Mundo

Titanic: após implosão de Titan, outra empresa quer expedição aos destroços; EUA tenta impedir

A expedição está sendo organizada pela RMS Titanic Inc., uma empresa do Estado de Georgia

Desafio do governo ocorre depois que o submersível Titan implodiu perto do transatlântico afundado, matando cinco pessoas (AFP/AFP)

Desafio do governo ocorre depois que o submersível Titan implodiu perto do transatlântico afundado, matando cinco pessoas (AFP/AFP)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 31 de agosto de 2023 às 11h58.

Última atualização em 31 de agosto de 2023 às 12h00.

O governo dos Estados Unidos está tentando impedir uma expedição planejada para recuperar itens de interesse histórico do Titanic citando uma lei federal e um acordo internacional de que trata o naufrágio como um túmulo sagrado.

A expedição está sendo organizada pela RMS Titanic Inc., uma empresa do Estado de Georgia (EUA) que detém os direitos de salvamento do naufrágio mais famoso do mundo. A empresa expõe artefatos recuperados do local do naufrágio no fundo do Atlântico Norte, desde prataria até um pedaço do casco do Titanic.

O desafio do governo ocorre depois que o submersível Titan implodiu perto do transatlântico afundado, matando cinco pessoas. Mas essa briga jurídica não tem nada a ver com a tragédia de junho, que envolveu uma empresa diferente e uma embarcação de um design pouco convencional.

Impedimento dos Estados Unidos

Os EUA argumentam que entrar nos destroços do Titanic - ou fisicamente alterar ou perturbar os destroços - é regulado por uma lei federal e por seu acordo com a ilha britânica. Entre as preocupações do governo, está a possível perturbação dos artefatos ou de qualquer resto humano que ainda possam existir no local.

"A RMST não é livre para desconsiderar essa lei federal validamente promulgada, mas essa é sua intenção declarada", argumentaram advogados norte-americanos em documentos judiciais apresentados na sexta-feira passada, dia 25. Acrescentaram que o naufrágio "será privado das proteções que o Congresso lhe concedeu".

A expedição da RMST está prevista para maio de 2024, de acordo com o relatório apresentado ao tribunal em junho. A empresa diz que pretende capturar imagens de todos os destroços. Isso inclui "dentro da carcaça onde a deterioração abriu abismos suficientes para permitir que um veículo operado remotamente penetre no casco sem interferir na estrutura atual".

A RMST disse que iria recuperar artefatos do campo de destroços e "poderia recuperar objetos soltos dentro dos destroços". Isso poderia incluir "objetos de dentro da sala Marconi, mas apenas se esses objetos não estivessem afixados nos destroços ou entre eles mesmos".

A sala Marconi guarda o rádio do navio - um telégrafo sem fio Marconi - que transmitia os sinais de socorro cada vez mais frenéticos depois que o transatlântico colidiu com um iceberg. As mensagens em código Morse foram captadas por outros navios e estações de receptação em terra, ajudando a salvar as vidas de cerca de 700 pessoas que fugiram em botes salva-vidas. Havia 2 208 passageiros e os tripulantes na viagem inaugural da embarcação, de Southampton, Inglaterra, para New York.

"Neste momento, a empresa não pretende cortar os destroços ou deteriorar qualquer parte deles", RMST disse em comunicado. A empresa afirmou que iria "trabalhar de forma colaborativa" com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, a agência dos EUA que representa o interesse público nos destroços. Entretanto, a RMST disse que não pretende solicitar autorização.

Advogados do governo dos EUA disseram que a empresa não pode prosseguir sem uma autorização, argumentando que a RMST precisa da aprovação do Secretário de Comércio dos EUA, que supervisiona a NOAA.

A empresa não apresentou resposta na Justiça. Mas em casos anteriores, desafiou a constitucionalidade dos esforços dos EUA para "infringir" os seus direitos de salvamento de um naufrágio em águas internacionais. A empresa argumentou que apenas o tribunal de Norfolk tem jurisdição e aponta séculos de precedentes no direito marítimo.

A companhia reiterou esse posicionamento em um comunicado para a Associated Press na terça-feira, 29, observando que o tribunal concedeu seus direitos de salvamento três décadas atrás. Desde então, a empresa disse que já recuperou e conservou milhares de artefatos do Titanic, os quais milhões de pessoas já viram. "A empresa irá continuar com seu trabalho, respeitosamente preservando a memória e o legado do Titanic, de seus passageiros e da tripulação para as futuras gerações", a RMST disse.

Em 2020, o governo dos EUA e a RMST travaram uma batalha legal quase idêntica sobre uma expedição proposta que poderia ter destruído os destroços. Mas os procedimentos foram interrompidos pela pandemia do coronavírus e nunca foram totalmente concluídos.

O plano da empresa era então recuperar o rádio, que fica em uma pavimento perto da grande escadaria. Um submersível desenroscado passaria por uma claraboia ou cortaria o telhado fortemente corroído. Uma "draga de sucção" removeria o lodo solto, enquanto os braços manipuladores poderiam cortar os cabos elétricos. A empresa disse que exibiria o rádio junto com histórias de homens que emitiram pedidos de socorro "até que a água do mar estivesse literalmente batendo em seus pés".

Em maio de 2020, a juíza distrital dos EU, Rebecca Beach Smith deu permissão à RMST, escrevendo que o rádio é histórico e culturalmente importante e em breve poderá ser perdido pela decadência. Smith escreveu que a recuperação do telégrafo "contribuiria para o legado deixado pela perda indelével do Titanic, daqueles que sobreviveram e daqueles que deram suas vidas no naufrágio".

Algumas semanas depois, o governo dos EUA apresentou uma contestação legal oficial contra a expedição de 2020, o que nunca aconteceu. A empresa adiou indefinidamente os seus planos no início de 2021 devido a complicações provocadas pela pandemia./Associated Press.

A batalha entre o Tribunal Distrital dos EUA em Norfolk, Virgínia, que supervisiona as questões de salvamento do Titanic, depende, em vez disso, de um pacto com o Reino Unido para tratar o Titanic como um memorial para as mais de 1,5 mil pessoas que morreram no naufrágio. O navio bateu em um iceberg e afundou em 1912.

Fique por dentro das últimas notícias no Telegram da Exame. Inscreva-se gratuitamente

Acompanhe tudo sobre:SubmarinosNavios

Mais de Mundo

Brasil está confiante de que Trump respeitará acordos firmados na cúpula do G20

Controle do Congresso dos EUA continua no ar três dias depois das eleições

China reforça internacionalização de eletrodomésticos para crescimento global do setor

Xiaomi SU7 atinge recorde de vendas em outubro e lidera mercado de carros elétricos