Mundo

Trégua entre Israel e Gaza põe fim a oito dias de violência

A cessação das hostilidades entrou em vigor às 21h locais (17h de Brasília) e, salvo alguns foguetes palestinos isolados, foi respeitado por ambas partes


	Homem carrega o corpo do menino palestino Abdelrahman Majdi Naim, morto em um ataque em Gaza, em 21 de novembro
 (Mohammed Abed/AFP)

Homem carrega o corpo do menino palestino Abdelrahman Majdi Naim, morto em um ataque em Gaza, em 21 de novembro (Mohammed Abed/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2012 às 20h39.

Jerusalém/Gaza - Após oito dias de derramamento de sangue, Israel e as milícias de Gaza terminaram nesta quarta-feira seus ataques mútuos em virtude de um cessar-fogo promovido pelo Egito que abriu passagem para uma grande celebração entre os palestinos.

A cessação das hostilidades entrou em vigor às 21h locais (17h de Brasília) e, salvo alguns foguetes palestinos isolados, foi respeitado por ambas partes, que se apressaram em declarar-se vencedoras da disputa.

Um retorno à calmaria que não poderá ser festejado pelos 162 palestinos, a maioria civis, mortos na operação 'Pilar Defensivo', lançada na quarta-feira da semana passada com o assassinato do líder do braço armado do Hamas, Ahmed Jaabari.

No lado israelense, quatro civis e um soldado perderam a vida pelo impacto de foguetes lançados da Faixa de Gaza.

Nos oito dias de violência, ambas partes lançaram o mesmo número de ataques, 1,5 mil, de bombardeios aéreos, marítimos e terrestres (no caso de Israel) e projéteis (no caso dos grupos armados de Gaza, principalmente o Hamas).

No plano político-militar, ambos se veem triunfantes, em contraste com o perfil discreto do grande derrotado do dia: o presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Abbas, que só controla a Cisjordânia e aposta na não-violência, foi irrelevante nesta crise, enquanto viu seu rival Hamas, movimento islamita considerado terrorista pelas principais potências ocidentais, se erigir como interlocutor indireto de Israel com uma posição negociadora firme.


Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, se rodeou de seus titulares das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, e de Defesa, Ehud Barak, para declarar perante a imprensa em Jerusalém um acrítico 'missão cumprida'.

Após reconhecer que havia cidadãos no país que pediam uma ofensiva mais dura em Gaza, Netanyahu assinalou que 'vale a pena dar uma oportunidade ao cessar-fogo para permitir à população civil que tenha uma vida normal', após ter 'destruído infraestruturas do Hamas' e 'milhares de foguetes' com 'o apoio da comunidade internacional'.

O primeiro-ministro ressaltou ainda que decidiu com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, 'atuar juntos para impedir o contrabando' a Gaza 'de armas que chegam do Irã' e entram através de centenas de túneis que conectam a Faixa com o Sinai egípcio.

É através destes condutos por onde presumivelmente entraram os primeiros foguetes Fajr-5, de fabricação iraniana, que depois caíram perto de Tel Aviv e Jerusalém, onde nos últimos dias soaram os alarmes antiaéreos pela primeira vez desde que em 1991 o então líder iraquiano, Saddam Hussein, lançou mísseis Scud contra o Estado judeu em represália pelo início da Guerra do Golfo.

Netanyahu reconheceu que 'a complexidade no Oriente Médio aumentou muito nos últimos anos' e por isso as circunstâncias exigem 'navegar com inteligência e com força, mas levando em conta as circunstâncias políticas', em referência às mudanças políticas originadas pela Primavera Árabe, como a chegada democrática ao poder no vizinho Egito da Irmandade Muçulmana.

Barak tomou a palavra depois para declarar que 'o Hamas e a Jihad Islâmica receberam um duro golpe' na ofensiva, que foi recebida com satisfação pela ONU e pela União Europeia (UE), entre outros atores internacionais.


'As Forças de Defesa de Israel conseguiram devolver a capacidade de dissuasão, minimizar o disparo de foguetes (...) reduzir os ataques contra a retaguarda e maximizar a capacidade de atingir o Hamas. Todos os objetivos foram alcançados', resumiu.

A sensação de triunfo nas altas esferas israelenses não se fez notar nas ruas, onde a operação contava com um altíssimo apoio popular (84% a favor, 12% contra) e não se registraram concentrações de celebração.

Pelo contrário, o prefeito de Ashdod, uma das cidades mais castigadas pelos projéteis palestinos, Yejiel Lasri, expressou seu descontentamento com a saída diplomática.

'Não é isto que esperávamos', lamentou Lasri, enquanto seu colega da ainda mais próxima a Gaza cidade de Ofakim, Zvika Greengold, previa um cessar-fogo 'apenas sobre o papel'.

Gaza, pelo contrário, recebeu a notícia com fervor. Seus moradores saíram às ruas, enquanto os alto-falantes das mesquitas proclamavam 'uma vitória'.

Jovens, crianças e adultos se aglomeraram no centro das cidades para aplaudir e gritar para festejar o retorno da calmaria, enquanto grupos de milicianos saíam de seus refúgios efetuando disparos ao ar.

Também na Cisjordânia, na cidade de Ramala ou na anexa Kalandia, foram lançados alguns fogos de artifício e os carros fizeram soar suas buzinas em sinal de alegria pelo acordo.

Acompanhe tudo sobre:Conflito árabe-israelenseIsraelOriente Médio

Mais de Mundo

Musk critica caças tripulados como o F-35 — e exalta uso de drones para guerras

Líder supremo do Irã pede sentença de morte contra Netanyahu

Hezbollah coloca Tel Aviv entre seus alvos em meio a negociações de cessar-fogo

Israel e Hezbollah estão a poucos dias de um cessar-fogo, diz embaixador israelense nos EUA