Villavicencio: candidato foi assassinado 11 dias antes das eleições no Equador: (Ernesto Benavides/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 25 de setembro de 2023 às 14h56.
De dentro da prisão, um dos criminosos mais perigosos do Equador, José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito — acusado de ordenar o assassinato brutal do candidato Fernando Villavivencio — desafiou o sistema e divulgou um vídeo para demonstrar seu poder sobre o Estado que não conseguiu mantê-lo nem por um mês na prisão de segurança máxima La Roca.
Em agosto, Fito foi transferido do Centro de Privação da Liberdade Regional Número 8 de Guayaquil, para a La Roca, em uma megaoperação da qual participaram 4 mil policiais e soldados. Mas o confinamento na prisão de segurança máxima durou pouco e agora ele está de volta à sua cadeia favorita. Para celebrar a transferência, o clipe foi divulgado na semana passada.
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"El Corrido del León", é interpretado pela dupla Mariachi Bravo e Queen Michelle, filha de Fito, e foi gravado em três ambientes: um bar, um campo com cavalos e a prisão regional onde Fito cumpre pena de 34 anos por homicídio, tráfico de drogas, crime organizado, roubo e porte de armas.
“Ele é o patrão e o patrão, senhores, é Adolfo Macías Villamar”, diz um trecho do clipe.
Após a divulgação do vídeo, o órgão responsável pelo sistema prisional do Equador afirmou, em nota, que “não foi autorizada a entrada de equipamentos de gravação ou produtoras audiovisuais no estabelecimento prisional”, razão pela qual reconheceu que as imagens “poderiam ter sido obtidas a partir de alguns equipamentos introduzidos ilegalmente”.
Para Fernando Carrión, analista de segurança, o vídeo é uma tentativa de “demonstrar vitória” e força do Los Choneros:
— A letra tenta legitimar Fito como alguém que pode liderar uma pacificação entre todas as quadrilhas criminosas que proliferam no país.
O líder do Los Choneros tenta assim apagar a imagem do criminoso subjugado que muitos equatorianos viram com espanto no dia de sua transferência para o presídio de segurança máxima. E também tenta se esquivar das acusações de possível autoria intelectual do crime. Dias antes de morrer, Villavicencio havia denunciado ameaças de Fito.
E escolheu um corrido mexicano [gênero musical usado por traficantesdaquele país], o que para Carrión, tem como objetivo de “marcar a relação e o vínculo que Los Choneros com o cartel de Sinaloa”.
“Ele tem muito amor pela família / e pelos amigos, nem se fala / por eles daria a vida / muito mais se lhe demonstrassem lealdade”, afirmam outros versos. “Fito é chapa, senhores / é o chefe dos patrões / é o líder dos Los Choneros.”
Os corridos são uma parte importante da história musical do México. Eles nasceram no século XIX, durante a Revolução Mexicana, e neles eram contados os feitos dos heróis. Com o tempo, passaram a ser utilizados pelos traficantes.
— Ao longo do tempo, os corridos reivindicaram o conflito, uma ruptura do establishment, e isso é assumido pelos traficantes para propor uma ruptura, mas desta vez contra todo o sistema com o qual se confrontam — acrescenta o analista. — Neste caso é contra o governo e principalmente contra um sistema prisional que tem sido permeado por gangues criminosas.
“Com muita inteligência / ele decidiu se aposentar e ganhar grandes quantias de dinheiro”, diz a letra da música que também descreve as quantidades de drogas, a corrupção no sistema de Justiça e os locais para onde as drogas eram levadas. “Em Manabí, Santa Elena / e parte de Los Ríos / é onde operei / e me movi sem barulho / nos pequenos aviões mandei os quilos / da Colômbia e do Equador para Sinaloa mandei suas encomendas.”