Usina de Chernobyl: na Ucrânia, 2,3 milhões de pessoas foram afetadas pela radiação (Sergei Supinsky/AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2011 às 09h01.
Kiev - O risco de um colapso nuclear provocado pelo terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão na última sexta-feira trouxe à tona o pesadelo de Chernobyl, apesar de especialistas garantirem que o desastre ucraniano não se repetirá em solo japonês.
Para tornar tudo ainda mais macabro, as explosões que estremeceram os reatores da central nuclear de Fukushima depois do tremor de magnitude 8,9 ocorrem pouco antes do aniversário de 25 anos da catástrofe de Chernobyl, o pior acidente nuclear da história, registrado em 26 de abril de 1986.
Para o jornal ucraniano Segodnya, que estampou "O Chernobyl Japonês" em sua manchete de capa, o colapso da central japonesa é uma questão de tempo. "Um segundo Chernobyl começou no Japão", afirma por sua vez a Gazeta po-Kievski, citando um físico alemão.
A hecatombe nuclear de Chernobyl, cujos efeitos persistem até os dias de hoje, ainda é uma ferida aberta na Ucrânia. De acordo com os números oficiais, 2,3 milhões de pessoas foram afetadas pelo colapso do reator da central nuclear.
Além disso, a catástrofe deixou um legado de contaminação na região ocidental da Rússia e Belarus, onde florestas ainda acusam altíssimos níveis de radiação passadas duas décadas do fim da União Soviética.
A edição ucraniana do diário Komsomolskaya Pravda publicou uma entrevista com o cientista atômico Ilgiz Iskhakov, um dos milhares de chamados "liquidadores" que trabalharam em condições precárias para limpar o estrago provocado pelo colapso do reator de Chernobyl.
Iskhakov contou que ele e seus colegas não conseguem desgrudar do noticiário nos últimos dias, acompanhando em tempo real a situação no Japão.
O cientista, entretanto, pondera com alívio que o mundo fez seu dever de casa desde 26 de abril de 1986.
"As lições de Chernobyl fizeram com que a comunidade nuclear começasse a se preparar com mais cuidado para situações improváveis", declarou ao jornal.
Albert Vasiliyev, diretor do centro de segurança ecológica da agência nuclear russa (Rosatom), disse à AFP que comparar Japão e Ucrânia é completamente equivocado.
Em Chernobyl, explicou, o que aconteceu foi uma explosão total no reator 4, provocada por falha humana durante um procedimento de teste. O caso japonês é bem diferente, principalmente porque as explosões em Fukushima não foram atômicas.
"Não tem nada a ver com Chernobyl, e em termos de escala também é incomparável", insistiu.
"Em Chernobyl, o reator foi levado a uma situação de emergência por falha humana. Mas em Fukushima não houve e nem deve haver uma explosão do reator".
Iskhakov também elogiou as autoridades japonesas por divulgarem informações rápidas sobre a extensão dos riscos, em contraste com a nebulosa União Soviética, que manteve o sigilo sobre o acidente de Chernobyl durante dias.
"O governo japonês começou a trabalhar com muita eficiência desde o primeiro minuto. O ponto principal é que eles informam as pessoas sobre o que aconteceu e o nível de segurança. Eles não acham que as pessoas são idiotas", estimou.
Segundo este especialista, em Chernobyl houve uma explosão nuclear "na qual o reator foi destruído", enquanto Fukushima "é melhor classificada como um incidente radioativo".
Para Valeriy Glygalo, diretor do Centro Chernobyl para a Segurança Nuclear, citado pela agência Interfax Ucrânia, o estado da central energética de Fukushima não pode ser comparada sob nenhum aspecto com a usina de Chernobyl.
"Os reatores japoneses são de um tipo moderno, e projetados para área sujeitas a terremotos - apesar do que aconteceu ter excedido as normas vigentes. Não deve haver consequências sérias como as de Chernobyl", afirmou.