Empresário isralense Omer Bloch foi vítima da escapolamina em Medellín, Colômbia (AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 23 de janeiro de 2024 às 13h37.
A única coisa da qual o israelense Omer Bloch se lembra de um encontro marcado pelo Tinder na cidade colombiana de Medellín é que a mulher era "bonita" e usou uma potente droga para roubá-lo e apagar sua memória.
Depois do jantar, Bloch voltou para casa com sua acompanhante e abriu uma cerveja. Ele acordou no dia seguinte, ao meio-dia, sem seus pertences.
"Foi difícil me levantar da cama. Era como se eu estivesse bêbado. Fui até minha mesa e notei que meu iPad não estava (...), também levaram minha carteira e meus cartões de crédito. Pelo menos deixaram meu computador", diz o empresário de 28 anos em uma entrevista à AFP, ao relembrar o que aconteceu no final de 2021.
De acordo com um exame médico, sua memória foi apagada com escopolamina, uma droga que assombra os turistas em uma cidade que superou a violência do narcotráfico dos anos 1990, mas onde persistem outras organizações criminosas, como a do tráfico sexual.
Com 2,6 milhões de habitantes, Medellín é a segunda maior cidade da Colômbia, o maior produtor de cocaína do mundo. Atraídos pelo reggaeton, clima primaveril e vida noturna agitada, agora é também um dos principais destinos da América Latina.
As mortes "suspeitas" de oito americanos em Medellín entre novembro e dezembro de 2023 levaram a embaixada dos EUA a recomendar aos seus cidadãos que evitem o uso de aplicativos de encontros na Colômbia.
"As circunstâncias apontam para um possível uso de drogas, roubo e overdose. Vários casos envolvem o uso de aplicativos de encontros", detalha a missão diplomática em seu alerta de janeiro.
Em um dos episódios mais notórios, o comediante e ativista americano Tou Ger Xiong foi sequestrado e encontrado morto em 11 de dezembro, depois de se encontrar com uma mulher que conheceu pela Internet.
"Facilmente poderia ter sido eu", diz Bloch, que continua morando em Medellín, apesar do roubo.
Torres residenciais luxuosas se erguem nas avenidas íngremes de El Poblado, o bairro favorito de estrangeiros como Bloch.
"Achava que fosse apenas mais uma garota, apenas mais um encontro", lamenta o "nômade digital", ou empreendedor remoto que trabalha enquanto viaja.
O número de estrangeiros que visitam Medellín aumentou de 212.000, em 2015, para 1,4 milhão, em 2022.
Mas as mortes violentas "aumentam à medida que aumenta o número de visitantes", diz William Vivas, defensor dos direitos humanos da prefeitura local.
A entidade registrou 32 vítimas estrangeiras em 2023, um aumento de 7% em relação ao ano anterior. O Ministério Público atendeu 82 casos de estrangeiros vítimas de "roubo por meio de substância tóxica" em 2022.
No dia seguinte ao seu encontro malsucedido, Bloch acordou com uma forte dor de cabeça. "Só me lembro de me aproximar do pescoço dela para beijá-la e depois... Clic!, acordei", relata.
Amigos de Bloch levaram-no para um hospital, onde foram detectados traços de escopolamina. A substância é extraída da árvore Brugmansia, conhecida como "borrachero" por seus efeitos psicotrópicos.
A substância é proibida na Colômbia, mas "a planta tem uma distribuição muito ampla em todo o território", inclusive em áreas urbanas, explica Diana Pava, toxicologista do grupo de pesquisa em substâncias psicoativas da Universidade Nacional.
Os criminosos extraem a escopolamina das sementes negras dos frutos e a diluem secretamente nas bebidas das vítimas.
"Há pessoas que podem sentir sonolência (ao consumi-la). Outras podem ter amnésia (...). Também há taquicardia, hipertensão e convulsões", alerta Pava.
Em doses altas e combinada com álcool, pode ser letal. Além disso, Pava adverte que é incomum detectar a escopolamina, pois o corpo a elimina rapidamente.
Berço do falecido chefe do tráfico de cocaína Pablo Escobar, Medellín vive um aumento da prostituição, que é legal na Colômbia, e que acompanha o "boom" turístico.
À noite, as calçadas comerciais se transformam em um mercado de sexo ao ar livre com dezenas de mulheres oferecendo seus serviços, especialmente para estrangeiros.
"Nós nos posicionamos como um lugar muito 'cool' (mas) também vendemos" Medellín "como um lugar de muita permissividade", afirma Jazmín Santa, membro da Mesa contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes.
Após ser liberado, Bloch compartilhou sua história nas redes sociais e ficou surpreso ao encontrar pouca solidariedade dos locais. Da mesma forma, quando incidentes dessempresário isralense Omer Bloch conta sua experiência como vítima da escapolamina em Medellín, Colômbiae tipo chegam à imprensa, há muitos comentários de pessoas que consideram os roubos uma espécie de castigo "merecido" para estrangeiros que participam do turismo sexual.
Com um jogo de palavras entre sexo e "expat" (expatriados em inglês), Bloch descreve como "sexpats" aqueles que "vêm aqui apenas procurando festa, diversão e sexo".
"Concordo com os locais: há gringos (estrangeiros) que são pedaços de m... e se aproveitam das mulheres. Mas o que acontece quando são os caras bons que caem na escopolamina?", questiona o empresário.