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Tragédia em Lisboa: pessoas de pelo menos 11 países estão entre as vítimas; brasileiro está na lista

Descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, deixou ao menos 16 mortos e 21 feridos; investigação apura falhas estruturais

Agência o Globo
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Publicado em 4 de setembro de 2025 às 12h19.

À medida que autoridades de Portugal tentam esclarecer o que levou ao descarrilamento do Elevador da Glória, uma das principais atrações turísticas de Lisboa, informações sobre as vítimas começam a ser confirmadas por fontes oficiais ao público. Entre os 16 mortos e 21 feridos no incidente, segundo o balanço atual da Proteção Civil portuguesa, há confirmação da identidade de uma das vítimas — um funcionário da empresa que opera o funicular — e de que uma família inteira foi afetada pela tragédia.

O Elevador da Glória descarrilou e tombou na quarta-feira. O Ministério Público de Portugal abriu um inquérito para investigar o acidente, que especialistas especulam que pode ter sido causado por um rompimento de um dos cabos de tração — hipótese que ainda não foi oficialmente confirmada. O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, prestou solidariedade às famílias afetadas e decretou um dia de luto oficial.

Autoridades confirmaram que entre os mortos e os feridos estão pessoas de ao menos 11 países, incluindo um brasileiro. Inicialmente o Itamaraty havia emitido uma nota, afirmando que não tinha confirmação sobre nenhum brasileiro no incidente. O cônsul brasileiro em Portugal, Alessandro Candeas, porém, confirmou nesta quinta que um cidadão brasileiro teria sofrido ferimentos leves, sendo liberado após receber atendimento.

Entre os mortos, um caso que vem provocando particular comoção entre os relatos da imprensa portuguesa é o de uma família alemã, formada por pai, mãe e filho. Uma fonte policial ouvida pelo jornal O Observador afirmou que o homem foi encontrado morto no local do acidente, e que a mulher foi socorrida com ferimentos graves, seguindo internada nesta quinta-feira. Junto aos pais estava uma criança de 3 anos, que sofreu apenas ferimentos leves, segundo a mesma fonte. A identidade da família não foi divulgada de forma oficial.

A única vítima identificada oficialmente até o momento foi o funcionário da empresa Carris, chamado André Jorge Gonçalves Marques. O cidadão português teve a morte confirmada inicialmente pelo sindicato de trabalhadores de transportes, o que posteriormente foi admitido pela empresa. Em um comunicado, a Carris afirmou que André "cumpriu seus deveres com excelência" por 15 anos, apontando-o como um funcionário "dedicado, bondoso e feliz". Também há confirmação de vítimas, entre mortos e feridos, de nacionalidade espanhola, coreana, cabo-verdiana, canadense, italiana, francesa, suíça e marroquina.

A investigação e a manutenção do veículo

A manutenção do veículo é realizada pela empresa privada Maintenance Engineering, contratada pela Carris em agosto de 2022, após licitação. O contrato, de quase € 1 milhão (o equivalente a R$ 6,3 milhões), previa assistência permanente e substituição periódica do cabo a cada 1.500 dias de uso ou durante reparações intermediárias. Trabalhadores da Carris já haviam denunciado deficiências no serviço terceirizado.

O acidente será investigado pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, órgão português responsável por relatórios técnicos sobre desastres. Segundo uma fonte ouvida pelo jornal Público, no entanto, a coleta de evidências no local só começará na quinta-feira, devido à escassez de pessoal. A Festa do Livro no Palácio de Belém, que iria acontecer entre quinta e o próximo domingo, foi cancelada.

Preocupações sobre a segurança do sistema de transporte

Inaugurado em 1885, o Elevador da Glória, que comporta até 43 passageiros — transportando anualmente mais de três milhões de passageiros — é também uma atração turística que recebe diariamente centenas de passageiros. É um dos três funiculares emblemáticos de Lisboa, ligando a Praça do Rossio às localidades do Bairro Alto e Príncipe Real.

O acidente, porém, deixa uma série de dúvidas sobre a segurança e a manutenção da infraestrutura centenária, considerada monumento nacional desde fevereiro de 2002. O último deles aconteceu em maio de 2018, quando uma falha grave de manutenção fez com que o veículo saísse dos trilhos, mas não houve vítimas. O serviço foi interrompido por um mês à época.

"Lisboa está de luto", disse Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que esteve no local. "É uma tragédia que nunca aconteceu na nossa cidade. O momento é de ação e ajudar. A única coisa que posso dizer é que é um dia muito trágico."

Relatos de testemunhas sobre o acidente

À SIC, Teresa d’Avó, que estava no local do acidente, conta que viu o momento em que o bonde passou “desenfreado” pela ladeira. Segundo ela, ele bateu com “uma força brutal” num prédio e se desfez.

"Foi com uma força muito grande, uma coisa impressionante. Não tinha qualquer tipo de freio", disse, contando que pedestres começaram a correr para o meio da avenida, “com medo”.

Uma brasileira, identificada apenas como Yasmin, que também estava próxima ao local, contou à CNN que usava o veículo todos os dias, mas optou por ir caminhando nesta quarta.

"Uso diariamente, tanto para subir, quanto para descer. Hoje, decidi descer andando. Quando saí em frente ao hotel, o elétrico já estava tombado, as pessoas gritando, muita gente no chão, já sem vida", disse a brasileira. "Muito sangue. Eu nunca vi isso. Provavelmente estava cheio. Turistas, portugueses, esse horário é bem cheio."

Após o acidente trágico, diversos líderes europeus prestaram condolências às vítimas. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que “os franceses juntam-se aos portugueses no luto”. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que seus “sentimentos estão com as famílias das vítimas”, enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, expressou “solidariedade com o povo português” e disse estar “profundamente abalado”.

Em nota, o governo brasileiro manifestou “sua solidariedade ao governo e ao povo de Portugal”. No texto, a chancelaria brasileira afirmou que o consulado-geral em Lisboa permanece à disposição para prestar assistência aos cidadãos brasileiros e familiares.

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