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Terrorista fala como era a vida na Al-Qaeda: "uma chatice inacreditável"

"Vivíamos em casas de tapume, a comida era ruim. Os árabes ricos podiam comprar cabras, ovelhas, frangos, mas isso foi o auge do exotismo", disse Viñas

Paquistão: Em outubro de 2008, cansado da "chatice", o terrorista voltou ao Paquistão para tentar encontrar uma esposa em Peshawar (John Moore/Getty Images)

Paquistão: Em outubro de 2008, cansado da "chatice", o terrorista voltou ao Paquistão para tentar encontrar uma esposa em Peshawar (John Moore/Getty Images)

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AFP

Publicado em 18 de setembro de 2018 às 16h45.

Bryant Neal Viñas, de origem hispânica e o primeiro americano a se unir às fileiras da Al-Qaeda após o 11 de setembro de 2001, se expressou pela primeira vez sobre a sua antiga vida de "terrorista", que definiu como uma "chatice inacreditável".

Detido no Paquistão, julgado nos Estados Unidos e recentemente libertado, Neal Viñas reservou a sua primeira entrevista para a CTC Sentinel, revista mensal do Centro de Luta contra o Terrorismo da Academia Militar americana.

"Era de uma chatice inacreditável", afirma sobre a vida nos campos de treinamento da Al-Qaeda, na região paquistanesa-afegã.

"Há dias em que não se faz absolutamente nada. A maioria dos caras da Al-Qaeda se queixa, sobretudo, da inatividade. Havia poucas operações e, inclusive, quando havia, não eram grande coisa".

"Vivíamos em casas de tapume, a comida era ruim", afirma. "Arroz, sopa de batata, sopa de quiabo. Os árabes ricos podiam comprar cabras, ovelhas, frangos, mas isso foi o auge do exotismo".

Neal Viñas, que cresceu em Long Island (Nova York), se alistou no Exército americano logo após os atentados de 11 de setembro. Mas foi expulso semanas depois por "fracassar na adaptação à vida militar".

Realizou pequenos trabalhos antes de um amigo iniciá-lo ao Islã. Ele se converteu, ouviu sermões antiamericanos do clérigo americano-iemenita Anwar al-Awlaki e decidiu se unir, na região paquistanesa-afegã, a um grupo combatente sunita.

Sua trajetória, analisada de perto pelos serviços de Inteligência americanos com os quais coopera plenamente desde a sua prisão no Paquistão em 2008, revela até que ponto o destino desempenha um papel determinante.

Devido a encontros fortuitos, em mesquitas ou escolas corânicas, passou de um grupo para outro, conheceu membros importantes da rede fundada por Osama bin Laden, sem saber quem eram realmente, até acabar em um grupo, sobre o qual soube dias depois, que se tratava da Al-Qaeda.

"Nunca tive que me submeter a rituais ou exames para ser admitido", afirmou. "Bastava que alguém se oferecesse como meu avalista. No meu caso era Haji Sabr, um velho tunisiano".

Com um dirigente de alto escalão da Al-Qaeda, falou de um complô contra um trem regional em Long Island, mas se negou a participar. "Que eu saiba, esse ataque nunca chegou a ser organizado".

Em outubro de 2008, cansado da "chatice", voltou ao Paquistão para "tentar encontrar uma esposa em Peshawar".

Foi detido pela polícia paquistanesa, que, por fim, o entregou aos Estados Unidos.

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