Iêmen: a OIM calcula que 55.000 migrantes chegaram ao Iêmen procedentes do Chifre da África desde o começo de 2017 (REUTERS/Stefano Rellandini/Reuters)
AFP
Publicado em 10 de agosto de 2017 às 16h33.
Cerca de 300 migrantes africanos foram jogados ao mar por traficantes de seres humanos nas últimas 24 horas, perto da costa do Iêmen - informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), que relata dezenas de mortos e desaparecidos.
Nesta quinta-feira, pelo menos cinco migrantes morreram e 50 desapareceram no mar em frente à província de Chabua (sul do Iêmen), no segundo episódio deste tipo desde quarta-feira, indicou a OIM.
De acordo com a mesma fonte, nesta quinta-feira os traficantes de seres humanos jogaram ao mar um total de 180 pessoas procedentes da Somália e Etiópia.
"Enviamos nossas equipes à área. Vinte e cinco passageiros do barco estão sendo atendidos na costa do Iêmen", declarou uma porta-voz da organização.
Na véspera, outros 120 migrantes dos mesmos países foram atirados ao mar perto da costa de Chabua, lembrou a OIM, que calcula 50 mortes, embora até agora tenham encontrado somente 29 corpos.
A OIM diz trabalhar com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) para enterrar os mortos e ajudar os sobreviventes.
Os migrantes procedentes do Chifre da África continuam se dirigindo ao Iêmen, pobre e devastado pela guerra, com a esperança de chegar aos países mais ricos do Golfo Pérsico, de acordo com a OIM.
"Os sobreviventes disseram aos nossos colegas na praia que os traficantes pediram que eles se jogassem ao mar depois de avistarem o que pareciam representantes das autoridades", explicou Laurent de Boeck, responsável da missão da OIM, ao falar sobre o ocorrido nesta quinta-feira.
"Também nos contaram que os traficantes retomaram o caminho até a Somália para continuar a mesma ação e levar mais migrantes ao Iêmen", acrescentou.
"É indignante e desumano. O sofrimento dos migrantes nesta rota é imenso. Muitos jovens pagam os traficantes com a esperança de ter uma vida melhor", acrescentou o responsável, que considerou que a média de idade dos migrantes é de 16 anos.
O tráfico de seres humanos entre a Somália, onde a autoridade do Estado é quase nula, e o Iêmen, que sofre uma situação similar, nunca parou.
A OIM calcula que 55.000 migrantes chegaram ao Iêmen procedentes do Chifre da África desde o começo de 2017. Mais de 30.000 destes novos migrantes têm menos de 18 anos.
A OIM se surpreendeu ao ver que o tráfico de migrantes continua apesar dos fortes ventos que atingem o Oceano Índico nesta temporada.
No Iêmen, onde rebeldes xiitas huthis, apoiados pelo Irã, enfrentam as forças do governo pró-Arábia Saudita há três anos, há inúmeros acampamentos onde milhares de migrantes africanos se aglomeram.
A guerra deixou cerca de 8.400 mortos e 48.000 feridos desde a intervenção, em março de 2015, da coalizão árabe liderada pela Arábia Saudita, em apoio às forças do governo, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A ONU assegura que o Iêmen, onde uma epidemia de cólera deixou mais de 1.900 mortos, é cenário da "maior crise humanitária no mundo".
Alguns migrantes africanos foram, inclusive, vítimas diretas do conflito. Em março, um helicóptero disparou contra um barco de somalis em frente à costa do país, matando 42 pessoas. Segundo um relatório confidencial da ONU, o veículo pertencia à coalizão liderada por Riad.
A embarcação atacada transportava 140 pessoas, detalhou a ONU, que denunciou uma violação ao direito humanitário internacional.