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Tensões com a Rússia alimentam o patriotismo na Ucrânia

Meses após tragédia que terminou com 48 mortes, o patriotismo parece mais forte do que nunca na região de Odessa, na Ucrânia


	Guardas ucranianos na fronteira do país com a Moldávia, perto de Odessa
 (Yevgeny Volokin/Reuters)

Guardas ucranianos na fronteira do país com a Moldávia, perto de Odessa (Yevgeny Volokin/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2014 às 09h19.

Odessa - Quatro meses depois da tragédia de Odessa, quando uma manifestação a favor da unidade da Ucrânia terminou com a morte de 48 pessoas vinculadas ao movimento pró-Rússia, o patriotismo parece mais forte do que nunca nesta região, historicamente influenciada pela Rússia.

"A Rússia, com suas ações, provocou um renascimento do patriotismo nos ucranianos", confirmou o governador de Odessa, Igor Palytsia, a um grupo de jornalistas estrangeiros na sede da administração regional.

"Vimos como o povo se posicionou, antes de tudo, do lado da Ucrânia. Se há algo bom que (o presidente russo, Vladimir) Putin conseguiu, foi unir a população", acrescentou o político.

Palytsia iniciou seu mandato três dias depois da tragédia ocorrida no último dia 2 de maio, quando uma manifestação de milhares de pessoas a favor da unidade do país foi atacada por militantes pró-Rússia que terminaram fechados em uma sede sindical onde atearam fogo, deixando, além dos 48 mortos, 200 feridos.

A opinião de Palytsia, que escalou posições na política sob a asa protetora do oligarca ucraniano e governador de Dnipropetrovsk, Igor Kolomoyskyi, é compartilhada por cidadãos dos mais diversos horizontes, mas que têm em comum o russo como sua primeira língua.

"Odessa sempre foi uma cidade internacional, nos achávamos quase independentes, como Mônaco, mas a política agressiva de Putin fez com que nos sentíssemos mais ucranianos do que nunca", disse Svetlana Sivkova, proprietária de um restaurante italiano no coração comercial da cidade.

Sivkova assegurou que não idealiza o governo do atual presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, mas que o apoia em sua decisão de acabar com a guerra, apesar de que para isso seja preciso fazer concessões às regiões de Lugansk e Donestk, coração da insurreição separatista pró-Rússia.

Após o acordo de cessar-fogo alcançado há cerca de um mês, o governo ucraniano aceitou, em um segundo rodízio de negociações, conceder às regiões de Lugansk e Donestk um grau de autonomia da qual não goza nenhuma outra região no país.

"O patriotismo cresceu muito. Várias das pessoas com as quais trabalho são de nacionalidade russa, mas elas não duvidaram em participar de coletas de dinheiro, de roupa e outros artigos básicos para os hospitais onde estão os soldados feridos no leste", declarou Tatiana Korpusova, especialista em numismática no Museu Etnógrafico de Odessa.

Por sua vez, a responsável das visitas turísticas à famosa Ópera de Odessa, Emilia Botovkina, lembrou que antes dos eventos de 2 de maio, "muitos amigos pensavam que nossa região necessitava se aproximar mais da Rússia, mas após a grande agressão que sofremos, achamos que a Rússia só quer nos usar em seu conflito com Ucrânia".

Uma parte da população de Odessa, a terceira cidade mais importante da Ucrânia com um milhão de habitantes, considera que uma das razões pelas quais podem estar em risco é sua proximidade com Transtinia, uma área pró-russa separatista da Moldávia localizada a apenas 70 quilômetros de distância.

Em alguns habitantes de Odessa esse temor é muito concreto, como sente Irina Shershun, que acredita que a Rússia pode, em algum momento, tentar controlar Odessa por se encontrar "na zona de passagem" rumo a Transtinia, cidade de seu marido.

"Se ninguém entende qual é o interesse que a Rússia pode ter em Lugansk e Donestk depois de ter ficado com a Crimeia, então por que não teria estas mesmas intenções com Odessa?", perguntou a negociante.

A perplexidade se transformou assim em um sentimento corrente entre os ucranianos, que não compreendem as razões que provocaram o conflito na região oriental de seu país e que está afetando a economia nacional cada vez mais.

"Não havia motivos para o que fizeram, todos falamos russo, ninguém nos proíbe e os que dizem o contrário estão mentindo. E esta liberdade na Rússia não existe", afirmou Regina Butrimova, que trabalha na instalação de pequenos negócios.

Na hora de escolher entre a Rússia de seus pais e avôs - cuja língua usam em sua vida diária e sob a qual cresceram culturalmente, através de sua literatura, sua música e seu cinema- e a Ucrânia na qual nasceram ou à qual emigraram, a maioria dos habitantes de Odessa parece ter optado claramente pela segunda.

Ninguém nega, no entanto, que persiste uma minoria pró-russa, mas que esta - em vista das tensões atuais e do ocorrido em 2 de maio - prefere hoje se manter muito discreta e guardar suas opiniões.

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