) confirmavam até quinta-feira 549 civis mortos na guerra na Ucrânia, mas em meio à dificuldade de verificação, afirmaram que o número tende a ser maior. Só em Mariupol, o prefeito diz que foram mais de 1.300 mortos, número que ainda não pode ser verificado.
Moscou afirma que muitos dos corredores anteriores falharam porque a Ucrânia atrapalhou a evacuação, enquanto a Ucrânia acusa a Rússia de ter bombardeado civis em fuga, como no caso da família morta enquanto fugia em Irpin, nos arredores de Kiev, no último fim de semana.
O número de refugiados do conflito chegou a 2,5 milhões de pessoas, além de outras 2 milhões deslocadas internamente, segundo números atualizados nesta sexta-feira pela ONU.
A Rússia afirmou também hoje que há 16 mil voluntários do Oriente Médio prontos a vir lutar na Ucrânia.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que eles são bem-vindos e que estão dispostos a se juntar aos russos "não pelo dinheiro, mas para ajudar as pessoas vivendo em Donbas", citando as regiões separatistas ao leste onde havia uma guerra civil com a Ucrânia desde 2014.
A União Europeia concordou em reunião de líderes a conceder ajuda de € 1 bilhão (1 bilhão de euros) à Ucrânia em meio à guerra, segundo anunciado nesta sexta-feira, o dobro do valor atual.
O Congresso dos EUA também aprovou nas últimas horas, em meio a um plano de gastos de 1,5 trilhão de dólares, montante de 13,6 bilhões para a Ucrânia.
Na Europa, o Conselho Europeu também concordou em analisar o pedido da Ucrânia de ingressar na União Europeia, feito já após o início da guerra, em 28 de fevereiro.
Os líderes dos 27 membros estiveram reunidos até as primeiras horas de hoje no Palácio de Versalhes, na França, no primeiro de dois dias de encontro do bloco.
A decisão sobre a entrada da Ucrânia, no entanto, não foi pela chamada adesão "rápida", como queria o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Os pedidos de Geórgia e Moldávia também serão analisados.
“… without delay, we will further strengthen our bonds and deepen our partnership to support Ukraine in pursuing its European path”. #Ukraine️ #WeStandWithUkraine #EUCO https://t.co/tNsriqVPtK
— Charles Michel (@eucopresident) March 11, 2022
O Exército russo bombardeou nesta sexta-feira as cidades ucranianas de Dnipro (no centro do país), Lutsk e Ivano-Frankivsk (ambas a oeste). O bombardeio em Dnipro matou ao menos uma pessoa.
Segundo as informações disponíveis, foi a primeira vez que esses locais foram atacados na guerra.
As cidades a oeste, perto das fronteiras com a União Europeia e no lado oposto à fronteira com a Rússia, eram para onde muitos refugiados das cidades mais atacadas estavam se direcionando, longe dos principais fronts de guerra.
Mais próximo a Kiev, no norte do país, tropas russas se movimentam em uma tentativa de seguir cercando a capital.
O comboio de 60 quilômetros de tropas russas segue posicionado nos arredores da cidade. Após dias sem avanços e com problemas logísticos, imagens de satélite mostram que as tropas podem estar novamente em posição de ataque.
As tropas começam a se mexer em vilarejos próximos ao aeroporto de Antonov, em Gostomel, onde tem havido lutas desde o começo da guerra e o prefeito chegou a ser morto na semana passada.
A inteligência do Reino Unido afirma, segundo reportou o jornal britânico The Guardian, que novos ataques podem acontecer na capital, após dias de batalhas concentradas somente nos arredores e em outras partes do país.
Já no leste, em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, um hospital psiquiátrico foi bombardeado nesta madrugada, mas autoridades informaram horas depois que não houve vítimas.
"Todos os 30 funcionários e 330 pacientes estavam em um abrigo antibombas na hora do ataque", disseram as autoridades, segundo reportou a agência Reuters.
Pela segunda vez, o Instituto Kharkiv de Física e Tecnologia, que abriga um laboratório de pesquisas nucleares, foi atacado. O prédio já havia sido alvo nesta semana. Autoridades afirmam que não há riscos à população encontrados até o momento.
Enquanto isso, a cidade de Mariupol, no sudeste do país, segue um dos pontos humanitários mais críticos, com centenas de milhares de pessoas sem água e energia por longos períodos desde o início da guerra e chegando a "beber neve", segundo relatos das autoridades locais.
Após uma bomba destruir uma maternidade na cidade nesta semana, matando ao menos três pessoas, e a Ucrânia acusar a Rússia de desrespeitar um corredor humanitário para evacuar a região, os ataques continuaram nos últimos dias.
O governo ucraniano afirma que quase nenhum civil conseguiu deixar a cidade na quinta-feira, 10, e espera que um corredor humanitário seja respeitado hoje.
Nos arredores, no entanto, a agência de notícias russa RIA diz que separatistas russos controlam Volnovakha, entrada ao norte para o porto de Mariupol, o que deixaria a cidade cada vez mais cercada.
Mariupol é estratégica para as tropas russas porque fica no caminho entre a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, e as regiões separatistas de Donbas (Lunetsk e Lugansk), que vivem uma guerra civil com o governo central ucraniano desde 2014 e têm governos separatistas pró-Rússia.
*Esta matéria poderá ser atualizada com os novos desdobramentos da sexta-feira, 11. A última atualização foi feita às 15h56.